Líderes Extraordinários

As lições dos treinadores olímpicos aos líderes empresariais

Apesar de não subirem ao pódio, esses profissionais desempenham papéis essenciais que vão além do esporte, oferecendo valiosas lições de liderança, resiliência e trabalho em equipe

Zé Roberto, técnico da seleção brasileira de vôlei, conduziu selecionados em nove Olimpíadas, sendo o único brasileiro tricampeão olímpico no esporte. (CBV/Agência Brasil)

Zé Roberto, técnico da seleção brasileira de vôlei, conduziu selecionados em nove Olimpíadas, sendo o único brasileiro tricampeão olímpico no esporte. (CBV/Agência Brasil)

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 16h30.

Se há injustiça nos Jogos Olímpicos, a maior delas é que – acreditem – os treinadores não recebam medalhas e nem subam ao pódio. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), as medalhas são destinadas somente aos atletas pelo seu desempenho individual ou em equipe. Este que vos escreve discorda: o COI deveria, sim, reconhecer a importância dos treinadores, e com os mesmos merecidos prêmios.

Uma forma, então, de reconhecer os treinadores olímpicos é este artigo, pois eles têm muito a nos ensinar sobre liderança, trabalho em equipe, estabelecimento de metas, disciplina, comunicação, motivação, adaptação, resiliência e, finalmente, gestão de equipes, inclusive quando se aborda todo o estresse envolvido e a importância do descanso.

Essas lições não são apenas aplicáveis ao esporte, mas também podem ser valiosas em contextos pessoais e profissionais, em especial para líderes empresariais, afinal demonstram que, sob uma liderança eficaz e inspiradora, os princípios que guiam os atletas olímpicos podem ser aplicados para criar times empresariais mais fortes, resilientes e bem-sucedidos. A verdade é que, acima de tudo, os treinadores desempenham papéis cruciais no êxito de seus atletas e são exemplos de dedicação e excelência no esporte.

De cara, vem em mente José Roberto Guimarães. Zé Roberto, como é conhecido, conduziu selecionados em nove Olimpíadas, sendo o único brasileiro tricampeão olímpico no vôlei, ajudando diferentes equipes a conquistar um total de cinco medalhas: ouro, com a seleção masculina em Barcelona 1992; ouro, com a feminina em Pequim 2008; ouro, mais uma vez, com a feminina em Londres 2012; prata, com a feminina em Tóquio 2020 e, recentemente, bronze com a feminina em Paris 2024.

A somatória das conquistas de Zé Roberto fala por si só, mas nestes últimos jogos, em particular, ele nos trouxe vários ensinamentos que demonstram como a combinação de planejamento, resiliência e uma forte cultura de equipe pode levar ao sucesso, seja no esporte, seja no mundo corporativo.

Zé planejou cada detalhe da temporada, garantindo que a equipe estivesse no seu melhor durante as competições em Paris e acreditando que as experiências a tornariam ainda mais forte e preparada para os desafios. Para isso, criou um ambiente de confiança e colaboração, no qual cada jogadora se sentia valorizada e motivada a dar o seu melhor.  Durante os Jogos, ele mostrou como a gestão das emoções é crucial, mantendo a calma e confiança mesmo em momentos de grande pressão, transmitindo essa serenidade para suas atletas. E, após a conquista do bronze, Zé destacou a importância de valorizar cada conquista, independentemente da cor da medalha e lugar no pódio.

Outro campeão em todos os sentidos é Francisco Porath, treinador de Rebeca Andrade.  Porath trouxe vários aprendizados preciosos ao treinamento da ginasta, que mostram como a combinação de técnica, cuidado e apoio emocional pode levar a êxitos tanto no esporte como na vida profissional. Podemos facilmente identificar como a cumplicidade, segurança e confiança, as quais têm uma relação esportiva de mais de 20 anos; o respeito aos limites do corpo, em especial após as lesões graves no joelho da atleta; disciplina e dedicação, mediante uma rotina rigorosa e consistente para alcançar a excelência; adaptação e resiliência, avaliando constantemente quais melhorias podem ser implementadas de forma segura e eficaz, e, finalmente, emoção e motivação. O resultado de todo esse robusto cabedal de competências é que Chico celebra cada vitória como um reconhecimento do esforço conjunto dele e da ginasta.

Não por acaso, a maioria dessas lições é compartilhada por Leandro Guilheiro, treinador da judoca medalhista de ouro Beatriz Souza. Porém, como cada treinamento é customizado e de acordo com as necessidades da atleta, Leandro ainda teve o cuidado de mostrar para a judoca campeã vídeos com orientações detalhadas entre as lutas, reforçando técnicas e estratégias previamente treinadas. Além de todas as habilidades técnicas, no contexto do recente falecimento da avó de Beatriz, ele mostrou como o apoio emocional de um treinador é crucial, oferecendo suporte e motivação contínuos.

Outro treinador que nos presenteou com aprendizados é Artur Elias. Conduzindo a seleção olímpica feminina de futebol do Brasil, Artur é conhecido por seu estilo de jogo ofensivo e arrojado, que tornou o futebol feminino brasileiro mais atraente e competitivo em Paris. Para isso, ele criou um ambiente de trabalho de união, no qual cada jogadora se sentia valorizada e motivada a dar o seu melhor.

Essa coesão foi fundamental para o sucesso da equipe e resultou na medalha de prata, voltando a colocar o Brasil no pódio, 16 anos depois de Pequim 2008. São essas e outras lições trazidas por Artur que mostram como a combinação de um estilo de jogo inovador, planejamento cuidadoso e uma forte cultura de equipe pode levar ao sucesso mais que merecido!

Há mais um aprendizado que Paris reforçou: de modo geral, equipes diversas e inclusivas contribuem decisivamente para o sucesso. Da mesma forma, empresas que valorizam a diversidade e a inclusão também tendem a ser mais inovadoras e competitivas, pois aproveitam as diferentes perspectivas e habilidades de seus colaboradores. Os jogos na capital francesa também enfatizaram que o trabalho dos treinadores com a inteligência emocional de atletas os ajuda a manter a calma sob pressão. Neste sentido, líderes empresariais podem – e devem – fazer o mesmo, oferecendo suporte emocional e criando um ambiente de trabalho no qual funcionários se sintam seguros para expressar suas emoções e preocupações.

Todos esses aprendizados transformados em práticas no dia a dia de líderes empresariais, em conjunto com seus liderados, não só melhoram o desempenho individual e coletivo, mas também criam um ambiente de trabalho mais positivo e produtivo. Que tal vivenciarmos as lições destes treinadores ao longo dos próximos quatro anos? A recompensa pode chegar bem antes das próximas Olimpíadas, em 2028, em Los Angeles.

 

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