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Biden convoca reunião do G7 sobre Afeganistão: "Faremos todo o possível"

Milhares de americanos ainda estão no Afeganistão, alguns com dificuldade de chegar ao aeroporto em Cabul. Em meio a críticas, Biden voltou a se pronunciar nesta sexta-feira

Kamala Harris, Joe Biden e Tony Blinken: desordem na evacuação dos cidadãos americanos e aliados já afeta popularidade do governo (Anna Moneymaker/Getty Images)

Kamala Harris, Joe Biden e Tony Blinken: desordem na evacuação dos cidadãos americanos e aliados já afeta popularidade do governo (Anna Moneymaker/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 15h24.

Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 17h21.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez novo pronunciamento nesta sexta-feira, 20, com atualizações sobre o processo de evacuação dos cidadãos americanos e aliados no Afeganistão.

O presidente falou nesta tarde ao lado da vice-presidente Kamala Harris e do secretário de Estado, Antony Blinken.

No pronunciamento, o segundo em menos de uma semana, Biden disse ter conversado nos últimos dias com a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê britânico, Boris Johnson.

As potências decidiram convocar para a semana que vem uma reunião do G7, grupo das sete democracias mais ricas do mundo.

"Juntos, poderemos coordenar nossa abordagem mútua e unida para o Afeganistão daqui para a frente", disse Biden.

Os países discutirão o papel da comunidade internacional para fornecer alimentos e refúgio à população que deixou o Afeganistão rumo a países vizinhos, além de "colocar pressão" contra o novo governo talibã para proteção aos direitos das mulheres.

No entanto, ainda está pouco claro quais medidas as potências têm de fato capacidade de executar diante do controle do Talibã, que selou a tomada do Afeganistão no fim de semana no vácuo da retirada das tropas americanas.

Embora algumas escolas de meninas ainda estejam abertas, há grande risco de que mulheres possam perder direitos como na última vez em que o Talibã governou, de 1996 a 2001.

Na fala de hoje, Biden tentou também dividir a responsabilidade sobre a retirada com outros países da Otan, aliança militar ocidental.

"Por 20 anos, o Afeganistão tem sido um esforço conjunto de nossos aliados da Otan", disse. "Nós entramos juntos, e estamos saindo juntos. E agora estamos trabalhando juntos para trazer nossa população e nossos aliados de volta à segurança."

Caos na retirada

O processo de evacuação é hoje um dos principais motivos de críticas ao governo Biden dentro dos Estados Unidos.

Há milhares de americanos no país que ainda não conseguiram fugir, além dos aliados afegãos que ajudaram as forças americanas durante as duas décadas de ocupação e hoje estão em risco.

"Cada americano que queira vir para casa, nós vamos trazê-los para casa", disse. "Mas não se enganem: essa missão de evacuação é perigosa. Envolve riscos para nossas forças e tem sido conduzida em circunstâncias difíceis."

Biden disse que "não posso prometer qual será o resultado" e que não é garantido que "não haverá perdas", mas que "mobilizará todos os recursos necessários".

No discurso, também agradeceu às forças americanas em solo e citou o filho mais velho, Beau Biden, que morreu de câncer no cérebro em 2015 e, anos antes, foi à guerra no Iraque (há suspeitas de que o câncer de Beau Biden tenha sido causado por excessiva fumaça na guerra, o que não chegou a ser comprovado).

"Eu carrego esse fardo todos os dias", disse, sobre as tropas e cidadãos no Afeganistão.

O presidente afirmou que, no futuro, estará aberto a revisitar as decisões e entender onde seu governo errou, mas que, neste momento, "está focado em terminar o trabalho".

Pessoas retiradas do Afeganistão embarcam em avião da Força Aérea da Alemanha em Tashkent, no Uzbequistão (Marc Tessensohn/Twitter @Bw_Einsatz/Divulgação/Reuters)

Biden afirmou que foram evacuados desde 14 de agosto mais de 13.000 pessoas. Disse ainda que mais de 2.000 jornalistas dos principais veículos americanos foram evacuados, muitos deles afegãos que ajudaram na cobertura.

Os EUA também estão, segundo Biden, "facilitando" a partida de missões de países aliados e jatos privados.

Mas a demora e os riscos no processo de retirada têm feito Biden e nomes como o secretário Blinken, principal autoridade diplomática do governo, serem alvo de críticas. A popularidade do governo Biden já chega ao menor nível desde que tomou posse, em janeiro.

O aeroporto de Cabul, capital do Afeganistão, foi no começo da semana palco de cenas trágicas com afegãos tentando embarcar em voos estrangeiros. Pelo menos duas pessoas caíram de um avião americano que decolava, e restos mortais foram encontrados em turbinas.

O governo americano havia dito ter capacidade de retirar 8.000 pessoas por dia do país, mas só 2.000 têm sido evacuadas diariamente. Os motivos vão da demora na burocracia de vistos à dificuldade dos próprios americanos e aliados em chegar ao aeroporto com as barricadas do Talibã pela cidade.

Em Cabul, o aeroporto é a única área ainda controlada pelos EUA, que enviou milhares de homens para garantir a evacuação.

Na fala de hoje, Biden voltou a ameaçar o Talibã e, como no último pronunciamento, disse que ataques ao aeroporto serão respondidos.

Muitos afegãos tentam um status de refugiado nos EUA ou em outros países, mas não estão conseguindo deixar o Afeganistão ou ter a papelada autorizada em tempo.

"Os EUA mantêm o compromisso que fez a essas pessoas", disse Biden, que tem sido criticado também pela demora em conceder vistos.

Uma das principais críticas é que milhares de afegãos que foram aliados na ocupação americana, como intérpretes, estão há anos esperando um visto especial dos EUA. Caso já tivessem os papeis, poderiam ter fugido do país antes da queda do governo. Com o caos em Cabul, essa demora dos anos anteriores agora cobra seu preço.

Para além da dificuldade com os vistos, agências de notícias em solo no Afeganistão já apontam que pessoas tentando chegar ao aeroporto estão sendo atacadas pelo Talibã ou impedidas de prosseguir.

Na reunião do G7, uma das principais dúvidas será sobre como as potências ocidentais lidarão com o novo governo do Talibã.

Antes da invasão americana, em 2001, o governo talibã era tido como pária internacional e isolado; agora, analistas apontam que é possível que o Ocidente tente algum tipo de negociação que force o Talibã a resguardar direitos humanos. A estratégia a ser adotada pelos países da Otan ainda é uma incógnita.

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