Após massacre, manifestantes queimam prédio no Cairo
Partidários da Irmandade Muçulmana invadiram e queimaram um prédio governamental um dia depois de as forças de segurança matarem centenas de manifestantes
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2013 às 17h57.
Cairo - Partidários da Irmandade Muçulmana do Egito invadiram e queimaram um prédio governamental na quinta-feira, enquanto familiares tentavam identificar corpos mutilados que ficaram empilhados em uma mesquita do Cairo, um dia depois de as forças de segurança matarem centenas de manifestantes.
O Ministério da Saúde diz que 623 pessoas morreram e milhares ficaram feridas no dia de maior violência civil na história moderna do Egito, mais populoso país árabe.
Seguidores da Irmandade dizem que o número de mortos é bem maior, e que centenas de cadáveres ainda não foram contabilizados pelas autoridades depois da repressão policial e militar a manifestantes que reivindicavam a restauração do mandato do presidente deposto Mohamed Mursi.
A TV estatal disse, citando o Ministério do Interior, que as forças de segurança voltarão a usar munição real para repelir quaisquer ataques a seus agentes ou a prédios públicos.
O Conselho de Segurança da ONU se reúne na quinta-feira para discutir a situação, a pedido de França, Grã-Bretanha e Austrália.
O governo provisório egípcio, instaurado por militares depois da derrubada de Mursi, em 3 de julho, sofreu forte condenação internacional pelo ataque aos dois acampamentos dos manifestantes pró-Mursi no começo da manhã de quarta-feira.
O Departamento de Estado dos EUA disse que irá rever a ajuda ao Egito "de todas as formas", e a Casa Branca cancelou um exercício militar conjunto com o Exército egípcio, beneficiário de uma ajuda militar norte-americana de 1,3 bilhão de dólares por ano.
"Os Estados Unidos condenam duramente as medidas tomadas pelo governo interino e pelas forças de segurança do Egito", disse o presidente Barack Obama em pronunciamento na sua casa de veraneio em Martha's Vineyard, Massachusetts. "Deploramos a violência contra civis. Apoiamos os direitos universais essenciais à dignidade humana, inclusive o direito ao protesto pacífico."
Mais tarde, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, alertou ao chefe do Exército egípcio que "a violência e as medidas inadequadas no sentido da reconciliação estão colocando em risco elementos importantes da nossa tradicional cooperação de defesa".
Diplomatas ocidentais disseram à Reuters que altos funcionários norte-americanos e europeus mantiveram contato com os governantes egípcios até a última hora antes da ofensiva, na tentativa de evitar o derramamento de sangue contra os partidários de Mursi, primeiro presidente eleito livremente na história egípcia, derrubado por militares após gigantescos protestos populares em julho.
"Fora de Controle"
Na quinta-feira, houve relatos de novas manifestações contra o governo provisório, mas sem que se repetisse a violência da véspera. Em Alexandria, segunda maior cidade egípcia, centenas de participantes de uma passeata gritavam: "Vamos voltar, em nome dos nossos mártires!".
Gehad el Haddad, porta-voz da Irmandade, disse que a ira dentro do tradicional movimento islâmico, que tem milhões de seguidores no Egito, está "fora de controle".
"Após os golpes, prisões e mortes que estamos enfrentando, as emoções estão altas demais para poderem serem guiadas por qualquer um", afirmou.
A Irmandade convocou seus seguidores para uma passeata no Cairo na noite de quinta-feira, e os funerais dos mortos desta semana podem motivar novos confrontos nos próximos dias.
No Cairo, a Reuters contou 228 corpos, a maioria envolta em mortalhas brancas e disposta em fileiras no chão da mesquita Al Imam, na zona nordeste do Cairo, perto do acampamento onde a repressão foi mais violenta.
A mesquita havia se transformado em um necrotério, lembrando as cenas de uma batalha na Primeira Guerra Mundial. Profissionais médicos jogavam incensos acessos nos blocos de gelo que cobrem os corpos e pulverizavam aromatizante de ambientes para disfarçar o mau cheiro.
Alguns homens retiravam as mortalhas para revelar corpos semicarbonizados, com crânios esmagados. Mulheres se ajoelhavam e choravam ao lado de um cadáver. Dois homens se abraçavam às lágrimas.
Esses corpos, empilhados ali em decorrência da lotação dos necrotérios e hospitais, não entraram na contabilidade oficial de mortos, a qual inclui também mais de 40 policiais e centenas de pessoas que morreram em confrontos fora da capital.
Na praça em frente à mesquita, milhares de pessoas estavam reunidas. "O Exército e a polícia são uma mão suja!", era um dos gritos da multidão.
