Mercado de cosméticos ainda está em falta com a pele negra
Em um levantamento entre as principais marcas, raras foram as que dispunham de itens exclusivos para essas consumidoras
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2011 às 21h44.
São Paulo - A variedade da pele negra é enorme, mas o mercado de beleza não tem oferecido produtos na mesma proporção. Em um levantamento entre as principais marcas, raras foram as que dispunham de itens exclusivos para essas consumidoras. A base, por exemplo, é essencial na maquiagem, mas é difícil encontrar uma tonalidade ideal entre a ampla gama vendida para mulheres de pele branca, observa Mirian Costa, maquiadora da marca de cosméticos Dailus. "Fizemos uma pesquisa e percebemos essa carência", diz a profissional. "Para preencher essa lacuna, a empresa criou uma vasta linha para essas mulheres."
Ao desenvolver maquiagem para pele negra, a Dailus delineou um panorama do consumo de beleza feminino por região. Mirian conta que, no Sul, a venda se concentra em maquiagens de tom rosa por causa da ascendência europeia, na qual predomina pele bem clarinha. Já nas cidades do Rio, Vitória e Salvador, os campeões de vendas são os produtos direcionados para as muitas tonalidades que vão da morena à negra. Em São Paulo, contudo, a mistura é tão grande que fica impossível definir um perfil dominante.
Apesar da predominância morena e negra no País, Julia Petit reclama da postura das empresas nacionais. "É como se aqui fosse um país nórdico", brada a produtora expert em make-up, autora do blog Petiscos e apresentadora do programa "Base Aliada" (GNT) - ambos com conteúdo de beleza e moda.
Sua indignação é tão grande que ela não cansa de fazer a mesma pergunta quando encontra alguém do ramo de cosméticos: "Você tem linha para pele negra?" Mas a resposta que mais escuta é: "Não há mercado para esse nicho". Julia questiona: "Será que não tem mercado porque não tem produto?" Para ela, o mercado brasileiro é muito atrasado nesse sentido.
De acordo com a produtora, enquanto lá fora há uma infinidade de opções, aqui a oferta ainda é pífia. "Tenho muitas amigas negras, além das minhas leitoras, que reclamam da dificuldade de encontrar principalmente base adequada - que, junto com o corretivo, é o produto mais importante de um make", ressalta Julia. "O resto, como sombra e batom, é mais fácil de resolver."
Também é difícil encontrar profissionais que dominem a maquiagem na pele negra. A atriz Fernanda Lisboa, de 22 anos, conta que já foi vítima frequente de mãos inábeis. Hoje, quando precisa fazer algum trabalho de foto, a atriz prefere chamar seu maquiador, Pedro Villar. Em último caso, ela mesma se maquia para não correr o risco de ficar com a cara branca - por causa de um tom de base mal escolhido.
"Se erram na base, a maquiagem inteira não se salva", avisa a baiana Fernanda, que atualmente mora em São Paulo e se prepara para estrear, em novembro, a peça "Meninas.com". Para garantir um make bacana, ela segue a regra básica válida para todas as mulheres, independentemente do tom da pele: se o olho está colorido, a boca fica discreta. Se a boca está forte, o olho é "nada" - só um rímel. Assim se evita o make "carnaval".
Para o maquiador Pedro Villar, queridinho de Fernanda e de outras celebrities, o problema mais comum é deixar a pele negra acinzentada por causa da base inadequada. "A base tem de ficar translúcida, para ser imperceptível", explica o especialista. "E o corretivo só um tom mais claro, para dar luminosidade ao redor dos olhos."
A base e o corretivo, avisa Pedro, devem ser aplicados sobre a pele em pouca quantidade. "Não carregue. Assim, o resultado será mais natural", ensina. "Um erro que costumo ver muito na rua é a negra passar delineador branco ou prateado", conta o maquiador. "Além de feio, é muito brega."
A atriz Adriana Alves, de 34 anos, sabe muito bem o que fazer para evitar deslizes. "Comecei a entender de maquiagem aos 17 anos, depois de ter ficado muitas vezes com a cara pálida por erro", conta. "Era comum um maquiador dizer que a pele negra não precisava de muitas aquisições por ser muito boa. Mas eu sabia que, no fundo, era uma justificativa por não terem produtos apropriados."
Naquela época, Adriana descobriu uma marca brasileira chamada Muene - ainda à venda em uma loja da Galeria Presidente, no centro de São Paulo -, que a salvou. Sempre carregava na bolsa os produtos e apresentava aos maquiadores. Hoje, a marca preferida da beldade é a importada Make Up For Ever. Ela usa a base número 180. Para o blush, aposta nas cores avermelhadas, por combinarem melhor com seu tom de pele. E adora caprichar nos olhos, então as sombras são sua paixão. Seus tons prediletos são dourado, terra, marrom e preto, especialmente os da M.A.C.
