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Coreia do Sul ameaça usar k-pop contra balões de lixo do Norte

A Coreia do Norte anunciou a suspensão temporária do envio de balões com lixo para o Sul

A foto fornecida, tirada pelo Ministério da Defesa da Coreia do Sul entre a noite de 28 e 29 de maio, mostra objetos não identificados, que se acredita serem folhetos de propaganda norte-coreana, em uma rua em Seul (Divulgação / Ministério da Defesa da Coreia do Sul / AFP/AFP)
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 3 de junho de 2024 às 10h47.

Última atualização em 3 de junho de 2024 às 12h22.

Neste domingo, 2,a Coreia do Norte declarou que vai parar de enviar lixo através de balões para a Coreia do Sul ,após a terceira remessa em menos de uma semana e diante da ameaça de Seul de transmitir música k-pop na fronteira. No entanto, Pyongyang prometeu retomar a prática caso ativistas sul-coreanos voltem a enviar panfletos políticos ao Norte. As informações são da Reuters.

Conforme autoridades sul-coreanas, desde a noite de sábado (1º), foram detectados720 balões carregando sacolas com diversos objetos, incluindo bitucas de cigarro. "A cada hora, entre 20 e 50 balões passaram pelo ar", declarou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em comunicado. Os balões chegaram ao norte da Coreia do Sul, abrangendo a capital, Seul, e a província de Gyeonggi, que concentra cerca de metade da população do país.

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De acordo com Pyongyang, o total de balões enviados foi ainda maior: 3.500 infláveis transportando 15 toneladas de lixo, conforme informou o vice-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang-il. Em comunicado divulgado pela agência estatal, o representante afirmou que a Coreia do Sul agora teve uma amostra de como é "desagradável" lidar com a coleta de rejeitos.

‘Devolução na mesma moeda’

Ao enviar os objetos ao espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirma estar devolvendo "na mesma moeda" ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam "panfletos e várias coisas sujas" na fronteira. Ativistas sul-coreanos enviam regularmente infláveis contendo panfletos ‘anti-Pyongyang’, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.

Na quarta-feira (29), um dia após o primeiro envio de balões, um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação. "Ao colocar lixo e objetos diversos em balões, eles parecem querer testar como nosso povo reagiria e se nosso governo de fato seria perturbado", afirmou ele a jornalistas na ocasião.

Neste domingo, no entanto, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol acusou o país vizinho de "provocações sujas que nenhum país normal imaginaria" e afirmou que Seul começaria a tomar "medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis". Essas medidas poderiam incluir a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira, ação que o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, considerou tão ameaçadora que certa vez chamou de "cancro cruel".

Tensão contínua

As provocações entre Coreia do Norte e Coreia do Sul são frequentes. Desde o armistício que pôs fim à Guerra da Coreia em 1953, as duas nações tecnicamente ainda estão em conflito e são separadas por uma zona desmilitarizada. Geralmente, as provocações envolvem exercícios militares e lançamentos de mísseis, como ocorreu na última quinta-feira (30), quando a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, conforme relatado por Seul.

A estratégia recente remonta aos tempos da Guerra Fria, quando as duas Coreias tentavam influenciar uma à outra através de transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes bombardeavam os soldados rivais dia e noite com canções de propaganda, enquanto cartazes incentivavam os militares a desertar para um "paraíso do povo" no Norte ou para o Sul "livre e democrático".

Naquela época, o envio de balões ao espaço aéreo vizinho já era uma prática comum em ambos os lados. Milhões de panfletos difamatórios sobre o país vizinho eram espalhados pela Península Coreana, material que tanto o Norte quanto o Sul proibiam suas populações de ler ou guardar. No Sul, a polícia incentivava as crianças a denunciar os panfletos que encontravam, oferecendo recompensas como lápis e outros materiais escolares. Hoje, Seul e Pyongyang continuam em uma delicada troca de provocações e respostas, cada uma testando os limites da outra. A resposta firme da Coreia do Sul e a promessa de medidas "insuportáveis" destacam a fragilidade das relações na Península Coreana e o potencial para futuras escaladas.

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