Imóveis: Segundo dados da CNI e do Ibope, 60% da população brasileira pretende reduzir o consumo porque teme uma retração da economia (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2012 às 12h05.
São Paulo - Alvo de um dos mais recentes movimentos do governo federal para impulsionar o desempenho do país, o setor imobiliário figura como uma das apostas da presidente Dilma Rousseff para colocar a economia de volta nos trilhos, mas o segmento pode ver nos preços elevados um fator limitador do crescimento no próximo ano.
"A principal questão gira em torno de preços e da dificuldade das famílias comprarem um imóvel que caiba no orçamento", afirmou a economista Ana Maria Castelo, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
"A decisão de compra pode ser adiada com o consumidor à espera de estabilização (de preços), já que a inadimplência alta vem resultando em menor renda disponível", acrescentou a economista.
Embora o consumo no país tenha começado a se recuperar na segunda metade de 2012, após sofrer desaceleração generalizada desde o fim de 2011, a população se encontra diante de um cenário de alto endividamento e inadimplência em patamares elevados, resultando em maior cautela e numa possível inibição da demanda no mercado imobiliário.
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Ibope, 60 por cento da população brasileira pretende reduzir o consumo porque teme uma retração da economia. Também conforme a CNI, 41 por cento das pessoas possuem dívidas, sendo que 42 por cento delas já alcançaram o limite de comprometimento do orçamento.
"Uma questão para a qual não está se dando importância é o nível de endividamento muito elevado da população", disse o presidente do sindicato da habitação na capital paulista, Secovi-SP, Cláudio Bernardes, para quem o desempenho do setor imobiliário está diretamente ligado ao crescimento da economia "Se a economia vai bem, o mercado imobiliário vai bem também." ESTÍMULOS AO SETOR O índice FipeZap de preços de imóveis anunciados no Brasil avançou 13,8 por cento nos 12 meses até novembro de 2012, após quase dobrar nos últimos três anos.
Ainda que representantes do setor sejam unânimes em afirmar que os preços de imóveis não caem, as recentes medidas de incentivo divulgadas pelo governo podem contribuir para que eles parem de subir.
O governo divulgou no início de dezembro um pacote de medidas para a construção civil, que incluiu desoneração da folha de pagamento, redução de impostos e linha de capital de giro com taxas de juros mais baixas.
Tais medidas tendem a se refletir principalmente em menor pressão de custos para as construtoras, que vêm lutando para equacionar estouros de orçamento causados, em grande parte, pela escassez de mão de obra qualificada.
"As empresas, que repassavam o aperto de margens no preço, poderão praticar valores mais competitivos", disse o analista Wesley Bernabé, do BB Investimentos. "Os preços não devem cair, mas podem ficar estáveis." Apesar de serem apontadas como positivas para o setor, as medidas apresentadas --e ainda não detalhadas-- resultaram em incertezas entre agentes do setor que não conseguem dimensionar o real impacto para as empresas e para o mercado como um todo.
Umas das principais dúvidas envolve a desoneração em folha também para terceirizados, visto que muitas construtoras recorrem a essa opção para driblar problemas com a mão de obra.
"Muitos pontos ainda não estão claros, ainda falta um detalhamento... E o impacto (das medidas) não vai ser imediato", acrescentou Bernabé, lembrando que o setor opera em ciclos longos, de até 36 meses.
Para o professor titular do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP, João da Rocha Lima Jr., a desoneração é a principal medida, garantindo redução de custos às construtoras e incorporadoras.
"A questão é saber se essa economia vai se transformar em (redução de) preço. O mais razoável é esperar que resulte em melhoria da qualidade dos imóveis, com os preços se mantendo", disse ele.
Ainda para mitigar a contenção da demanda pelos preços elevados dos imóveis, pesquisa Reuters mostrou que sete de 10 analistas consultados esperam aumento do teto para compra de residência com uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), atualmente em 500 mil reais. As estimativas variaram de 600 mil a 750 mil reais --alta entre 20 e 50 por cento.
MINHA CASA, MINHA VIDA - O programa "Minha Casa, Minha Vida" --uma das principais bandeiras do governo-- vem deixando para trás os entraves que fizeram com que demorasse para entrar efetivamente em operação, embora os números para a população que ganha até 1.600 reais --a chamada faixa 1-- ainda preocupem.
A segunda etapa do programa, anunciada em junho de 2011, prevê 2,4 milhões de moradias contratadas até 2014, sendo metade do volume para famílias que ganham até três salários mínimos. Até agora, foram contratadas 1 milhão de unidades na segunda fase, sendo menos de um terço voltado à primeira faixa de renda.
Isso porque, apesar de o governo ter elevado recentemente o valor máximo para as contratações na faixa 1 em cerca de 15,6 por cento, para 76 mil reais, a construção de moradias nas principais capitais por esse valor ainda é considerada inviável.
"Os grandes centros urbanos não têm conseguido viabilizar unidades na faixa 1", disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Sergio Watanabe.
"Essa faixa vem sendo viabilizada nas pequenas cidades e regiões periféricas... Mas o maior problema de déficit habitacional está nas grandes cidades", alertou Watanabe.