Angela Merkel: partido bávaro combate desde o início a política de abertura aos solicitantes de refúgio decidida em 2015 pela chanceler (Hannibal Hanschke/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de junho de 2018 às 18h51.
A chanceler alemã, Angela Merkel, espera que os avanços desta sexta-feira (29) a nível de União Europeia (UE) e os acordos bilaterais para reduzir a pressão migratória distanciem, por enquanto, uma crise de governo maior que paira sobre a Alemanha.
O ministro do Interior, o conservador bávaro Horst Seehofer, havia dado um ultimato à chanceler: se não conseguisse avanços na cúpula da UE sobre os migrantes, que terminou nesta sexta, ordenaria no início de julho que negassem todo migrante que chegasse à Alemanha, mesmo que estivesse registrado em outro país do bloco.
Para Merkel, uma medida assim representa um perigo inaceitável para a coesão europeia já que provocaria um efeito dominó que ameaçaria acabar com a liberdade de movimento no bloco.
No caso de Seehofer decidir assim e tudo seguir adiante apesar da oposição de Merkel, todo o governo poderia cair, somente quatro meses depois de ser instalado, após vários meses de difíceis negociações.
Nesta sexta, a chanceler pôde anunciar de Bruxelas as decisões da UE e os acordos bilaterais concluídos, ou em negociação, que terão "um efeito mais do que equivalente" às medidas solicitadas por Seehofer.
O partido bávaro combate desde o início a política de abertura aos solicitantes de refúgio decidida em 2015 por Merkel, quando a Europa enfrentava a pior crise migratória desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Naquele ano, a Alemanha recebeu 890 mil solicitantes de refúgio.
Contudo, essa é a primeira vez que esta formação ameaça derrubar Merkel.
O conjunto das medidas ainda deve ser analisado no domingo pelo partido do ministro do Interior (CSU) e de Merkel (CDU), duas formações conservadoras aliadas desde 1949. Aí então se saberá se os dois se reconciliaram.
Entre as medidas que devem satisfazer os bávaros figuram os acordos bilaterais para reenviar migrantes para Espanha e Grécia.
A nível de UE, por falta de um compromisso global sobre um sistema de refúgio europeu, o compromisso encontrado pede aos Estados-membros que "tomem todas as medidas" internas necessárias para evitar que os migrantes vão de um país a outro.
Sem se aprofundar no tema de fundo, os dirigentes do CSU receberam bem esses anúncios.
"Existe toda uma série de pontos (...) que no CSU reivindicamos há tempos", disse Alexander Dobrindt, chefe de deputados do partido bávaro.
"Vamos avaliar esses resultados, mas uma coisa é certa: o debate na Alemanha fez com que se ocupassem verdadeiramente do tema migratório a nível europeu", comemorou.
O CSU, cujo eleitorado na Baviera está corroído pela extrema direita (AfD), fomentou essa revolta para ganhar o terreno perdido visando as regionais do outono (no Hemisfério Norte).
Mas essa estratégia do conflito com Merkel ainda não repercutiu nas pesquisas.
De qualquer forma, mesmo que no domingo o CSU volte a apoiar a chanceler, ela não estará a salvo de uma nova revolta nos próximos meses.
Angelika Niebler, uma das responsáveis do partido CSU, já fez uma advertência: a implementação das decisões europeias "é um tema de meses ou de anos? Não podemos esperar eternamente".
Merkel nunca pareceu tão fraca, à mercê de sua frágil coalizão, em 12 anos de poder.
Ao mesmo tempo, a ideia de legislativas antecipadas faz tremer os partidos da aliança no poder por conta do avanço da extrema direita nas votações.
O AfD, partido contra o Islã, Merkel, a União Europeia e as elites roubou eleitores do conjunto dos partidos tradicionais e poderia avançar no caso de novas eleições, afundando o país em uma profunda crise política.