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Bento XVI rompe moldes renunciando ao Pontificado

Defensor da ortodoxia da Igreja, Bento XVI voltou hoje a romper com os padrões ao renunciar ao Pontificado


	Bento XVI: o papa já havia revelado que preferia que os cardeais escolhessem outro mais forte para comandar a Igreja neste princípio de terceiro milênio
 (AFP/ Andreas Solaro)

Bento XVI: o papa já havia revelado que preferia que os cardeais escolhessem outro mais forte para comandar a Igreja neste princípio de terceiro milênio (AFP/ Andreas Solaro)

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Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2013 às 12h34.

Cidade do Vaticano - "Purificador", "inquisidor", defensor da ortodoxia da Igreja, eurocêntrico e conservador, estes foram alguns dos adjetivos que foram dados a Bento XVI, que hoje voltou a romper com os padrões ao renunciar ao Pontificado.

Bento XVI só se considera, no entanto, um "simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor".

Assim se apresentou o alemão Joseph Ratzinger perante os fiéis quando no dia 19 de março de 2005 no primeiro Conclave do século XXI foi eleito papa, um pontífice que nestes anos não duvidou em pedir que se rezasse por ele para ser um pastor "dócil e firme", para que "não fugisse perante os lobos e deixasse o redil abanadonado".

Ratzinger, que durante 24 anos foi a mão direita do já beato João Paulo II e assumiu as rédeas da Congregação para a Doutrina da Fé, o ex-Santo Ofício, chegou ao Pontificado com fama de "duro" e ao mesmo tempo como o grande favorito, o único capacitado para suceder Karol Wojtyla.

Considerado como um dos grandes teólogos deste século, era conhecido de todos seu desejo de retornar a sua Baviera natal, o que no final não vai acontecer pois ele vai viver no Vaticano.

Também preferia - segundo ele mesmo revelou - que os cardeais escolhessem outro mais forte para comandar a Igreja neste princípio de terceiro milênio.

Prova de seu pouco desejo de ser escolhido papa são as meditações que escreveu para a Via-Sacra da Sexta-Feira Santa de 2005, poucos dias antes da morte de João Paulo II, a homilia que pronunciou no funeral de Wojtyla e na missa prévia ao Conclave.

Nelas se mostrou ao mundo como um cardeal que não temia dizer as coisas por seu nome e muito crítico aos membros da Igreja, da qual disse é um "barco que faz água".


Segundo os observadores vaticanos, um cardeal que tem pretensões de ser eleito papa, jamais teria pronunciado nos dias anteriores ao Conclave palavras similares.

Ratzinger, no entanto, foi eleito o 265º papa da história da Igreja e sua escolha levantou receios e não foram poucos os que sentenciaram que ele era "mais do mesmo" e representava a involução.

Sua primeira aparição em público já surpreendeu, porque se viu um papa que usava sob a batina uma simples blusa de lã, pouco preocupado com a imagem e que suas primeiras palavras foram: "Os senhores cardeais me esolheram, um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor e me consola o fato de que o Senhor sabe trabalhar e atuar inclusive com instrumentos insuficientes (em referência a ele)".

Na homilia com a qual inaugurou seu Pontificado voltou a surpreender ao afirmar: "Meu programa de Governo é não fazer minha vontade e não seguir minhas próprias ideias, mas me colocar junto com toda a Igreja a escutar a palavra e a vontade do Senhor e deixar-me dirigir por Ele".

A imagem de Ratzinger evoluiu ao longo de seu Pontificado desde uma visão de "duro" a uma mais amável e próxima.

"Escuta de verdade o que seu interlocutor quer dizer-lhe. Faz isso com muita atenção e respeito. Tem uma lucidez e uma clareza de pensamento e de expressão, uma densidade de conteúdo, que chama a atenção de maneira profunda", assinalou o porta-voz Federico Lombardi, comentando a figura do papa.


Seu Pontificado, no entanto, foi salpicado por escândalos de abusos contra menores cometidos por clérigos em diferentes países, e o roubo e divulgação de documentos reservados do Pontífice e da Santa Sé de dentro da própria Cúria Roma.

Estes escândalos causaram grande impressão em Ratzinger, que não entendia - como disse - que os homens da Igreja, os que tem que dar mais exemplo, fossem capazes de "delitos tão atrozes".

Pediu perdão às vítimas desses abusos e a seus familiares, mostrando estar desconcertado, iniciando uma série de medidas para que nunca mais aconteçam casos similares.

Ratzinger mudou a legislação para regenerar a Igreja, o "barco que faz água, no qual há tanta imundície", segundo disse poucos dias antes de ser eleito papa.

Essas medidas não foram bem entendidas por alguns, que chegaram inclusive a acusá-lo de encobridor.

A esquerda, além disso, o acusa de conservador, de inflexível na ortodoxia da Igreja e de frear as medidas inovadoras, e a direita de ser fraco demais e de não governar com mão dura.

A partir de março, uma vez que houver novo papa, voltará a fazer o que mais gosta: escrever sobre Cristo, para colocá-lo no centro do mundo secularizado. 

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