O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad: a Agência Internacional de Energia Atômica alertou o Irã novamente sobre o programa de enriquecimento de urânio (Arquivo/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2010 às 16h57.
Viena - A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou hoje que o Irã produziu até agora 2,8 mil quilos de urânio pouco enriquecido - 1 mil quilos a mais que em novembro passado - uma quantia que os especialistas consideram suficiente para construir de duas a três bombas nucleares.
Em seu mais recente relatório técnico sobre o Irã, ao qual à Agência Efe teve acesso, a agência nuclear da ONU reitera sua preocupação diante das possíveis dimensões militares do programa atômico iraniano, sob inspeção internacional há sete anos.
O documento, restrito, acrescenta que o país segue violando todas as resoluções relevantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do Conselho de Governadores da agência atômica.
Há anos, os órgãos máximos da ONU e da AIEA exigem que o Irã suspenda seu programa de enriquecimento de urânio, que congele a construção de um reator de água pesada e aplique um regime especial de inspeções, entre outros assuntos.
Desde 2006, o Conselho de Segurança da ONU já impôs quatro rodadas de sanções diplomáticas, comerciais e nucleares contra a república islâmica, com o objetivo de estimular a negociação de um acordo com Teerã.
"O Irã não oferece a cooperação necessária para permitir ao organismo a confirmação de que todo o seu material nuclear seja destinado a atividades pacíficas", lamenta no relatório o diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano.
Nesse sentido, um diplomata próximo à AIEA destacou nesta segunda-feira, em declarações à Efe, em Viena, que "não houve nenhum tipo de progresso quanto às possíveis dimensões militares do programa nuclear".
O Irã, por sua vez, afirma que as alegações de possíveis experimentos com explosivos especiais são falsas e manipuladas, e, por isso, se nega a debater o assunto com o organismo nuclear da ONU.
Segundo a AIEA, no final de agosto havia 8.856 centrífugas instaladas na planta de enriquecimento de Natanz, na região central do país, com só 3.772 unidades em funcionamento.
Embora o plano inicial do Irã fosse construir nessa planta 50 mil centrífugas para a produção industrial de combustível nuclear, o número de unidades se mantém estável desde o ano passado, abaixo das nove mil.
Esse fato também favorece o crescimento das suspeitas sobre as intenções verdadeiras do programa nuclear iraniano.
De acordo com a mais recente apuração da AIEA, o Irã produziu desde fevereiro de 2007 um total de 2.803 quilos de urânio pouco enriquecido - com uma pureza inferior a 5% -, 1 mil quilos a mais que em novembro passado, o que se corresponde ao ritmo de produção alcançado nos últimos dois anos e meio.
Destas reservas armazenadas pelo Irã, cerca de 310 quilos foram utilizados para produzir em torno de 22 quilos de urânio enriquecido até o 20%, com os quais pretende fabricar combustível para um reator em Teerã.
Os analistas consideram que ao enriquecer urânio até esse nível, os iranianos avançam em seus conhecimentos sobre a forma de controlar o processo para purificar urânio até a 90%, o que permitiria fabricar bombas atômicas.
É estimado que uma tonelada de urânio pouco enriquecido seja suficiente para criar urânio altamente enriquecido suficiente para a fabricação de uma bomba atômica.
Por essa razão, o enriquecimento de urânio se encontra no centro da disputa sobre o programa nuclear, já que esse material tem aplicações tanto civis quanto militares.
Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) temem que, sob a alegação de um programa civil, o Irã esteja desenvolvendo a capacidade de fazer uma bomba.
Teerã rejeita essas suspeitas e diz que seu programa atômico só tem intenções pacíficas, como a geração de energia elétrica e a luta contra o câncer.
O último relatório da AIEA foi concluído uma semana antes da próxima reunião do Conselho de Governadores da AIEA, em Viena, onde a questão do programa nuclear iraniano voltará a monopolizar grande parte da atenção.
Leia mais notícias sobre o Irã
Siga as notícias do site EXAME sobre Mundo no Twitter