No ambiente corporativo, somos constantemente desafiados a avaliar pessoas, tomar decisões sobre liderança e construir relações de confiança. Para lidar com essa complexidade, nossa mente recorre a atalhos — as chamadas “armadilhas mentais” — que podem limitar nossa capacidade de enxergar o potencial dos outros e de nós mesmos. Jennifer Garvey-Berger, referência em desenvolvimento de líderes para contextos complexos, identificou cinco armadilhas principais, que merecem atenção especial no mundo dos negócios:
- Simplificação de Histórias: Tendemos a criar narrativas simples, rapidamente identificando heróis ou culpados, talvez por influência da indústria cinematográfica ou da literatura aprendida na escola. Isso nos impede de enxergar nuances e múltiplas perspectivas. Ao ouvir sobre um conflito entre colegas, rapidamente escolhemos um lado, sem considerar que ambos podem ter razões legítimas. Dessa forma, quando perceber que está simplificando uma situação, pergunte-se: Que outras versões dessa história podem ser verdadeiras? O que eu ainda não sei sobre esse contexto? Ouvir diferentes versões e considerar que todos podem ter justificativas plausíveis para agir como agem pode ajudar.
- Certeza: Acreditamos rapidamente que estamos certos sobre algo, sem considerar a possibilidade de erro ou de outras interpretações. Em uma reunião, você acredita que sua solução é a melhor e pode não considerar alternativas, ignorando contribuições valiosas. Antes de tomar uma decisão, questione: E se eu estiver errado? Que evidências podem desafiar minha certeza? Praticar a dúvida construtiva abre espaço para o aprendizado e evita julgamentos precipitados.
- Acordo: Valorizamos a harmonia e evitamos conflitos, mesmo quando o debate poderia ser construtivo e aprofundar a reflexão. Evitar discordar de um colega para manter o clima agradável, mesmo sabendo que o diálogo crítico poderia enriquecer o projeto, pode ser uma oportunidade perdida. Então pergunte: Como o debate pode ser construtivo para o grupo? Que perguntas posso fazer para aprofundar a reflexão? Incentivar a troca de pontos de vista saudáveis e valorizar opiniões divergentes contribui para uma melhor solução.
- Necessidade de Controle: Tentamos controlar a complexidade, acreditando que precisamos atuar diretamente sobre tudo para garantir os resultados esperados ou evitar surpresas desagradáveis. Ter o domínio total sobre as tarefas e decisões, acreditando que só assim teremos bons resultados, pode sobrecarregar e limitar a discussão. Ideal seria habilitar as pessoas para a discussão, se perguntando: Como posso criar espaço para que outros contribuam? Como posso ampliar possibilidades ao invés de conduzir tudo? Delegue, confie e aceite que nem tudo está sob seu controle.
- Identidade/Ego: Protegemos quem somos, resistindo a mudanças que possam ameaçar nossa identidade. Porém, os feedbacks que desafiam nossa forma de agir ou pensar ou ainda que podem impactar nossa reputação, podem ajudar a refletir sobre nossa evolução pessoal. Para isso, pergunte-se: Que versão de mim mesmo quero construir? Que mudanças posso abraçar para crescer? Reflita sobre quem você gostaria de ser, abra-se para devolutivas e esteja disposto a evoluir.
Para transformar essas reflexões em ação, proponho cinco perguntas-chave:
- Qual dessas armadilhas você percebe com mais frequência em sua atuação?
- Em que situações ela costuma aparecer?
- Que ação concreta você pode tomar para começar a superá-la?
- Quem pode te ajudar nesse processo de mudança?
- Que benefícios você espera ao ampliar sua consciência sobre essas armadilhas?
Reconhecer e atuar sobre as armadilhas mentais é um exercício contínuo de autoconhecimento e desenvolvimento. Ao desafiar nossos próprios padrões, abrimos espaço para decisões mais acertadas, relações mais autênticas e ambientes de trabalho mais colaborativos e inovadores.