O que muda com a nova regra para bagagens aéreas
Medida provisória que segue para sanção presidencial inclui volta de franquia para bagagens com até 23 kg
Marília Almeida
Publicado em 24 de maio de 2019 às 05h00.
Última atualização em 24 de maio de 2019 às 11h03.
São Paulo - A gratuidade para bagagens de até 23 kg em voos domésticos deve voltar a vigorar no país. A volta da franquia, derrubada em 2017, consta em um dos artigos da MP 863/2018, aprovada pelo Senado na quarta-feira (22) e que segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O que a nova regra significa para o viajante ? Provavelmente, passagens mais caras e impedimento para companhias low cost operarem no país. Geralmente, essas companhias conseguem cobrar um bilhete mais barato ao não permitir o despacho gratuito da bagagem.
É o que acredita Henrique Lian, diretorde relações institucionais da associação de consumidoresProteste. "Principalmente em um ambiente onde as aéreas não vão bem, pressionadas por custos, a perspectiva de passagens mais caras aumenta".
Sem constar no texto original da MP, cujo objetivo principal é permitir que aéreas com 100% de capital estrangeiro operem no país, a volta da franquia pegou "carona" ao ser proposta pelo relator do projeto e foi aprovada pelos parlamentares.
Bolsonaro já declarou que está "inclinado" a aprovar a volta da regra, derrubada pela resolução 400 da Anac, que promoveu diversos benefícios aos viajantes, como a possibilidade de comprar uma passagem comprada pela internet em até 24 horas. Contudo, o presidente declarou que só deve decidir no limite do prazo que tem para sancionar a medida, 15 dias após a aprovação da MP no Senado. Segundo o presidente, um dos argumentos para que mantenha o artigo é o de que as companhias aéreas não reduziram os preços das passagens, como previsto.
As aéreas reagem à afirmação. Segundo a Abear, em nota, ainda é muito prematuro buscar conclusões acerca do impacto da mudança regulatória nos preços dos bilhetes em geral. "Este é apenas um aspecto de influência limitada a um conjunto específico de tarifas. O forte encarecimento dos principais itens de custos da aviação, bem como o contexto de crise ou baixo crescimento econômico que atinge o país pelo menos nos últimos quatro anos, são muito mais relevantes para a evolução recente dos preços do transporte aéreo doméstico".
A Abear lembra que, apenas em 2018, o real desvalorizou 14,5% ante o dólar, enquanto o combustível registrou alta de 37,5%, o que pressiona o custo das empresas. "Porque tais percalços fazem parte dessa atividade na própria resolução 400 a Anac estabeleceu prazo de cinco anos para verificar os efeitos das alterações introduzidas, inclusive no comportamento das tarifas".
É provável que, caso a regra volte a vigorar, seja dado um prazo para que as companhias aéreas se adaptem à nova regra. Com a volta da gratuidade, a bagagem de mão permitida na cabine deve voltar a ter no máximo 5 kg, diz Lian. Hoje, o limite é de 10 kg.
Caso a nova regra passe a vigorar, quem já comprou a passagem deve se guiar pela regra antiga, mesmo que vá viajar daqui a alguns meses.
Na contramão
De acordo com Lian, a volta da gratuidade para bagagens vai na contramão de uma tendência global. Atualmente, apenas três países ainda não cobram pela bagagem despachada: Venezuela, Rússia e México. "É esquizofrênico que uma medida provisória liberal tenha uma artigo tão anti-liberal", aponta.
Contudo, Lian afirma que, o fim da franquia de bagagem foi promovido pela Anac "de uma maneira desleixada". Isso porque a agência de aviação instituiu o fim da franquia de bagagem sem colocar critérios, como limite de preço cobrado, e também regras para soluções de conflitos, normatizados em diversos países onde a franquia deixou de existir. Além disso, nos países onde a gratuidade deixou de existir a fiscalização e punições são reforçadas. O argumento da Anac, à época, foi de que o mercado "se autoregularia".
"O que está acontecendo hoje é que o passageiro leva uma bagagem de mão maior para não ter de despachar bagagem. Aí se depara na porta do avião com uma aeronave cheia de malas e a opção que a aérea dá é despachar sua mala sem custos. Mas quem pagou pelo despacho se sente injustiçado e lota os juizados dos aeroportos com reclamações", diz Lian. "Por aqui, foram criadas classes tarifárias promocionais, mas cada empresa tem suas próprias regras. Fica difícil para o consumidor se nortear".
Como forma de resolver esses conflitos, recentemente a Abear limitou o tamanho de bagagens de mão.As bagagens fora do padrão precisarão ser despachadas nos check-ins das empresas, eo despacho pode custar até 120 reais. O tamanho padrão para o tipo de bagagem é o mesmo usado pela Associação Internacional de Transporte Aéreo: 55 cm de altura por 35 cm de largura e 25 cm de profundidade.