Turismo cultural: porque a vida sem arte é inconcebível
Atividade permite que os visitantes mergulhem em tradições e aprendam sobre a história local, culinária, música e outras manifestações artísticas
CEO do Grupo Clara Resorts
Publicado em 2 de julho de 2024 às 10h00.
Da mesma maneira que há o turismo de negócios, com profissionais que se deslocam para participar de encontros corporativos e de megaeventos disruptivos, como o SXSW, existe um turismo voltado à arte. E este segmento não é pouca coisa. Também chamado de turismo cultural, ele representa cerca de 40% das receitas totais do setor no planeta, conforme dados da Organização Mundial do Turismo (OMT).
Art Basel Miami Beach, Flip, SP-Arte, Bienal de São Paulo, ArtRio, Biennale di Venezia e Inhotim são alguns dos destinos das pessoas e grupos que se movem pelas artes e as colocam em primazia nos itinerários turísticos.
O turismo cultural permite que os visitantes mergulhem em tradições antigas e contemporâneas, aprendam sobre a história local, experimentem a culinária, música e outras manifestações artísticas, como pintura, escultura e arquitetura. Ao valorizar locais históricos, monumentos e museus, contribui para a preservação do patrimônio material e imaterial. E, de quebra, gera empregos e renda para as comunidades locais, especialmente nas áreas relacionadas às artes, artesanato, gastronomia e serviços turísticos, incluindo a hotelaria.
Para se ter uma ideia, a Art Basel Miami Beach expôs em 2022 obras em 282 galerias, de 38 países, incluindo 26 estreantes, atraindo visitantes de todo o mundo. Os economistas estimam que ela gera de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões anualmente na cadeia produtiva do turismo da cidade da Flórida, nos EUA. Outro evento paralelo, ocorrido no mesmo período, a Miami Art Week, atrai mais de 100 mil pessoas, beneficiando também hotéis, restaurantes e outras empresas locais. A onda artística eufórica envolve desde artistas até megacelebridades, incluindo colecionadores que, ao abrirem suas casas para VIPs, reforçam ainda mais a reputação de Miami como um centro de entretenimento e arte global.
É claro que grandes marcas também estão embarcando no turismo cultural. Uma parceria entre a Louis Vuitton e a renomada artista Yayoi Kusama resultou em colaborações criativas notáveis como as coleções "Painted Dots", "Metal Dots", "Infinity Dots" e "Psychedelic Flower" em acessórios, prêt-à-porter e fragrâncias. A segunda parte, chamada Drop 2, lançada em 2023, expandiu a colaboração com novos produtos para homens e mulheres, unindo arte e moda de maneira única. O Anoitecer de Inhotim, evento de funding do Instituto Inhotim, tem entre seus patrocinadores Gucci.
E por que esse interesse de grifes como Louis Vuitton, Gucci, Tiffany e Cartier pelas artes? Especialistas em luxury goods afirmam que nada falta aos endinheirados compradores de produtos destas marcas icônicas e que o modo de suscitar o interesse deles por novos itens de seus portfólios é associá-las às artes, tornando-se elas o leitmotiv do consumo. Com esta associação, se reforça a relação afetivo-cultural que os amantes das grifes têm com elas. Faz todo sentido, não é?
Já no caso da alta hotelaria, o meu core business, o turismo de arte é uma oportunidade de associar a marca não somente em eventos esporádicos e pontuais, mas também a um ícone cultural, como ocorre na parceria entre o Clara Resorts e o Instituto Inhotim, mantenedor do maior complexo de arte contemporânea e jardins botânicos do mundo, com a vindoura abertura do hotel.
Assim como nas dependências do museu a céu aberto, pintura, escultura e arquitetura, entre outras manifestações artísticas, serão exaltadas nas instalações do novo resort que tem tudo para se tornar, também ele, uma obra de arte em sinergia com Inhotim. Artistas plásticos nacionais e locais, bem como artesãos da comunidade, estão sendo fomentados por esta experiência única na hotelaria e museologia brasileira.
Em sua personalidade complexa, mas marcadamente pessimista, o Friedrich Nietzsche teria dito que “a arte torna a vida suportável”. Com isso, o filósofo alemão acreditava que ela, ao embelezar a vida e proporcionar significado estético, torna nossa existência menos sofrível e rica. Gosto de alguns aforismas de Nietzsche, mas prefiro este de nosso poeta maranhense, Ferreira Gullar: “a arte existe porque só a vida não basta”. Arte é vida. E vida sem arte, é inconcebível.