BP e outras empresas suspendem tráfego no Canal de Suez após ataques de rebeldes do Iêmen
Aliados do Hamas, rebeldes houtis usam drones e mísseis para tentar parar navios que levariam cargas a Israel
Repórter de macroeconomia
Publicado em 18 de dezembro de 2023 às 10h14.
Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 17h53.
Nos últimos dias, algumas das maiores empresas de carga e petróleo do mundo anunciaram suspensão no envio de mercadorias pelo Canal de Suez, no Egito, uma das principais rotas marítimas do mundo, após ataques a navios que passavam na região.
Nesta segunda, 18, a petroleira BP disse que fará uma pausa no envio de todos os carregamentos de petróleo que passam por Suez, por conta da "situação de segurança em deterioração". Não foi divulgado um prazo para a retomada.
Além da BP, outras empresas como Maersk, Evergreen Line e MSC anunciaram ação similar, em meio a uma alta nos ataques na região.
Aberto em 1859, Suez é o caminho marítimo mais rápido entre Europa e Ásia, e uma das rotas mais importantes do mundo. Ele conecta o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho. Sem passar por Suez, a alternativa é contornar todo o continente africano, o que aumenta o tempo de entrega e os custos de viagem.
O Iêmen, que vive uma guerra civil desde 2014, fica perto do mar Vermelho, o que torna a região vulnerável a ataques. As ações contra os navios estão sendo feitos por rebeldes houtis, que lutam contra o governo do Iêmen e apoiam o grupo palestino Hamas. Em 2022, houve um cessar-fogo, mas as negociações para o fim do conflito ainda estão em andamento.
Nas últimas semanas, os houtis têm usado drones e mísseis para tentar atacar navios que passam pela região e que estariam levando suprimentos a Israel, que iniciou uma guerra contra o Hamas, na Faixa de Gaza, após ser alvo de ataques terroristas, em outubro. Os houtis recebem apoio do Irá.
Segundo as Forças de Segurança de Israel, já houve mais de 70 ataques aos navios. Quase todos foram interceptados por sistemas de defesa áerea, operados por Israel, Arábia Saudita, Estados Unidos e França.
Na sexta, 15, um navio da MSC foi contatado, no começo da manhã, por rebeldes houtis, que ameaçaram atacar caso a embarcação não desse meia-volta. O navio seguiu e não foi atacado, segundo divulgou o Comando Central miltar dos EUA.
No mesmo dia, o navio Al Jasrah, da UASC, foi atacado por um míssil e teve um incêndio a bordo, mas conseguiu apagá-lo e seguir viagem. Houve ainda um terceiro ataque, que atingiu outro cargueiro de forma leve. Não houve feridos em nenhum dos casos.
Há sites na internet que detalham as rotas dos navios de carga. Assim, é possível saber quais deles estariam a caminho de Israel e quando devem passar em cada ponto, o que facilita ataques.
Uma disrupção prolongada no canal de Suez pode gerar efeitos em cascata nas cadeias de logística global, mas os efeitos disso neste momento ainda são incertos. Os Estados Unidos e outros países estão em negociações com líderes do Oriente Médio para tentar conter a ameaça dos houtis.
O setor de logística viveu um momento de crise durante a pandemia. Com a falta de trabalhadores e rotas fechadas, houve enormes atrasos na entrega de mercadorias e peças, o que travou a fabricação de carros e eletrônicos diversas vezes. Com isso, houve alta no preço dos produtos, e carros usados chegaram a valer mais do que carros novos.
Efeitos da guerra de Israel
Os ataques dos houtis aos navios trazem o risco de gerar uma escalada de conflito militar na região, como reflexo da guerra entre Israel e Hamas. No entanto, as chances disso ocorrer ainda são difíceis de estimar.
A Guerra do Iêmen ocorre desde 2014, e envolve Arábia Saudita e Irã. Os sauditas apoaim o governo do Iêmen, enquanto os iranianos apoiam os rebeldes.
O conflito começou depois que o governo reprimiu com força protestos contra medidas para cortar subsídios aos combustíveis. A situação foi escalando, até que manifestantes invadiram o palácio presidencial e forçaram o presidente Abdrabbuh Hadi a renunciar.
No entanto, Hadi reuniu forças militares e iniciou uma campanha para retomar o poder, com apoio dos sauditas. O confronto deixou mais de 150 mil mortos, segundo a ONU, e gerou uma crise de fome no país.
Durante os anos de conflito, houve ataques pontuais ao territorio da Arábia Saudita e a navios que passavam pelo mar Vermelho, mas sem maiores consequências. A região tem presença militar forte dos EUA, do Reino Unido e de outros países que possuem negócios na região e que não querem um conflito de grandes proporções ali.