O exército sírio tenta retomar o controle dos redutos rebeldes (AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2012 às 19h31.
Cairo - A morte de mais de 150 pessoas nas últimas horas, segundo a oposição, e as posições irreconciliáveis dos rebeldes e do regime de Bashar al Assad dificultam a possibilidade do plano de paz para a Síria, proposto por Kofi Annan, ser concretizado antes do prazo.
Se neste domingo as autoridades sírias exigiram ''garantias escritas'' de que os grupos armados da oposição abandonariam suas armas, nesta segunda-feira o rebelde Exército Livre Sírio (ELS) condicionou o cessar-fogo a Damasco respeitar o plano de Annan.
O ''número dois'' do ELS, Malek Kurdi, assegurou à Agência Efe que ''as negociações não valem com o regime e é inútil buscar uma solução política'' para a crise síria.
''Se eles detiverem os disparos, nós também deteremos, mas não vamos apresentar garantias por escrito porque o regime é que possui maior força militar. Nós dispomos de armas humildes e nossa política é defender o povo'', ressaltou Kurdi.
Em comunicado, os rebeldes anunciaram hoje seu ''respeito total'' ao plano de paz de Annan e ao artigo que estipula o fim da violência por todas as partes envolvidas no conflito. Como defensores do povo sírio, os grupos rebeldes disseram que interromperão os ataques se o regime retirar suas tropas das ruas primeiro.
O plano de paz prevê o fim da violência por parte de todos os grupos envolvidos, a retirada das forças de segurança das cidades, o restabelecimento da autoridade do Estado em todo o território e o começo de um diálogo nacional entre o governo e a oposição.
O acordo estipula até amanhã como data para o início da aplicação do plano de Annan e da retirada das tropas das ruas, e até 12 de abril como limite para o fim das hostilidades.
No entanto, estes prazos parecem difíceis de serem cumpridos. Segundo a oposição, nas últimas horas, ataques das forças leais ao regime de Assad causaram a morte de 150 pessoas, a maioria nas províncias de Homs e Hama, no centro do país, e Aleppo, no norte.
Devido aos novos massacres, Kurdi se mostrou cético em relação ao ultimato de Annan: ''já advertimos antes que qualquer prazo dá mais tempo para os assassinatos, e nossas palavras se mostraram corretas''.
De acordo com dados dos opositores Comitês de Coordenação Local (CCL), 52 pessoas morreram em Homs, 45 em Aleppo e 33 em Hama. O enclave rebelde de Homs foi alvo de bombardeios que castigaram especialmente os bairros de Qusur, Al Jalidia e Yuret al Sheyah, entre outros.
Em Aleppo, os CCL denunciaram que na localidade de Tal Rifaat pelo menos 30 pessoas perderam a vida após suas casas serem destruídas por explosões, enquanto outras 15 vítimas foram mortas num posto de controle.
Segundo os opositores, muitos corpos estão nos escombros das construções e dezenas de feridos foram detidos pelas forças de segurança. Os bombardeios também derrubaram casas na localidade de Latamna, em Hama, onde entre as vítimas fatais estão 17 menores e oito mulheres.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse hoje que Damasco deve respeitar ''incondicionalmente'' o prazo estipulado com Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria.
Além do conflito interno, no qual segundo a ONU morreram mais de nove mil pessoas desde março do ano passado, os ataques das tropas sírias chegaram nesta nova onda de violência às fronteiras com o Líbano e a Turquia.
Os disparos efetuados pelas forças do regime causaram a morte de um jornalista libanês na fronteira entre a Síria e o Líbano. E ataques das tropas de Assad provocaram a morte de duas pessoas num campo de refugiados sírios na Turquia. As duas nações e o secretário-geral da ONU condenaram as investidas sírias.