Mundo

A polêmica lei de anistia que evitou julgamentos na ditadura uruguaia

Cerca de 47% da população mostrou-se a favor da anulação da Lei de Caducidade no último referendo, em 2009

Ossadas encontradas em prédio militar no Uruguai: neste ano, o presidente José Mujica revogou mais de 80 atos administrativos que frearam investigações, o que reativou processos arquivados
 (Pablo Porciuncula/AFP)

Ossadas encontradas em prédio militar no Uruguai: neste ano, o presidente José Mujica revogou mais de 80 atos administrativos que frearam investigações, o que reativou processos arquivados (Pablo Porciuncula/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2011 às 09h39.

Montevidéu - A denominada Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado - que ficou sem efeito após uma votação no Parlamento uruguaio na madrugada desta quinta-feira - foi aprovada em dezembro de 1986, um ano e meio após o fim da última ditadura (1973-1985).

A lei, votada quando a justiça começava a indiciar militares por violações dos direitos humanos, sustenta que após o acordo entre partidos políticos e as Forças Armadas, em 1984 (que permitiu a saída da ditadura), e "para concluir a transição em direção à plena vigência da ordem constitucional", a capacidade do Estado para castigar os autores destes crimes caducou.

"Caducou o exercício da pretensão punitiva do Estado em relação aos crimes cometidos até o dia 1º de março de 1985 por funcionários militares e policiais, equiparados e assimilados por motivações políticas ou em ocasião do cumprimento de suas funções e em ocasião de ações ordenadas pelos comandos que agiram durante o período de fato", afirma a lei.

A norma estabelece que os juízes devem requerer ao Poder Executivo que informe se um fato investigado é considerado incluído na Lei de Caducidade, já que neste caso será realizado seu fechamento e arquivamento.


O artigo 4º da lei deixa em aberto a possibilidade de que sejam investigadas denúncias sobre "pessoas supostamente detidas em operações militares ou policiais e desaparecidas, assim como de menores supostamente sequestrados em condições similares".

Entre 1985 e 2005, os governos do Partido Nacional e do Partido Colorado consideraram que todos os casos recebidos não podiam ser julgados, mas com a chegada da esquerda ao poder, em 1985, o então presidente Tabaré Vázquez autorizou os primeiros julgamentos.

Desde então, mais de uma dezena de pessoas - incluindo os ex-ditadores Gregorio Alvarez e Juan María Bordaberry - foram condenadas à prisão por violações dos direitos humanos.

Neste ano, o presidente José Mujica revogou mais de 80 atos administrativos que frearam investigações, o que reativou vários processos arquivados.

Por sua vez, a Suprema Corte de Justiça - cujas decisões são aplicadas apenas aos casos para os quais foi solicitada - declarou inconstitucional a aplicação da lei em três oportunidades.

Em março, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenou ao Uruguai investigar e punir os desaparecimentos forçados, considerando que a Lei de Caducidade "carece de efeitos jurídicos".

A população uruguaia, no entanto, mostrou-se dividida em relação à lei. Em 1989, em um primeiro referendo sobre o tema, 56% dos votantes se pronunciaram a favor de manter sua vigência. Vinte anos mais tarde, em 2009, uma nova iniciativa para anular a lei recebeu uma adesão de 47%, quando precisava de mais de 50% para sua aprovação.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDireitosDitaduraJustiçaUruguai

Mais de Mundo

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal