Augusto Pinochet: apenas dois meses depois do golpe de 11 de setembro de 1973, o Brasil, sob o governo Médici, concedeu um empréstimo de US$ 50 milhões ao Chile (David Lillo/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2011 às 11h29.
Rio de Janeiro - O regime militar do Brasil (1964-1985) deu apoio financeiro e diplomático ao golpe de Estado do general Augusto Pinochet no Chile, de acordo com telegramas do Ministério das Relações Exteriores divulgados nesta segunda-feira pelo jornal Folha de S. Paulo.
Os telegramas entre a Embaixada do Brasil em Santiago e Brasília revelaram que a ditadura brasileira ofereceu um grande apoio a Pinochet em seus primeiros anos de governo, informou a Folha de S. Paulo, que teve acesso a 226 correspondências diplomáticas sobre o assunto entre 1973 e 1976.
Apenas dois meses depois do golpe de 11 de setembro de 1973, que derrubou o presidente Salvador Allende, o Brasil, então governado pelo general Emílio Garrastazu Médici, concedeu um empréstimo de US$ 50 milhões ao Banco Central chileno para incentivar as exportações desse país.
A iniciativa foi a resposta a um pedido do regime chileno, que avisou à embaixada brasileira sobre sua 'grave situação' financeira, revelaram os documentos.
O Brasil também acelerou as compras de cobre chileno, abriu linhas de crédito especiais para os empresários brasileiros interessados em exportar ao Chile e adotou medidas para estimular as vendas de açúcar e automotores a esse país.
Com essa política, em 1976 o Brasil tirou da Alemanha o posto de maior importador de cobre chileno.
O Brasil também ajudou a financiar a compra de um sistema de comunicações para a Interpol no Chile.
O país atuou ainda na área diplomática a pedido da junta militar chilena para 'proteger os interesses do Chile' no México, Polônia e Iugoslávia, países que condenaram o golpe de Pinochet.
Os diplomatas brasileiros nesses países assumiram tarefas da Embaixada do Chile, como negociar a chegada de presos políticos e pagar dívidas do serviço diplomático.
O regime brasileiro defendeu também o chileno em fóruns internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em contrapartida, o Chile apoiou diversos candidatos brasileiros a cargos em órgãos internacionais.
De acordo com a 'Folha de S. Paulo', o então embaixador do Brasil em Santiago, Antônio Cândido da Câmara Canto, relatou nos telegramas sua proximidade e seus frequentes contatos com pessoas ligadas à ditadura chilena.
O embaixador chegou a consultar o governo do Chile sobre o passado 'político-ideológico' de pessoas que solicitavam visto para permanecer no Brasil, acrescentou a publicação.