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O Tesouro Direto quer você - e promete ficar mais simples

Em entrevista a EXAME.com, porta-voz do Tesouro Nacional diz que o governo quer tornar o Tesouro Direto mais palatável para conquistar o pequeno investidor


	Mouse e mão com sinal positivo: Mudanças no Tesouro têm o objetivo de tornar o investimento mais simples
 (Stock.xchng/ Vangelis Thomaidis)

Mouse e mão com sinal positivo: Mudanças no Tesouro têm o objetivo de tornar o investimento mais simples (Stock.xchng/ Vangelis Thomaidis)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2014 às 09h08.

São Paulo - Um investimento que tem aporte mínimo de 30 reais, alta liquidez, paga mais do que a poupança e diversas outras aplicações de renda fixa e tem o menor risco de crédito do país. O que mais um investidor conservador pode querer? Muito simples: facilidade de entender.

É exatamente esse o calcanhar de Aquiles do Tesouro Direto, o investimento descrito acima. 

Em entrevista a EXAME.com, David Athayde, gerente adjunto de relacionamento institucional do Tesouro Nacional, afirmou que para combater sua maior falha e atrair mais investidores, o governo deve realizar uma série de mudanças no Tesouro Direto, o programa de venda dos títulos públicos via internet

A despeito do que André Proite, gerente de relacionamento institucional do Tesouro, comentou em reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, a intenção não é focar os investidores com maior experiência em detrimento dos iniciantes. Muito pelo contrário.

O objetivo, de acordo com Athayde é conquistar de vez os investidores que costumam flertar com os títulos públicos, mas não têm coragem de dar um passo maior do que a poupança.

Atualmente, os títulos do Tesouro têm nomes complicados de entender - Letras Financeiras, Notas do Tesouro, Letras do Tesouro - e são identificados pelas siglas desses nomes, formando uma verdadeira sopa de letrinhas na tela do investidor: LTN para cá, LFT para lá, NTN acolá.

Nada palatável para o pequeno investidor, principalmente aquele acostumado à facilidade da poupança. Além disso, a forma de remuneração mais sofisticada dos títulos pode não ficar muito clara na hora da compra. Em resumo: o Tesouro Direto de direto não tem nada.

Desde sua criação, em 2002, o programa já passou por diversas mudanças. A aplicação mínima passou de 200 para 30 reais, as compras e vendas passaram a contar com a possibilidade de programação e a taxa de negociação, de 0,10% sobre o valor da operação, foi extinta.

Segundo Athayde, dessa vez estão previstas mudanças nos nomes dos títulos, esforços para tornar a comunicação com investidores mais efetiva e outras medidas para popularizar de vez o Tesouro Direto. Veja a seguir a entrevista completa com o gerente adjunto do Tesouro Nacional.

EXAME.com - Quais serão as principais mudanças no Tesouro Direto?

David Athayde - Não temos nada decidido ainda. O Tesouro Direto tem pouco mais de 12 anos de existência, então desde o ano passado nós sentamos para repensar o programa e ver o que pode melhorar para tornar a aplicação mais fácil para o pequeno investidor. Nós queremos deixar o Tesouro Direto mais didático, acessível e compreensível para o pequeno investidor, e para isso pensamos em muitas coisas, mas tudo ainda está em fase de discussão. Hoje e sempre o objetivo é tornar tudo mais fácil para o pequeno investidor.

EXAME.com - A intenção então não é focar o investidor mais experiente e abandonar a tentativa de popularizar o investimento entre os investidores iniciantes?

David Athayde - De maneira alguma. Os pilares que democratizam o acesso ao pequeno investidor, como o aporte mínimo baixo, a possibilidade de investir no longo prazo e o custo competitivo em relação ao mercado, serão mantidos. As mudanças virão para melhorar a comunicação e tornar o programa mais fácil. Na verdade, o que vai mudar é a forma de comunicação para que o Tesouro seja mais eficiente na forma de conversar com o investidor.

