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Venture Capital e Private Equity: para quem, como e para quê

A diferença entre o risco das ações da bolsa e as desses segmentos não colabora para explicar a preferência

Sigrid Guimarães: não sugiro a ninguém concentrar todo o excedente em um só tipo de investimento (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães: não sugiro a ninguém concentrar todo o excedente em um só tipo de investimento (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães
Sigrid Guimarães

CEO da Alocc Gestão Patrimonial

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 09h54.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 09h56.

Por Sigrid Guimarães*

Na rotina de ajudar clientes a distinguir entre impressões emocionais e avaliações de risco, calculadas e objetivas, uma das situações mais curiosas acontece quando pessoas muito precavidas contra a volatilidade da bolsa se entusiasmam com investimentos em venture capital e private equity; ou seja... em ações. A diferença entre o risco das ações da bolsa e as desses segmentos (ações de empresas fechadas, com menor transparência, estrutura e oportunidades de crédito, muito mais vulneráveis à instabilidade econômica e sujeitas ao fracasso total) não colabora para explicar a preferência.

No caso do venture capital, investe-se em empresas emergentes que, muitas vezes, mal saíram do papel. Quando uma delas tem sucesso, cresce a taxas muito superiores às de uma empresa madura, porque uma coisa é quintuplicar resultados partindo de quase nada, e outra, bem diferente, é conquistar alguns pontos percentuais quando já se possui uma fatia expressiva do mercado. Em contrapartida, se esse empreendimento não crescer aceleradamente em seus primeiros anos, periga desaparecer antes de chegar ao quinto, como ocorre com a maioria das empresas no Brasil.

Já os investimentos em private equity dirigem-se aos planos de crescimento de empresas com modelos de negócio consolidados e porte médio. A expectativa é que os recursos captados acelerem o processo, e os lucros e o valor da empresa saltem mediante a execução de estratégias como consolidação, por meio de aquisições e fusões; alavancagem, com desmobilização de ativos; e expansão e estruturação do negócio para abertura de capital.

Em ambos os casos, a dificuldade é que, por mais análises que se façam, o desenvolvimento dos projetos permanece refém de condições altamente imprevisíveis. O efetivo desempenho dos administradores da empresa, o comportamento do seu mercado de atuação e, mais que tudo, as condições macroeconômicas, políticas e regulatórias podem facilmente minar o mais brilhante projeto. As estimativas disponíveis indicam que, em média, apenas algo entre 10% e 20% das empresas selecionadas por gestores profissionais ofereçam resultados expressivos - isso, nos Estados Unidos, onde as condições para empreender são notavelmente melhores.

O desafio é encontrar a agulha no palheiro: os retornos extraordinários realmente existem, porém em duplo sentido; tanto pela magnitude do rendimento como pela baixa probabilidade de sucesso quando se tenta acertar com um só tiro; isto é, investindo em uma única empresa. Por outro lado, com dezenas de empresas bem selecionadas no portfólio, o grande sucesso de um pequeno percentual delas pode produzir excelentes resultados quando as condições macroeconômicas sejam favoráveis e reduzir os danos quando o contexto seja inóspito. É essa a mágica operada pelos melhores gestores de fundos de venture capital ou private equity. - Note-se que, para além da questão estatística, os gestores de fundos com expressiva participação nas companhias investidas têm o direito de se envolver na sua administração, o que aumenta a transparência e pode atenuar os riscos ligados à condução dos negócios.

As regras desses fundos são, contudo, bastante particulares. Ao aderir a eles, o investidor compromete-se com o aporte de certo valor, comumente na faixa de US$ 500 mil a US$ 1 milhão. A aplicação do total não é imediata, mas o montante subscrito deve estar disponível a qualquer momento em que o fundo o requeira, usualmente ao longo dos cinco primeiros anos. As retiradas costumam começar no sexto ano, embora possam ocorrer antes, e se estendem pelos quatro seguintes, eventualmente avançando por mais dois, caso haja dificuldades na liquidação das participações.

Como não há mercado organizado para a negociação desses ativos, a possibilidade de se desfazer deles antes do prazo estipulado é remota e exige que o investidor busque pessoalmente alguém interessado em suas cotas. - E aqui encontramos a razão paradoxal pela qual muitos dos que temem as oscilações da bolsa subavaliam o risco das empresas fechadas: sem oferta e demanda constantes, os preços não oscilam, simplesmente porque não há negociação nem preço, mas somente estimativas de valor. Os seus nervos não são colocados à prova pelas oscilações diárias, e, como se sabe, o que olhos não veem o coração não sente. O chato é que, infelizmente, isso não o colaca a salvo da possibilidade de perdas e lhe sonega o aviso prévio das oscilações e a oportunidade de cessar a perda liquidando rapidamente o investimento.

Dado esse alto nível de risco, a CVM exige que o candidato a cotista preencha os requisitos para classificação como Investidor Qualificado, o que envolve possuir, no mínimo, R$ 1 milhão em outras aplicações financeiras. Note que, considerando a possibilidade de perda total, a margem de R$ 1 milhão só será suficiente se você puder se manter até o fim da vida com os rendimentos desse montante. Além do mais, não sugiro a ninguém concentrar todo o excedente em um só tipo de investimento. Meu pressuposto para a recomendação é, portanto, dispor de recursos para garantir seu padrão de vida até os últimos dias e, também, de uma soma excedente distribuída entre várias outras categorias de investimento.

Isso posto, investir através de fundos eleva a probabilidade de encontrar os projetos de sucesso e tende a diluir o prejuízo com os fracassados. É meio caminho andado, mas não resolve a característica suscetibilidade das empresas desses segmentos ao contexto macroeconômico. A experiência demonstra que mesmo os melhores gestores e projetos estão sujeitos a derrocadas em períodos recessivos ou instáveis, assim como gestores medíocres podem alcançar resultados surpreendentemente bons quando as etapas de investimento e desinvestimento do fundo coincidem respectivamente com um mau e a um bom momento macroeconômico.

 De novo, estamos no terreno das probabilidades, e, mais uma vez, a lógica da diversificação se impõe. A questão agora é diversificar as condições macroeconômicas. A estratégia, então, é construir um programa que crie um fluxo constante de investimentos e desinvestimentos, adquirindo cotas de um novo fundo com os resultados do fundo anteriormente investido. Os contextos que achatam a rentabilidade dos investimentos também comprimem o preço das quotas a serem adquiridas, assim como os que elevam a rentabilidade aumentam o custo de novas participações. A proposta, então, é minimizar a influência do momento do mercado para lucrar com a qualidade da gestão dos portfólios. A condição é que, além de não depender dos resultados e poder reinvesti-los constantemente, o investidor encontre os melhores fundos, aquela minoria que consegue superar os resultados da bolsa.

Com essa estratégia, a roda gira em moto contínuo, sem exigir novos esforços de investimento, e pode conquistar rentabilidades médias entre 10% e 20% ao ano; uma alternativa altamente recomendável para quem tem por objetivo o incremento do patrimônio, e não, a manutenção do seu padrão de vida pessoal.

Nos demais casos, a bolsa continua a ser o melhor caminho para investir em empresas.

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