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Argentinos elegem governo forte, mas Macri não sai tão enfraquecido

As eleições na Argentina consolidaram a vitória de Alberto Fernández, com maioria no legislativo. Para analista, feito é "anomalia histórica"

Mauricio Macri e Alberto Fernández nas eleições na Argentina: legislativo terá maioria kirchnerista, mas opositores também marcarão forte presença (Agustin Marcarian/Reuters)

Mauricio Macri e Alberto Fernández nas eleições na Argentina: legislativo terá maioria kirchnerista, mas opositores também marcarão forte presença (Agustin Marcarian/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 12h05.

Última atualização em 1 de novembro de 2019 às 15h28.

São Paulo - Em um movimento que já era esperado nas eleições na Argentina, Alberto Fernández venceu ainda no primeiro turno, derrotando Mauricio Macri, que buscava a reeleição. A grande novidade que domingo trouxe, no entanto, é que, além da vitória de Fernández, os argentinos também garantiram uma forte presença kirchnerista no legislativo.

“A diferença entre essa eleição e todas as outras desde 2001 é que os argentinos agora elegeram um governo forte, com ampla presença na Câmara dos Deputados e no Senado”, avaliou Thomaz Fávaro, diretor de análises da América do Sul da consultoria de riscos Control Risks, “e essa maioria legislativa é uma anomalia histórica no país”, considerou.

Na Câmara dos Deputados (composta por 257 assentos), parlamentares alinhados com Fernández e a ex-presidente Cristina Kirchner, que agora será vice-presidente da Argentina, conquistaram 120 postos - são necessários 129 para conseguir a maioria, algo que Fávaro considera plenamente factível de ser conquistada por meio de alianças.

No Senado (formado por 72 bancas), que será presidido por Cristina, a presença kirchnerista é ainda mais contundente, já que o grupo conquistou a maioria, 37 assentos. “Em outras situações, a presença governista já foi muito mais débil”, comparou o diretor da Control Risks.

Embora os argentinos tenham dado a Fernández a chancela para um governo robusto, os opositores do Cambiemos e Mauricio Macri não saíram exatamente enfraquecidos desta eleição. Quando se examina os resultados, é possível enxergar que o rechaço a Macri não foi tão forte quanto as pesquisas de opinião após as primárias indicaram.

“Mais uma vez, os institutos erraram feio nas projeções: se imaginava que Fernández teria uma performance melhor, mas Macri cresceu de maneira surpreendentemente positiva”. Pesquisas chegaram a indicar que o eleito conquistaria 53,7% das urnas e Macri, 33,2%. Não foi o que se viu: Fernández terminou com 48,10% e Macri ficou com 40,38%.

Além disso, a presença de parlamentares do Cambiemos não deixou de ser significativa na Câmara dos Deputados, para a qual foram eleitos 119 dos seus parlamentares, um salto de nove assentos desde as eleições de 2015. No Senado, a presença permaneceu a mesma.

No recorte regional, pontua Fávaro, Macri conseguiu ampliar a participação obtida no primeiro turno de 2015 em províncias-chave como Córdoba, Entre Rios, Mendoza, Santa Fe e San Luis. Em todas, o empresário permaneceu na frente, conseguindo até mesmo melhorar a sua performance na comparação com a eleição anterior.

“Isso aumenta as chances de a oposição ter uma voz ativa na definição de políticas públicas e o perfil do Fernández facilita essa negociação”, prevê Fávaro, “ele é um político moderado e sempre deixou claro que pretende se manter independente de Cristina e do kirchnerismo como um todo”, analisa.

Com a vitória consolidada, Fernández agora precisa mostrar ao mundo o seu plano de governo. Especialmente no que diz respeito aos rumos da equipe macroeconômica e a estratégia para tirar a Argentina da profunda crise. No meio das incertezas que rondam o futuro do país, um fato: os resultados deixam evidente o altíssimo grau de polarização que a sociedade argentina vive em 2019.

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