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Peso argentino e títulos desabam após país limitar saída de recursos

Moeda subia 0,83% nas operações oficiais, mas no mercado paralelo caía 1,56%, para 64 por dólar

Presidente Mauricio Macri impôs controles de capital numa tentativa de conter a queda livre da moeda que aumenta o risco de default. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Presidente Mauricio Macri impôs controles de capital numa tentativa de conter a queda livre da moeda que aumenta o risco de default. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Reuters

Publicado em 2 de setembro de 2019 às 15h03.

Última atualização em 2 de setembro de 2019 às 15h07.

Os títulos internacionais da Argentina denominados em euro e dólar caíram para mínimas recordes nesta segunda-feira (2), enquanto o peso voltava a se desvalorizar, após o presidente Mauricio Macri no domingo impor controles de capital numa tentativa de conter a queda livre da moeda que aumenta o risco de default.

A surpresa com a medida de Macri – defensor do mercado livre que iniciou seu governo revertendo muitas práticas protecionistas de sua antecessora, Cristina Kirchner – veio depois que o governo não conseguiu conter fortes saídas de investimentos e sustentar o combalido peso.

O peso subia 0,83% nas operações oficiais, mas no mercado paralelo a moeda caía 1,56%, para 64 por dólar.

"O dólar nesse nível agora é forte o suficiente", disse o ministro da Fazenda, Hernán Lacunza, em entrevista coletiva. "Todas essas medidas têm o objetivo central de estabilidade."

O peso negociado no mercado oficial perdeu mais de 23% de seu valor desde as eleições primárias de 11 de agosto, que provocaram uma virada na política do país, com Macri, que é pró-mercado, sofrendo uma dura derrota para seu oponente Alberto Fernández.

Fernández é agora o principal candidato à frente das eleições gerais de 27 de outubro. Sua vice é a ex-presidente Cristina Kirchner, uma populista que aplicou pesados controles comerciais e cambiais durante seus dois mandatos.

Medida controversa

Tendo anunciado mudanças no pagamento de títulos da Argentina, previstos inicialmente para serem honrados na semana passada, a aplicação de controles cambiais foi a segunda medida adotada por Macri que foi de encontro a sua própria promessa de usar políticas ortodoxas para ajustar uma economia com problemas crônicos.

Algumas das novas políticas intervencionistas podem ser difíceis de serem retiradas mais tarde, disseram analistas.

"O problema das medidas restritivas de emergência é que elas são mais fáceis de aplicar do que de retirar", disse no Twitter Christian Buteler, um analista financeiro baseado em Buenos Aires.

A expectativa é de mais depreciação para o peso. "O jogo mudou para o mercado de câmbio", disse Sabrina Corujo, analista da corretora Portfolio Personal, em Buenos Aires, alertando que as ações e os títulos locais também devem enfraquecer.

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O banco central argentino foi autorizado a restringir compras de dólares ao mesmo tempo em que queima suas reservas para sustentar a moeda.

A reintrodução de controles é uma reviravolta expressiva para Macri, um defensor do livre mercado que conquistou a Presidência em 2015 com promessas de "normalizar" a terceira maior economia da América Latina, abandonando controles defendidos pelo governo anterior.

Os títulos internacionais em dólar da Argentina com vencimento em 2028 caíam mais de 2 centavos, para uma nova mínima de 36,5 centavos, segundo dados da Refinitiv. Os títulos com vencimento em 2038 registravam perdas semelhantes.

Os títulos soberanos da Argentina denominados em euro também sofriam fortes perdas, atingindo mínimas recordes nesta segunda-feira. O título 2022 caía mais de 10 centavos, para 34,45 centavos, enquanto o papel com vencimento em 2027 caía 7,2 centavos para 33,501 centavos, de acordo com dados da Refinitiv.

Os ADRs (recibos de ações negociados nos Estados Unidos) de empresas argentinas do setor financeiro também estavam sob pressão. As ações de Grupo Financiero Galicia listadas em Frankfurt caíram mais de 9%. Banco Macro SA cedia 6,5%.

Feriado limita perdas da Argentina

Esta segunda-feira é feriado nos Estados Unidos, o que poderia ajudar a controlar as perdas nos preços dos ativos argentinos, reduzindo os volumes de negociação, de acordo com Buteler.

Os prêmios de risco exigidos pelos investidores para manter em carteira os títulos em dólar da Argentina disparavam para 2.534 pontos-base pelo índice do JPMorgan de títulos de mercados emergentes em moeda forte --níveis vistos pela última vez após o grande default em 2001.

"(Os controles de capital são) um sinal de angústia no mercado e refletem que os novos parâmetros na Argentina são fracos. E quando o peso enfraquece ainda mais pesa no perfil de crédito", disse Michael Bolliger, chefe de alocação de ativos para mercados emergentes da UBS Wealth Management.

"Ainda há muita pressão sobre a moeda. Há um limite para o que eles podem fazer sem o controle de capital."

O peso argentino perdeu mais de um terço do seu valor em 2019, após uma queda de mais de 50% no ano passado. O banco central gastou quase 1 bilhão de dólares em reservas desde quarta-feira, mas não conseguiu conter a queda do peso.

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