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Boston faz grande manifestação antirracismo

"Não há lugar para o ódio" e "Fora nazistas" diziam alguns dos cartazes trazidos na passeata pelos cerca de 40.000 manifestantes

Cerca cheia de sinais em manifestação antiracismo em Boston (Scott Eisen/Getty Images)

Cerca cheia de sinais em manifestação antiracismo em Boston (Scott Eisen/Getty Images)

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AFP

Publicado em 20 de agosto de 2017 às 13h35.

Milhares de manifestantes foram às ruas de Boston neste sábado para denunciar o racismo e a extrema direita, em um protesto marcado por confrontos com a Polícia, em um clima de tensão nos Estados Unidos, após a violência em Charlottesville e a polêmica reação de Donald Trump.

"Não há lugar para o ódio" e "Fora nazistas" diziam alguns dos cartazes trazidos na passeata pelos cerca de 40.000 manifestantes, segundo a Polícia, que vieram a este reduto democrata para contrabalançar uma concentração próxima convocada oficialmente a favor da "liberdade de expressão", mas que reunia militantes de extrema direita.

Depois de uma semana de alta tensão nos Estados Unidos, com a derrubada apressada de monumentos confederados, considerados por muitos símbolos racistas, a Polícia de Boston mobilizou um forte contingente para separar os dois grupos.

Apenas algumas dezenas de pessoas se concentraram na manifestação na qual se antecipou a presença de militantes de extrema direita, segundo imagens do encontro, que terminou meia hora antes do previsto.

Ao final da passeata, manifestantes antirracistas foram violentamente reprimidos pela Polícia, que investiu contra eles usando equipamentos antimotim, segundo um fotógrafo da AFP.

Mas os conflitos estiveram longe do nível de violência registrado em Charlottesville, onde um simpatizante neonazista lançou o carro que dirigia contra uma multidão, matando uma mulher e deixando 19 feridos.

A Polícia de Boston realizou 27 detenções, disse o delegado William Evans. Ele contou, ainda, que não houve nenhum ferido grave.

A manifestação encerrou uma semana de alta tensão sobre o tema racial nos Estados Unidos, que só melhorou depois que o presidente Donald Trump defendeu alguns dos participantes da marcha de neonazistas em Charlottesville como "gente muito boa".

Embora inicialmente tenha chamado os manifestantes antirracistas de "agitadores", ao fim da marcha Trump expressou-se em um tom mais positivo.

"Quero aplaudir os muitos manifestantes de Boston, que se expressam contra a intolerância e o ódio. Nosso país estará unido em breve", escreveu no Twitter.

Sua filha Ivanka Trump, que é judia, se uniu ao apoio aos manifestantes. "Foi bonito ver milhares de pessoas em todos Estados Unidos reunidas para denunciar a intolerância, o racismo e o antissemitismo. Devemos permanecer juntos, unidos como americanos".

Também foram organizadas manifestações em outras cidades como Dallas e Atlanta, onde milhares de pessoas participaram da mobilização.

Isolado

Depois de uma das semanas mais desastrosas de seu curto mandato, Trump está relegado a um isolamento crescente.

Declarações indignadas de dirigentes republicanos, a onda de deserções entre seus assessores econômicos e críticas de grandes nomes da cultura: o profundo mal-estar com as ambíguas declarações do presidente americano persiste.

Na mais recente consequência de suas polêmicas declarações, Donald Trump anunciou neste sábado que não irá à entrega dos prêmios artísticos mais prestigiosos de Washington - os do Kennedy Center para as Artes Cênicas -, para evitar "interferências políticas", depois das desistências anunciadas por vários dos contemplados.

A coreógrafa americana Carmen de Lavallade se refiriu justamente ao "discurso (da administração Trump), que alimenta a divisão" para declinar o convite a uma recepção na Casa Branca, organizada tradicionalmente no dia da cerimônia, em 3 de dezembro.

Antes dela, o diretor Norman Lear já tinha advertido que tampouco irá. Escaldado pelas controvérsias, o cantor Lionel Richie, outro contemplado, explicou esta semana que ainda não tinha tomado uma decisão.

Mas diretores do Kennedy Center saudaram rapidamente a decisão presidencial. "Ao decidir não participar das atividades deste ano, a administração mostrou elegantemente seu respeito pelo Kennedy Center e permite assegurar que a cerimônia de entrega dos prêmios será um momento especial, bem merecido para os premiados".

- Homenagem a Bannon -

Não é a primeira vez que Donald Trump decide desdenhar de uma grande tradição de Washington. Em abril, ele já tinha decidido evitar o jantar anual dos correspondentes, que reúne a nata da imprensa e da política americana.

Tratam-se de decisões que satisfazem à sua base, que se deleita com os desplantes a um establishment denunciado em várias ocasiões durante a campanha eleitoral.

Longe de dar uma trégua a seus imprevisíveis declarações e tuítes que sacodem Washington desde que chegou à Casa Branca, em 20 de janeiro, as "férias de trabalho" de Donald Trump em Nova Jersey e Nova York continuaram marcadas pela polêmica e por anúncios imprevistos.

No dia seguinte à demissão de Steve Bannon, seu polêmico assessor estratégico, o presidente prestou-lhe uma homenagem neste sábado, que também serviu para alfinetar seu alvo preferido: a imprensa.

"Steve Bannon será uma nova voz dura e inteligente no @BreitbartNews... Talvez inclusive melhor do que nunca. A mídia mentirosa precisa desta concorrência", acrescentou.

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