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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A fusão do Unibanco com o Itaú deve beneficiar, sobretudo, o banco da família Moreira Salles. A principal vantagem que o negócio trará ao Unibanco é a melhoria do perfil de sua carteira de depósitos. Atualmente, a instituição detém 5,6% do mercado brasileiro de depósitos à vista (contas correntes). Para se ter uma idéia, o Itaú, seu novo parceiro, conta com 9,7%, e o Bradesco, com 11,8%. Com poucos recursos à vista, o Unibanco fica mais exposto à variação dos juros, pois precisa recorrer mais ao mercado para captar dinheiro para financiar suas linhas de crédito. Em um período de juros altos, como o que vive o Brasil, isso tende a comprometer as margens do Unibanco. "Com o acordo, o Unibanco será capaz de corrigir esse problema. Tanto o Unibanco quanto o Itaú elevarão seu funding (capacidade financiamento), o que terá impacto positivo sobre as margens", afirmou a EXAME Felipe Asenjo Wilkins, chefe da área de pesquisa da FIT Reseach, uma gestora chilena de ativos.
Segundo Wilkins, o Unibanco é um banco de varejo voltado para operações de cartões de crédito, empréstimos consignados e financiamento automotivo. Todos esses produtos demonstraram forte crescimento nos últimos anos. O segmento de cartões de crédito, por exemplo, acumula um incremento de 36% sobre 2007, e o de crédito automotivo, de 87%. Para suprir a demanda de capital que sustenta essas operações, o Unibanco conta com poucos recursos próprios, representados pelos depósitos dos correntistas. Por isso, precisa ir ao mercado captar dinheiro. "Quando a taxa de juros sobe, o Unibanco é o mais exposto à alta do que Bradesco e Itaú, e essa exposição é mais negativa do que para outros bancos", diz Wilkins.
Conhecido como o "menor dos grandes bancos brasileiros", o Unibanco buscou encurtar a distância dos líderes do setor. Entre as estratégias, procurou reajustar menos as tarifas cobradas dos clientes, a fim de aumentar sua base de correntistas. A tendência de desaceleração das receitas tarifárias foi sentida, porém, em todo o setor bancário. De acordo com Wilkins, hoje, no mercado bancário brasileiro, elas representam entre 20% a 30% do lucro líquido das instituições. Mas, para encorpar sua clientela, o Unibanco esbarrou na força dos concorrentes. "Os maiores players possuem mais alternativas de escala para bater seus rivais", diz o analista chileno.
Agressividade
Ele também lembra a agressividade dos demais bancos para crescer. Por anos, o Itaú e o Bradesco disputam a supremacia no mercado bancário do país. Embora o Unibanco tenha adotado medidas que lhe conferiram igual grau de eficiência em suas operações, não adotou uma postura agressiva em outras estratégias de crescimento, como as aquisições. Wilkins lembra que o Itaú e o Bradesco foram às compras nos últimos anos para ganhar corpo. Entre os acordos recentes, o especialista cita a aquisição, pelo Itaú, das operações do BankBoston no Uruguai, Chile e Argentina. Mesmo esses negócios não haviam sido capazes de levarem-no à liderança do mercado. "O Bradesco adquiriu 60 bancos desde 1994, e é mais eficiente. Penso que o Itaú está perseguindo o mesmo", diz.
Para Wilkins, o Itaú apresentou, nos últimos trimestres, resultados um pouco abaixo do esperado pelos analistas. Já o Unibanco, ao apostar em uma estratégia de crescimento orgânico, foi capaz de gerar melhores números. "Por isso, a fusão não era a única saída para o Unibanco", diz. A vantagem, novamente, é que o negócio será capaz de elevar mais os resultados do Unibanco que os do Itaú.
Por ora, a lógica do acordo é ganhar escala no mercado brasileiro e lucrar com as sinergias, acredita o analista chileno. O Unibanco não possui operações fora do país. E o Itaú está presente apenas no Uruguai, Chile e Argentina. Ainda assim, essas operações no exterior representam cerca de 6% da carteira total de empréstimos da instituição. "Espero que, no futuro, o novo banco foque o cenário internacional", diz Wilkins.
Reação do mercado
Negócio que envolve vários tipos de papel em circulação na Bovespa, a fusão estimulou a alta das ações do Itaú e do Unibanco. Embora menos líquidas que as demais, as ações ordinárias do banco da família Moreira Salles dispararam com a notícia. Por volta das 15h19, os papéis (UBBR3, com direito a voto) saltavam 128,80% na bolsa, cotados a 17 reais. Até aquele momento, essas ações haviam gerado 240 negócios. Já as units do banco (UBBR11, compostas por uma ação preferencial do Unibanco e por uma ação preferencial do Unibanco Holdings) subiam 9,24%, a 15,01 reais, com 8.288 negócios realizados.
Segundo informações do site de relações com investidores do Unibanco, a família Moreira Salles detém 32,4% do capital da Unibanco Holdings. A Unibanco Holdings possui 1,467 milhão de ações ordinárias do Unibanco, ou 97% das ordinárias emitidas pela instituição. Segundo o site, isso confere uma participação direta ou indireta de 18,8% no capital do banco para os Moreira Salles.
As preferenciais do Itaú (ITAU4, sem direito a voto) avançavam 14,90%, a 26,75 reais. Os papéis foram alvo de 12.026 negócios. Já as ordinárias do banco (ITAU3, com direito a voto) registraram alta de 8,64%, a 25 reais, após 142 negócios.