A ideia é tornar o programa mais suave, mais simples. Isso atinge tanto o investidor mais experiente, quanto aquele que chegou perto do Tesouro, mas que por algum motivo não foi em frente. Não há foco específico em um perfil ou em outro.


EXAME.com - Atualmente os títulos são nomeados por siglas que não explicam seus funcionamentos. A ideia seria incluir nos nomes expressões que sugiram sua forma de remuneração? Por exemplo, incluindo a palavra “inflação” nos nomes das NTN-Bs, que são os títulos remunerados pelo IPCA?

David Athayde - Se olharmos hoje os nomes do títulos, as siglas por si só não traduzem a rentabilidade do papel. Estamos em contato com investidores para verificar algumas sugestões para que os nomes sejam mais autoexplicativos, para facilitar o entendimento do investidor. De repente podemos ter uma explicação a mais no nome, mas ainda não temos nada definido. 

EXAME.com - Algum tipo de título deixará de ser negociado? Os títulos que pagam cupons semestrais, por exemplo, deixarão de existir?

David Athayde - Os títulos devem ser os mesmos. A ideia é continuar a vender para o pequeno investidor os mesmos títulos vendidos aos bancos. A forma de remuneração dos títulos também deve ser a mesma. Mas ainda estamos na fase de repensar, em uma fase de brainstorm.

EXAME.com - Quando as mudanças serão anunciadas?

David Athayde - Pode ser que algumas já comecem a sair em junho, não deve demorar muito, mas estamos trabalhando nisso e ainda não temos um prazo específico. Temos feito reuniões com regularidade e eu não posso antecipar um dia exato porque devemos fazer tudo ao longo do ano. As mudanças não devem ser implementadas de uma vez só.  

EXAME.com -  Atualmente os bancos não veem muita vantagem em distribuir os títulos públicos aos clientes, já que eles ganham uma comissão maior vendendo produtos próprios e investimentos que comportam taxas maiores. Há alguma previsão de mudanças para aumentar distribuição dos títulos pelos bancos? O Tesouro pretende criar algum tipo de incentivo para isso?

David Athayde - Essa realmente é uma questão importante. Como o Tesouro acaba não sendo estratégico para eles, sua venda não é significativa, e isso atrapalha essa expansão. Mas, quando o Tesouro começar a ter uma comunicação mais efetiva e se aproximar mais do investidor, o banco vai acabar oferecendo os títulos naturalmente a partir da demanda dos clientes.

EXAME.com - Quantos novos investidores vocês pretendem captar com as mudanças?

David Athayde - Nós não trabalhamos com metas desse tipo porque o número de investidores depende muito da rentabilidade. Se os juros estão mais altos e as taxas sobem, o Tesouro fica mais competitivo e atrai mais pessoas. Em dezembro, por exemplo, atingimos recorde de venda líquida. Esse avanço de vendas muito importante ocorreu em função das maiores taxas. Por isso, não focamos números específicos. 

EXAME.com - O Tesouro Nacional deve criar um ETF (Exchange Traded Fund), um tipo de fundo referenciado em índices com carteiras teóricas compostas por títulos públicos? Eles serão negociados via Tesouro Direto?

David Athayde - O ETF é uma novidade que o Tesouro Nacional está estudando. Hoje existem ETFs, que são fundos negociados em bolsa, que aplicam em ações de um determinado índice e há no Tesouro Nacional essa discussão de se lançar um ETF só com títulos públicos. Isso pode vir a acontecer no futuro, não só para o investidor pessoa física. Os ETFs são negociados em bolsa e nós pensamos em alguma forma de oferecer o investimento pelo Tesouro Direto, mas esse seria outro passo da discussão. Primeiro ele teria que ser lançado no mercado. 

EXAME.com - O pequeno investidor deveria se adiantar para comprar algum título antes das mudanças? Essas alterações podem ser de alguma forma prejudiciais a esse investidor que costuma aplicar na poupança?

David Athayde - O pequeno investidor só tem a ganhar e com as mudanças vai melhorar ainda mais para ele.

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