Durante os 11 meses em que esteve à frente do Ministério da Defesa, o ministro também teve que manter as relações militares com os responsáveis dos diferentes países aliados, como destaque aos EUA (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2013 às 18h31.
Cairo - O chefe das Forças Armadas do Egito, Abdel Fatah al Sisi, foi a peça que o presidente Mohamed Mursi utilizou para mudar à cúpula militar há menos de um ano e que, agora, se volta contra ele, demonstrando que o Exército atua de forma autônoma no Egito.
Sisi é o líder de um Exército que nesta quarta-feira anunciou a queda do islâmico Mursi, presidente que governou o país por menos de um ano depois de ter vencido as primeiras eleições democráticas desde a revolução que desbancou o ex-presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.
Em agosto de 2012, em uma medida inesperada, Mursi ordenou a aposentadoria do marechal Hussein Tantawi, que tinha dirigido as Forças Armadas desde 1991, e de seu "número dois", Sami Anan, que passou a ser seu conselheiro em assuntos militares.
Em seu lugar, Mursi nomeou justamente Sisi, um homem mais jovem que todos seus antecessores no cargo, o que foi interpretado na ocasião como uma reforma em toda regra do estatuto militar.
Agora, após a crise política gerada pela onda de protestos populares, parece que a história volta a se repetir, mas no sentido inverso: o Exército comandado por Sisi recorre ao golpe e retira o poder das mãos da Irmandade Muçulmana em um choque de imprevisíveis consequências.
Entre os que estão orquestrando esta nova manobra, o comandante-em-chefe aparece como uma das principais vozes, embora tenha mantido um perfil relativamente discreto durante os meses prévios como chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa.
Nascido no dia 19 de novembro de 1954, no Cairo, Sisi se formou na academia militar em 1977, quando passou a ser oficial de Infantaria.
Sisi também cursou várias mestrias de Ciências Militares no Egito, em 1987, e no Reino Unido, em 1992, assim como estudos em uma academia militar dos Estados Unidos em 2006.
Casado e pai de quatro filhos, o camandante-em-chefe ocupou diferentes postos de responsabilidade nas fileiras do Exército, sendo comandante do batalhão de Infantaria Mecanizada e chefe do departamento de Informação e Segurança da Secretaria-Geral do Ministério da Defesa.
Em sua ascensão, também ocupou o cargo de adido militar na Arábia Saudita, o que lhe deu projeção internacional entre os países do Golfo. Posteriormente, ele foi comandante de brigada e de divisão da Infantaria Mecânica, chefe do Estado-Maior e comandante da região militar norte, que correspondente à região que abrange a cidade mediterrânea de Alexandria.
Antes de se transformar em ministro da Defesa, Sisi ainda dirigiu o departamento de Inteligência Militar das Forças Armadas.
Sisi assumiu seu posto atual quando o Exército lançava uma operação na Península do Sinai para perseguir grupos armados após a morte de 16 soldados em um ataque jihadista na zona.
Os sequestros e o contrabando de armas no Sinai também o forçaram a aumentar a vigilância nessa zona.
Nos últimos meses, Sisi se mostrava inquieto perante a divisão política vivida no Egito. Em janeiro deste ano, por exemplo, Sisi chegou a dizer que o Estado corria risco de colapsar, se oferecendo para mediar os diálogos entre o governo e a oposição.
Figura afastada da imprensa, o chefe militar saltou ao primeiro plano dos veículos de comunicação em junho de 2011, quando reconheceu que membros do Exército tinham submetido às mulheres detidas na Praça Tahrir aos chamados testes de virgindade.
Posteriormente, a Anistia Internacional (AI) chegou a se reunir com Sisi, que reconheceu que esse tipo de teste foi realizado para "proteger" os militares das acusações de estupro, embora tenha assegurado que não voltaria a colocá-las em prática.
Durante os 11 meses em que esteve à frente do Ministério da Defesa, o ministro também teve que manter as relações militares com os responsáveis dos diferentes países aliados, como destaque aos EUA, que, a cada ano, proporciona ao Egito uma ajuda militar de US$ 1,3 bilhão e que segue muito atento o desenvolvimento dos últimos acontecimentos no país.