Quase 70% dos usuários do cheque especial não pediram o crédito ao banco
Linha tem juros de mais de 300% ao ano, mas é oferecida de maneira automática à maioria dos correntistas, mostra pesquisa do SPC Brasil
Juliana Elias
Publicado em 11 de setembro de 2019 às 12h33.
O cheque especial, limite extra concedido pelos bancos à conta corrente dos clientes, é a modalidade de crédito mais cara do Brasil. Atualmente, de acordo com o Banco Central, os juros médios para quem entra no vermelho e continua usando o limite pelo cheque especial são de 12,7% ao mês, ou 319% ao ano.
A grande maioria dos consumidores que usam o cheque especial, entretanto, não solicitou o limite. Uma pesquisa feita pelo SPC Brasil e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que, entre as pessoas que utilizam o cheque especial, 68% tiveram o limite extra concedido automaticamente pelo banco. Um terço do total (34%), acabou com o nome sujo por não pagar o limite excedido.
Ainda de acordo com a pesquisa, que entrevistou usuários do cheque especial em todas as capitais do país, 38% dos pesquisados afirmaram ter usado o limite sem saber os juros cobrados, seja porque precisavam do dinheiro (25%) ou porque caíram no cheque especial sem perceber (7%).
De acordo com o levantamento, 20% dos consumidores utilizaram o limite extra ao menos uma vez nos últimos 12 meses. Destes, a esmagadora maioria - 97% - recorreu ao cheque especial mais de uma vez no ano, sendo que 27% informou ter feito isso pelo menos três vezes no ano, 30% usou a cada dois ou três meses e a maior parte, 40%, disse usar o limite todos os meses.
Entre aqueles que estão nas classes C, D ou E, esses percentuais são ainda mais altos: 48% recorrem ao limite negativo do banco todos os meses.
Com 25% das menções, descontrole no pagamento das contas foi a razão mais mencionada pelos entrevistados para o uso do cheque especial, ao lado de imprevistos com doenças ou compra de medicamentes, razão também apontada por 25% dos pesquisados.
Pagar contas que estavam para vencer (23%) e custos extras com o carro ou a moto (18%) também apareceram entre as razões mencionadas.
O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, diz que é importante que o consumidor tenha clareza de que, mesmo que acoplado à conta-corrente, aquele valor disponível no cheque especial não o pertence e usá-lo é também uma maneira de pegar um empréstimo, a juros altíssimos.
“É um erro incorporar o limite do cheque especial como parte da renda", diz. "Essa ilusão pode levar o consumidor a gastar mais do que o orçamento permite e ver sua dívida se transformar em uma bola de neve muito difícil de ser paga.”
A pesquisa entrevistou 805 consumidores, nas 27 capitais, sendo que continuaram a ser entrevistados somente aqueles que disseram ter utilizado cheque especial ou empréstimo. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos percentuais para uma margem de confiança de 95%.