Mundo

Centro Carter diz que dados mostram vitória clara de candidato da oposição na Venezuela

Organização atuou como um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral venezuelano e disse que resultados apresentados por opositores são 'consistentes'

Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas eleições na Venezuela (Ronald PEÑA/AFP)

Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas eleições na Venezuela (Ronald PEÑA/AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 8 de agosto de 2024 às 19h29.

Última atualização em 9 de agosto de 2024 às 06h36.

Tudo sobreVenezuela
Saiba mais

O Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral na Venezuela, disse nesta quinta-feira que as atas eleitorais coletadas pela oposição são "consistentes". À Folha, o órgão afirmou que o candidato opositor, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível".

A organização também declarou que os resultados apresentado pelos opositores consistem com uma pequena amostra de dados coletados por seus observadores em campo no dia da votação. Com isso, o Centro Carter garantiu que "não há dúvidas" da vitória real da oposição. Em depoimento à Folha, o órgão disse que o Poder Eleitoral na Venezuela não é imparcial e não agiu de maneira independente.

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas — incluindo o Centro Carter, que, na segunda-feira passada, pediu ao CNE que publicasse "imediatamente" as atas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos "com total transparência" e a liderança política a agir "com moderação".

Sete países europeus, incluindo a Espanha, uniram-se aos EUA, Noruega, Colômbia, México, Brasil e outros que exigem do chavismo a divulgação pública das atas oficiais de todas as mesas de votação. As divergências entre o governo venezuelano e a oposição desataram alguns dias de protestos no país, que estimularam uma repressão que deixou estimados entre mil e 2 mil presos e 24 mortos.

'Pressão inimaginável'

Ainda nesta quinta-feira, o embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), Francisco Mora, disse que Maduro enfrentará uma pressão internacional "inimaginável" se prender a líder da oposição, María Corina, e o ex-diplomata Edmundo González. A declaração foi feita um dia após o Ministério Público (MP) do país abrir uma investigação penal contra os dois opositores.

— Se Maduro decidir fazer isso, ativará a comunidade internacional de formas que ele não poderia imaginar — disse o embaixador da OEA durante evento no Atlantic Council, centro de estudos com sede em Washington. — Acho que seria um passo que poderia mobilizar ainda mais a comunidade internacional, incluindo aqueles que de alguma forma simpatizam e não querem agitar demais a situação na Venezuela.

Nesta quarta-feira, dias depois da administração do chavista afirmar que ainda não apresentou as atas porque o sistema eleitoral da Venezuela foi alvo de um ataque cibernético, o Centro Carter também declarou que "não há evidências" sobre isso. À AFP, Jennie Lincoln, chefe da missão de observação do Centro Carter, disse que "empresas monitoram e sabem quando há" invasões de hackers, mas que isso não aconteceu.

— A transmissão dos dados de votação é por linha telefônica e telefone via satélite, e não por computador. Não perderam dados. Apesar de o campo de jogo ter sido bastante desigual, o povo venezuelano foi votar. A grande irregularidade da jornada eleitoral foi a falta de transparência do CNE e a flagrante inobservância de suas próprias regras do jogo quanto a mostrar o verdadeiro voto do povo.

Ao GLOBO, a líder opositora María Corina disse reconhecer o esforço do governo brasileiro, juntamente com a Colômbia e o México, para criar um espaço de mediação entre as partes. Ela deixou claro, no entanto, que não pretende recuar "um milímetro" na reivindicação de que seja reconhecida a vitória do González Urrutia — e ofereceu ao Brasil o acesso às atas eleitorais que diz ter em seu poder.

— É importante que todas as vozes independentes, com credibilidade, que querem evitar a escalada de um conflito violento da Venezuela, possam se envolver e contribuir para que a verdade prevaleça — afirmou María Corina, que também enfatizou: — Obriguem o regime a entregar suas atas. Essas atas seriam a prova da fraude.

Antes da declaração de María Corina, o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, disse não ter confiança nas atas divulgadas pela oposição venezuelana. O brasileiro, que também foi enviado ao país para acompanhar o pleito, disse ter dito a Maduro que é "lamentável" que os registros não tenham sido divulgados pelo órgão eleitoral da Venezuela — e que ele teme que a situação provoque "um conflito muito grave" na nação vizinha.

— Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito. E eu acho que a gente tem de trabalhar para que haja um entendimento. Isso exige conciliação. E conciliação exige flexibilidade de todos os lados. Por que os EUA mantiveram sanções violentas quando já havia processo de negociação? Por que a União Europeia manteve sanções quando foi convidada para ser observadora? — disse à GloboNews.

Acompanhe tudo sobre:VenezuelaNicolás Maduro

Mais de Mundo

Eleição no Uruguai: disputa pela Presidência neste domingo deverá ser decidida voto a voto

Eleições no Uruguai: candidato do atual presidente disputa com escolhido de Mujica

Putin sanciona lei que anula dívidas de quem assinar contrato com o Exército

Eleições no Uruguai: Mujica vira 'principal estrategista' da campanha da esquerda