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Acidentes de avião, fatalidades que evidenciam problemas

Falta de transparência sobre voos transforma a experiência do passageiro em um ato de fé, cujas informações são divulgadas apenas em caso de acidente


	Boeing da Asiana Airlines que sofreu acidente em San Francisco, Estados Unidos, em julho de 2013: na aeronave, o viajante fica vulnerável à tecnologia e à destreza de um piloto que não conhece e que se limita a saudar os passageiros pelo sistema interno de som
 (Jed Jacobsohn / Reuters)

Boeing da Asiana Airlines que sofreu acidente em San Francisco, Estados Unidos, em julho de 2013: na aeronave, o viajante fica vulnerável à tecnologia e à destreza de um piloto que não conhece e que se limita a saudar os passageiros pelo sistema interno de som (Jed Jacobsohn / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2013 às 11h01.

Los Angeles - Apesar de o avião ser, segundo as estatísticas, o meio de transporte mais seguro, a falta de transparência sobre o que acontece durante um voo transforma a experiência do passageiro em um ato de fé, cujas informações são divulgadas apenas em caso de acidente.

Dentro de uma aeronave, incomunicável e a dez mil quilômetros de altura, o viajante fica vulnerável à tecnologia e à destreza de um piloto que não conhece e que habitualmente se limita a saudar os passageiros pelo sistema interno de som.

O acidente ocorrido no sábado em San Francisco (Califórnia) quando o piloto aprendia a aterrissar um Boeing 777 da companhia sul-coreana Asiana Airlines com mais de 300 pessoas a bordo, causou duas mortes e criou polêmica.

"Quando você entra em um avião, o piloto tem literalmente sua vida nas mãos dele", declarou à Agência Efe o advogado Paul Hudson, presidente da maior organização de consumidores aéreos dos EUA, Flyers Rights, que reivindica mais informação pública sobre os profissionais que controlam os aviões.

Hudson considera que deveria existir uma base de dados acessível a qualquer um, onde constasse a destreza dos pilotos, seu histórico de conduta, suas horas de experiência, algo que, segundo sua opinião, "seria muito útil para todos" e contribuiria para elevar o nível de pilotagem.

A Administração Federal de Aviação "conta com uma base acessível apenas para os empregadores das companhias aéreas, que não permite que as pessoas façam consultas", explicou Hudson, ao lembrar que os advogados e os médicos nos EUA estão submetidos à verificação pública.


Na Flyers Rights se considera que esta lista deveria ter caráter internacional dada a frequência dos voos de code-share, aqueles em que companhias aéreas vendem os voos como próprios, mas o cliente faz a viagem com avião e tripulação de uma empresa associada.

"Hoje em dia, você já não sabe nem em qual companhia aérea viaja", disse Hudson, embora assuma que, mesmo se existisse uma base de dados pública de pilotos, ela não teria aplicação prática na compra da passagem.

"As companhias aéreas não sabem quem vai pilotar cada avião até pouco antes do voo", admitiu.

Embora as causas do acidente do avião de Asiana Airlines ainda estejam sendo investigadas, foi divulgado que o piloto tinha apenas 43 horas de prática de voo em um Boeing 777, embora fosse especialista em outras aeronaves, e que o supervisor estreava como instrutor.

A cauda do avião colidiu contra um dique antes de tocar o solo por voar baixo demais e a aeronave fez um giro de 360 graus antes de parar totalmente.

Até dois segundos antes do impacto, não houve comunicação oral entre o aprendiz e o professor, segundo constataram as autoridades.

O acidente lembrou um caso de 1999, quando outro avião sul-coreano se chocou após sair de Londres por tensões entre o capitão e o primeiro oficial atribuídas a questões de hierarquia próprias da cultura do país, embora não seja confirmado que isto tenha acontecido em San Francisco.


"Havia quatro pilotos nessa cabine (do Asiana) e todos tinham muitas horas de experiência", assegurou à Agência Efe Rudy Quevedo, diretor da Global Programs da Flight Safety Foundation, organização internacional que promove a segurança aérea, que confirmou que as "práticas" de pilotagem com voos comerciais são algo habitual.

"Em algum momento você tem que voar pela primeira vez e aterrissar pela primeira vez. É impossível fazê-lo de outra forma. Não há sinais de que isto seja um problema, mas teremos que esperar o relatório final do acidente para ver o que aconteceu", explicou.

Quevedo considera "muito altos" os padrões fixados pelas grandes alianças mundiais de companhias aéreas como One World, Star Alliance (à qual pertence a Asiana Airlines) ou Sky Team, que, em sua opinião, deveriam ser uma referência de segurança para os passageiros.

"Enquanto a pessoa estiver viajando com uma companhia aérea reconhecida, ela estará bem", afirmou o especialista, que lembrou que a probabilidade de fazer parte de um acidente aéreo com vítimas mortais é baixíssima.

"Em média, uma pessoa teria que voar todos os dias de sua vida durante 123 mil anos para ver-se envolvida em um acidente com mortos. Inclusive nessa situação, a probabilidade de sobreviver é elevada", declarou.

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