No bairro de Giza, partidários de Mursi atearam fogo a um edifício do governo local. A TV estatal disse que dois policiais foram mortos em um ataque contra um posto de controle na área.
Cairo - Partidários da Irmandade Muçulmana do Egito invadiram e queimaram um prédio governamental na quinta-feira, enquanto familiares tentavam identificar corpos mutilados que ficaram empilhados em uma mesquita do Cairo, um dia depois de as forças de segurança matarem centenas de manifestantes.
O Ministério da Saúde diz que 623 pessoas morreram e milhares ficaram feridas no dia de maior violência civil na história moderna do Egito, mais populoso país árabe.
Seguidores da Irmandade dizem que o número de mortos é bem maior, e que centenas de cadáveres ainda não foram contabilizados pelas autoridades depois da repressão policial e militar a manifestantes que reivindicavam a restauração do mandato do presidente deposto Mohamed Mursi.
A TV estatal disse, citando o Ministério do Interior, que as forças de segurança voltarão a usar munição real para repelir quaisquer ataques a seus agentes ou a prédios públicos.
O Conselho de Segurança da ONU se reúne na quinta-feira para discutir a situação, a pedido de França, Grã-Bretanha e Austrália.
O governo provisório egípcio, instaurado por militares depois da derrubada de Mursi, em 3 de julho, sofreu forte condenação internacional pelo ataque aos dois acampamentos dos manifestantes pró-Mursi no começo da manhã de quarta-feira.
O Departamento de Estado dos EUA disse que irá rever a ajuda ao Egito "de todas as formas", e a Casa Branca cancelou um exercício militar conjunto com o Exército egípcio, beneficiário de uma ajuda militar norte-americana de 1,3 bilhão de dólares por ano.
"Os Estados Unidos condenam duramente as medidas tomadas pelo governo interino e pelas forças de segurança do Egito", disse o presidente Barack Obama em pronunciamento na sua casa de veraneio em Martha's Vineyard, Massachusetts. "Deploramos a violência contra civis. Apoiamos os direitos universais essenciais à dignidade humana, inclusive o direito ao protesto pacífico."
Mais tarde, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, alertou ao chefe do Exército egípcio que "a violência e as medidas inadequadas no sentido da reconciliação estão colocando em risco elementos importantes da nossa tradicional cooperação de defesa".
Diplomatas ocidentais disseram à Reuters que altos funcionários norte-americanos e europeus mantiveram contato com os governantes egípcios até a última hora antes da ofensiva, na tentativa de evitar o derramamento de sangue contra os partidários de Mursi, primeiro presidente eleito livremente na história egípcia, derrubado por militares após gigantescos protestos populares em julho.
"Fora de Controle"
Na quinta-feira, houve relatos de novas manifestações contra o governo provisório, mas sem que se repetisse a violência da véspera. Em Alexandria, segunda maior cidade egípcia, centenas de participantes de uma passeata gritavam: "Vamos voltar, em nome dos nossos mártires!".
Gehad el Haddad, porta-voz da Irmandade, disse que a ira dentro do tradicional movimento islâmico, que tem milhões de seguidores no Egito, está "fora de controle".
"Após os golpes, prisões e mortes que estamos enfrentando, as emoções estão altas demais para poderem serem guiadas por qualquer um", afirmou.
A Irmandade convocou seus seguidores para uma passeata no Cairo na noite de quinta-feira, e os funerais dos mortos desta semana podem motivar novos confrontos nos próximos dias.
No Cairo, a Reuters contou 228 corpos, a maioria envolta em mortalhas brancas e disposta em fileiras no chão da mesquita Al Imam, na zona nordeste do Cairo, perto do acampamento onde a repressão foi mais violenta.
A mesquita havia se transformado em um necrotério, lembrando as cenas de uma batalha na Primeira Guerra Mundial. Profissionais médicos jogavam incensos acessos nos blocos de gelo que cobrem os corpos e pulverizavam aromatizante de ambientes para disfarçar o mau cheiro.
Alguns homens retiravam as mortalhas para revelar corpos semicarbonizados, com crânios esmagados. Mulheres se ajoelhavam e choravam ao lado de um cadáver. Dois homens se abraçavam às lágrimas.
Esses corpos, empilhados ali em decorrência da lotação dos necrotérios e hospitais, não entraram na contabilidade oficial de mortos, a qual inclui também mais de 40 policiais e centenas de pessoas que morreram em confrontos fora da capital.
Na praça em frente à mesquita, milhares de pessoas estavam reunidas. "O Exército e a polícia são uma mão suja!", era um dos gritos da multidão.
No bairro de Giza, partidários de Mursi atearam fogo a um edifício do governo local. A TV estatal disse que dois policiais foram mortos em um ataque contra um posto de controle na área.