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Mercado critica possível fechamento de capital da Gol

Para analistas, empresa perderia valor de mercado e teria sua credibilidade comprometida diante dos investidores

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O anúncio da Gol de que a empresa pode fechar seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo foi alvo de críticas unânimes por parte de analistas financeiros que acompanham a situação da companhia aérea. Eles avaliam que deixar o mercado de ações seria a opção mais radical, dentro de um espectro de estratégias, e traria custos futuros altos demais para a imagem e para o valor da empresa.

A possibilidade de fechamento de capital foi divulgada na manhã de quarta-feira (19/09), por meio de comunicado emitido pelo Fundo de Investimento em Participações Asas, acionista controlador da Gol. No texto, o fundo informa que "está analisando várias alternativas com relação à sua participação acionária", e lista algumas opções, inclusive a "possível oferta pública de cancelamento de registro da companhia aberta".

Embora a nota oficial não informe as razões dessa revisão na estrutura acionária, economistas ouvidos pelo Portal EXAME enxergam três possíveis fontes de interesse da família Constantino, fundadora e acionista principal da Gol, no fechamento de capital - todas criticadas pelo mercado.

O motivo mais palpável para a mudança seria a avaliação de que o preço das ações da Gol estaria subvalorizado no mercado após a seqüência de más notícias para o setor aéreo desde 2006. De fato, até 18 de setembro de 2007, dia anterior ao anúncio da possibilidade de fechamento, a cotação dos papéis da Gol havia caído 45% em um período de 12 meses, para 40,57 reais por papel. Esse contexto abriria a possibilidade de o Fundo Asas aproveitar o período de baixa para obter o controle total das ações e, após uma recuperação, reabrir o capital da companhia a preços mais elevados.

A jogada, porém, esbarraria primeiro no custo da operação: seriam necessários cerca de 3 bilhões de reais para financiar o pagamento aos acionistas, o que poderia levar a uma significativa descapitalização. Além disso, levaria à perda da credibilidade que a empresa conquistou com o status de nível 2 de governança na Bovespa.

"Boa parte do valor das ações da empresa vem do fato de eles divulgarem resultados detalhados, fazerem reuniões freqüentes com acionistas. Mas se a empresa se fechar e voltar a se abrir apenas depois de alguns anos sem satisfações ao mercado, deve ter dificuldades para recuperar esse valor", afirma Caio Dias, analista de transportes do Banco Santander.

Uma segunda razão para a saída da Bolsa seria reduzir a exposição da Gol a concorrentes e investidores, já que por causa do alto nível de transparência exigido das companhias abertas, informações consideradas estratégicas por parte dos acionistas tornam-se públicas. Haveria, ainda, uma terceira explicação, a de retomada da autonomia de gestão por parte da família Constantino.

"Alguns acionistas de grande porte podem estar pressionando a empresa a tomar atitudes que são contra a estratégia da companhia. Nesse caso, a família teria interesse em concentrar as decisões, para eliminar interferências externas", explica Eduardo Puzziello, analista da corretora Fator.

Mesmo nessas duas situações, o fechamento de capital "não faz sentido do ponto de vista prático", segundo o economista, por gerar desconfianças quanto aos rumos da gestão e por barrar o acesso à fonte barata de financiamento que o capital aberto representa.

Opções de estratégia

Embora façam críticas menos específicas, analistas de fundos internacionais também apontam outras estratégias mais interessantes do que o fechamento de capital.

A americana Bear Sterns, por exemplo, afirma que a recompra de ações sem fechamento de capital, associada a uma aceleração menor da expansão de operações aéreas, seria "bem recebida pelos investidores".

Essa forma de atuação, mais corriqueira no mercado do que o fechamento, se dá pela compra de ações de minoritários com dinheiro da própria companhia, o chamado share buyback. Os papéis adquiridos são entesourados e passam a fazer parte da lista de ativos da companhia, ou seja, cai o número de ações totais da empresa, o que faz com que os acionistas passem a ter uma porcentagem maior do controle. A estratégia é vista como uma forma de sinalizar aos acionistas que o valor dos papéis está baixo sem causar grandes modificações na estrutura acionária.

Outra possibilidade de recompra seria o Fundo Asas usar capital próprio para adquirir ações de minoritários até o limite de 75% dos papéis disponíveis em mercado, exigido pelas regras de governança para o nível 2.

Procurada pela reportagem, a Gol informou que não se pronunciaria a respeito das críticas e que as informações que a empresa tem para passar são as que estão presentes no comunicado aos investidores.

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