A indicação do badalado maquiador Marcos Costa, consultor da Natura, é a mesma para toda mulher: testar no rosto a base e o corretivo antes de comprar é a melhor opção para não errar. Sobretudo para uniformizar adequadamente peles com manchas perto da raiz dos cabelos e em volta dos lábios, problema comum entre as negras.
Com relação às cores, Marcos Costa explica que negras com peles mais escuras combinam com berinjela, vinho, vermelho e rosa fechado. Já para as de pele mais clara, ele recomenda rosa mais claro, bronze e azul. O tom de blush é outra grande dúvida. "Amo blush rosa para negras porque cria um bom contraste para a pele", ressalta. "Gosto também da mistura de bronze com rosa, que é curinga e vai bem com negras de vários tons de pele. Já a negra mais escura deve experimentar um vinho mais avermelhado. Fica bárbaro!"
Sobre batons, o maquiador explica que as negras geralmente evitam cores vibrantes por acreditarem que evidenciam seus lábios carnudos. Mas Costa, ao contrário, aposta nos vermelhos para essas mulheres. Entram também nessa lista rosa, vinho, dourado e, evidentemente, as variações de marrom que, para as muito morenas, viram cor de boca. Os produtos que ele recomenda são a linha Aquarela da Natura, com destaque para a base número 24, e as marcas importadas Bobbi Brown e Make Up For Ever.
BOX
Dicas de glamour de Marcos Costa
- Apesar de as peles escuras serem mais resistentes por natureza, sofrem com manchas, olheiras e excesso de oleosidade, explica Costa. O desafio, portanto, é encontrar a base ideal, de acordo com as características pessoais. Se o tom for mais claro que a pele, a tendência é que o rosto fique cinza.
- Com a pele pronta, é a vez dos olhos. Use sombra preta em toda a pálpebra móvel, da raiz dos cílios à dobra do olho, e esfume bem. Em seguida, capriche na máscara preta, que valoriza os cílios.
- O blush vinho se transforma em um lindo tom rosado em peles negras. Na boca, não tenha medo do vermelho paixão para deixar os lábios sensuais. Abuse da cor e deixe o marronzinho na gaveta.
- Quer um make mais discreto? Para as mais claras, Costa sugere tons de rosa, laranja, dourado e castanho. Já as peles mais escuras pedem vinho, rosa escuro, preto, bronze e berinjela.
São Paulo - A variedade da pele negra é enorme, mas o mercado de beleza não tem oferecido produtos na mesma proporção. Em um levantamento entre as principais marcas, raras foram as que dispunham de itens exclusivos para essas consumidoras. A base, por exemplo, é essencial na maquiagem, mas é difícil encontrar uma tonalidade ideal entre a ampla gama vendida para mulheres de pele branca, observa Mirian Costa, maquiadora da marca de cosméticos Dailus. "Fizemos uma pesquisa e percebemos essa carência", diz a profissional. "Para preencher essa lacuna, a empresa criou uma vasta linha para essas mulheres."
Ao desenvolver maquiagem para pele negra, a Dailus delineou um panorama do consumo de beleza feminino por região. Mirian conta que, no Sul, a venda se concentra em maquiagens de tom rosa por causa da ascendência europeia, na qual predomina pele bem clarinha. Já nas cidades do Rio, Vitória e Salvador, os campeões de vendas são os produtos direcionados para as muitas tonalidades que vão da morena à negra. Em São Paulo, contudo, a mistura é tão grande que fica impossível definir um perfil dominante.
Apesar da predominância morena e negra no País, Julia Petit reclama da postura das empresas nacionais. "É como se aqui fosse um país nórdico", brada a produtora expert em make-up, autora do blog Petiscos e apresentadora do programa "Base Aliada" (GNT) - ambos com conteúdo de beleza e moda.
Sua indignação é tão grande que ela não cansa de fazer a mesma pergunta quando encontra alguém do ramo de cosméticos: "Você tem linha para pele negra?" Mas a resposta que mais escuta é: "Não há mercado para esse nicho". Julia questiona: "Será que não tem mercado porque não tem produto?" Para ela, o mercado brasileiro é muito atrasado nesse sentido.
De acordo com a produtora, enquanto lá fora há uma infinidade de opções, aqui a oferta ainda é pífia. "Tenho muitas amigas negras, além das minhas leitoras, que reclamam da dificuldade de encontrar principalmente base adequada - que, junto com o corretivo, é o produto mais importante de um make", ressalta Julia. "O resto, como sombra e batom, é mais fácil de resolver."
