Champanhe, charutos e influência: as acusações contra o premiê de Israel
Acusações pintam um retrato sórdido de Benjamin Netanyahu: um homem que teria abusado do poder por presentes caros
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 16 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Escolhido a dedo por Benjamin Netanyahu, trabalhou lado a lado com ele por anos e foi criado com base nas filosofias nacionalistas que respaldam a visão de mundo do primeiro-ministro. Agora, o protegido se transformou em possível adversário e tem o destino do primeiro-ministro de Israel nas mãos.
Neste mês, o procurador-geral Avihai Mandelblit deverá anunciar se pretende indiciar Netanyahu em uma série de casos de corrupção que levantaram questionamentos dolorosos sobre a situação da política israelense e o futuro de um país profundamente dividido.
Há muito em jogo porque existe o potencial de acabar com a carreira política de um homem que comanda Israel há 13 anos e que busca o quinto mandato na eleição de 9 de abril. Apesar de todos os primeiros-ministros de Israel dos últimos 20 anos terem sido investigados, nenhum líder foi acusado enquanto estava no poder.
“Estamos entrando em território desconhecido”, disse Yuval Shany, vice-presidente de pesquisa do Israel Democracy Institute. “O que está em questão é se o primeiro-ministro será tratado como cidadão comum.”
Champanhe, charutos e influência
As acusações contra Bibi, como o líder israelense é conhecido, pintam um retrato sórdido de um homem que abusou do poder para receber presentes caros, como champanhe, charutos e joias, e que mostrou propensão a distorcer leis e regulamentos em favor de figuras da imprensa que pudessem fazer uma cobertura simpática. Tudo isso são mentiras, diz Netanyahu, que prometeu permanecer no cargo mesmo se indiciado.
Segundo a legislação, Netanyahu pode permanecer no poder mesmo se condenado, até esgotar todas as possibilidades de recurso, segundo o professor de direito público da Universidade Hebraica Yoav Dotan. Se vai sobreviver politicamente ao escândalo, essa é outra questão.
Até o momento, as acusações de corrupção não custaram apoio político a Netanyahu e as pesquisas mostram que ele está a caminho de ganhar a eleição, formar o próximo governo e se tornar o mais longevo primeiro-ministro de Israel. Mas o sentimento do eleitor pode mudar e os atuais parceiros de coalizão podem preferir não participar do governo se Mandelblit tomar uma decisão contra ele.
Jeremy Saltan, consultor político independente e organizador de pesquisas de opinião, não prevê mudança no apoio dos eleitores porque os ataques de Bibi contra a imprensa e o sistema judiciário têm o apoio de muita gente.
“A verdade é que a maioria das pessoas não dá a mínima”, disse.
Mueller de Israel
Assim como Robert Mueller, que investiga amplas acusações contra Donald Trump, Mandelblit, com sua fala mansa, sentiu a fúria de um homem que ataca repetida e agressivamente seus investigadores. Netanyahu acusou Mandelblit, de 55 anos, policiais e promotores que o antecederam de servirem de ferramenta em uma trama esquerdista para tirá-lo do cargo.
Judeu ortodoxo criado em família secular fiel ao precursor do partido Likud, de Netanyahu, Mandelblit passou a maior parte da carreira no departamento jurídico do Exército, do qual acabou sendo o advogado-geral. Em 2013, ele entrou no governo como secretário de gabinete de Netanyahu.
Em 2016, um ano depois de Mandelblit concluir seu doutorado em “Lawfare and the State of Israel”, Netanyahu o nomeou procurador-geral.