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Coronavírus provoca perdas de US$ 25 trilhões nas bolsas do mundo todo

Para especialistas consultados por EXAME, o cenário ainda é nebuloso para afirmar que o pior já passou

Ibovespa: desde o fim 2019 até o fechamento de quinta-feira (26), as perdas do Ibovespa somavam 1,38 trilhão de reais (Axel Bueckert / EyeEm/Getty Images)

Ibovespa: desde o fim 2019 até o fechamento de quinta-feira (26), as perdas do Ibovespa somavam 1,38 trilhão de reais (Axel Bueckert / EyeEm/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 27 de março de 2020 às 19h47.

Última atualização em 30 de março de 2020 às 11h51.

São Paulo - Toda a euforia que tomava os investidores no início do ano deu lugar à dúvida quando sinais de uma epidemia começaram a surgir na China, às vésperas do Ano Novo Lunar. Desde então, o mundo mudou. O coronavírus recebeu nome (Covid-2019), se espalhou para todos os continentes e obrigou países a fecharem suas fronteiras, fábricas a pararem e milhões de pessoas a se refugiarem em suas casas.

As perdas econômicas causadas pelo isolamento social ainda são inestimáveis. Mas o mercado financeiro já sofre impactos trilionários. Até a última quarta-feira (25), a soma do valor de mercado das bolsas do mundo inteiro totalizavam 65,867 trilhões de dólares contra os 89,156 trilhões dólares registrados no dia 20 de janeiro, segundo ferramenta de dados financeiros Bloomberg. No início da semana, quando as bolsas atingiram a mínima desde o surgimento do novo coronavírus, o prejuízo chegou a superar os 25 trilhões de dólares.

Nos Estados Unidos, onde a quantidade de infectados se aproxima dos 100 mil e já ultrapassa o número de casos da China, o S&P 500 teve queda de 35% entre a máxima do ano e a mínima. Mas Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, ainda acha cedo para afirmar que os mercados já enxergaram o fundo do poço. 

Na última grande crise do mercado financeiro, em 2008, o índice americano demorou dois meses para cair os mesmos 35% que, neste ano, perdeu em apenas 33 dias. Menos de dois meses depois, a queda havia se ampliado para 43,5%. “Em 2008, muitas empresas quebraram, mas nenhuma ficou por duas semanas ou um mês parada. Por esse motivo, estamos vivendo um cisne negro maior do que o daquele momento”, disse Frasson.

A medida que o tempo passa, aumentam os impactos da quarentena na economia e projeções de crescimento negativo ganham força. Nesta semana, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que, em 2020, devemos ter uma recessão global “tão ruim ou pior” do que a de 12 anos atrás.

“Não acho que essa crise seja simplesmente do mercado financeiro. A gente nunca viu algo igual e isso vai ter impacto real na economia”, disse Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da GEO Capital. Segundo Aranha, as perdas das bolsas de valores foram proporcionais ao tamanho das incertezas no mercado. “Não dá pra saber o que está no preço.”

Especialistas consultados por EXAME foram unânimes em dizer que discussão sobre a recuperação dos mercados passa pelo período que vão durar as quarentenas. “Se o mundo parar por dois meses, o estrago na economia vai ser gigantesco. Vamos ter desemprego como nunca antes”, afirmou o Rodrigo Franchini, sócio e diretor de produtos da Monte Bravo Investimentos. 

Os dados de emprego dos Estados Unidos, divulgados na quinta-feira (26) serviram de prévia dos impactos do coronavírus. Somente em um semana (finda em 21 de março), os pedidos de auxílio desemprego dispararam de 283 mil para 3,28 milhões.

Para tentar salvar a economia americana de um colapso, governo e Federal Reserve trabalham para injetar 6 trilhões de dólares, que devem ser usados para financiar empresas e famílias. 

Embora a medida tenha aliviado parte da tensão no mercado, Gustavo Aranha não vê um forte movimento de recuperação no curto prazo. “Esses pacotes demoram muito até terem fins práticos. Os governos vão ter que entrar no jogo, mas não vão acabar com a volatilidade do mercado.”

No Brasil, as expectativas para a economia também não são animadoras. Há poucos dias, o Banco Central rebaixou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2% para zero. Ainda assim, a estimativa foi considerada “otimista” por muitos economistas. 

A perspectiva do BTG é a de que o PIB brasileiro tenha contração de 1,5% neste ano, caso a quarentena dure até o fim de abril. Se durar até junho, como pedem parte dos especialistas da área da saúde, a diminuição do PIB poderia chegar a 4% pelas previsões do banco. 

No ano, o principal índice de ações do país, o Ibovespa, amargou um dos piores desempenhos do mundo, chegando a despencar até 48% entre janeiro e março. Desde o fim 2019 até o fechamento de quinta-feira (26), as perdas da bolsa brasileira somavam 1,377 trilhão de reais, de acordo com dados do serviço de informações financeiras Economática.

Quando o efeito do coronavírus passar, a tendência é a de haja maior apetite a risco, o que beneficiaria os mercados emergentes. Mas a decisão de investir no Brasil ou não, deve passar por como o país vai lidar com a crise.

Além do risco político, que vem ganhando mais notoriedade no mercado, também está no radar dos investidores os estímulos fiscais e monetários promovidos pelo governo e Banco Central.

"É preciso aumentar os gastos públicos de curto prazo para suavizar a crise, mas, diferentemente de 2008, vamos precisar de maior responsabilidade com as contas públicas. Na época, tínhamos saúde fiscal, agora temos doença fiscal”, disse Frasson. 

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