Também é difícil encontrar profissionais que dominem a maquiagem na pele negra. A atriz Fernanda Lisboa, de 22 anos, conta que já foi vítima frequente de mãos inábeis. Hoje, quando precisa fazer algum trabalho de foto, a atriz prefere chamar seu maquiador, Pedro Villar. Em último caso, ela mesma se maquia para não correr o risco de ficar com a cara branca - por causa de um tom de base mal escolhido.
"Se erram na base, a maquiagem inteira não se salva", avisa a baiana Fernanda, que atualmente mora em São Paulo e se prepara para estrear, em novembro, a peça "Meninas.com". Para garantir um make bacana, ela segue a regra básica válida para todas as mulheres, independentemente do tom da pele: se o olho está colorido, a boca fica discreta. Se a boca está forte, o olho é "nada" - só um rímel. Assim se evita o make "carnaval".
Para o maquiador Pedro Villar, queridinho de Fernanda e de outras celebrities, o problema mais comum é deixar a pele negra acinzentada por causa da base inadequada. "A base tem de ficar translúcida, para ser imperceptível", explica o especialista. "E o corretivo só um tom mais claro, para dar luminosidade ao redor dos olhos."
A base e o corretivo, avisa Pedro, devem ser aplicados sobre a pele em pouca quantidade. "Não carregue. Assim, o resultado será mais natural", ensina. "Um erro que costumo ver muito na rua é a negra passar delineador branco ou prateado", conta o maquiador. "Além de feio, é muito brega."
A atriz Adriana Alves, de 34 anos, sabe muito bem o que fazer para evitar deslizes. "Comecei a entender de maquiagem aos 17 anos, depois de ter ficado muitas vezes com a cara pálida por erro", conta. "Era comum um maquiador dizer que a pele negra não precisava de muitas aquisições por ser muito boa. Mas eu sabia que, no fundo, era uma justificativa por não terem produtos apropriados."
Naquela época, Adriana descobriu uma marca brasileira chamada Muene - ainda à venda em uma loja da Galeria Presidente, no centro de São Paulo -, que a salvou. Sempre carregava na bolsa os produtos e apresentava aos maquiadores. Hoje, a marca preferida da beldade é a importada Make Up For Ever. Ela usa a base número 180. Para o blush, aposta nas cores avermelhadas, por combinarem melhor com seu tom de pele. E adora caprichar nos olhos, então as sombras são sua paixão. Seus tons prediletos são dourado, terra, marrom e preto, especialmente os da M.A.C.
A indicação do badalado maquiador Marcos Costa, consultor da Natura, é a mesma para toda mulher: testar no rosto a base e o corretivo antes de comprar é a melhor opção para não errar. Sobretudo para uniformizar adequadamente peles com manchas perto da raiz dos cabelos e em volta dos lábios, problema comum entre as negras.
Com relação às cores, Marcos Costa explica que negras com peles mais escuras combinam com berinjela, vinho, vermelho e rosa fechado. Já para as de pele mais clara, ele recomenda rosa mais claro, bronze e azul. O tom de blush é outra grande dúvida. "Amo blush rosa para negras porque cria um bom contraste para a pele", ressalta. "Gosto também da mistura de bronze com rosa, que é curinga e vai bem com negras de vários tons de pele. Já a negra mais escura deve experimentar um vinho mais avermelhado. Fica bárbaro!"
Sobre batons, o maquiador explica que as negras geralmente evitam cores vibrantes por acreditarem que evidenciam seus lábios carnudos. Mas Costa, ao contrário, aposta nos vermelhos para essas mulheres. Entram também nessa lista rosa, vinho, dourado e, evidentemente, as variações de marrom que, para as muito morenas, viram cor de boca. Os produtos que ele recomenda são a linha Aquarela da Natura, com destaque para a base número 24, e as marcas importadas Bobbi Brown e Make Up For Ever.
BOX
Dicas de glamour de Marcos Costa
- Apesar de as peles escuras serem mais resistentes por natureza, sofrem com manchas, olheiras e excesso de oleosidade, explica Costa. O desafio, portanto, é encontrar a base ideal, de acordo com as características pessoais. Se o tom for mais claro que a pele, a tendência é que o rosto fique cinza.
- Com a pele pronta, é a vez dos olhos. Use sombra preta em toda a pálpebra móvel, da raiz dos cílios à dobra do olho, e esfume bem. Em seguida, capriche na máscara preta, que valoriza os cílios.
- O blush vinho se transforma em um lindo tom rosado em peles negras. Na boca, não tenha medo do vermelho paixão para deixar os lábios sensuais. Abuse da cor e deixe o marronzinho na gaveta.
- Quer um make mais discreto? Para as mais claras, Costa sugere tons de rosa, laranja, dourado e castanho. Já as peles mais escuras pedem vinho, rosa escuro, preto, bronze e berinjela.