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Indústrias também abrem bancos para emprestar a fornecedores e clientes

A tendência de a chamada economia real (ligada à produção de bens e serviços) alastrar-se ao mercado financeiro ocorre nos setores do comércio e indústria

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Não são apenas os varejistas que começam a entrar no setor financeiro. Indústrias como Gerdau, Vicunha, Votorantim e a maioria das montadoras que operam no país abriram bancos na última década. São operações diferentes, mas a razão que levou essas empresas a atuar também no sistema bancário é a mesma: a possibilidade de lucrar mais. Houve tropeços, mas em muitos casos as margens de lucro não só aumentaram, como o crescimento do negócio bateu as expectativas mais otimistas. "As empresas fizeram análises e muitas chegaram à conclusão de que era mais vantajoso abrir uma instituição financeira e ficar com parte dos ganhos que antes iam para os bancos", diz Jorge Maluf Filho, vice-presidente da consultoria Booz Allen Hamilton.

Assim como acontece no varejo, um filão que esses bancos de indústrias costumam explorar mais do que a maioria é o de empréstimos. "Crédito tem muito mais a ver com a atividade empresarial do que operações de tesouraria, por exemplo", diz João Rabêllo, diretor do banco Fibra, criado em 1989 pelo grupo Vicunha. Como conhecem o meio corporativo e, em muitos casos, os clientes que financiam porque vários deles são os próprios fornecedores da empresa , as operações de crédito dessas instituições são geralmente bem sucedidas. "Para nós, emprestar é menos arriscado do que operar na tesouraria". É o contrário do que acontece na maior parte do sistema financeiro tradicional, que prefere deixar de lado o financiamento a empresas e pessoas físicas para ficar no porto seguro dos títulos da dívida pública.

Essa diferença fica evidente nos balanços financeiros das instituições. A carteira de crédito do Fibra, por exemplo, que é especializado em pequenas e médias empresas, cresceu cerca de 30% entre 2002 e 2003, enquanto o volume total de recursos disponível para pessoas jurídicas no país ficou estável, segundo o Banco Central. Para este ano, a previsão é de que os empréstimos do Fibra aumentem 60%, para 1,5 bilhão de reais, frente a uma expansão de 5% do sistema tradicional. "O crédito é o diferencial da maioria desses bancos, porque, como eles estão mais próximos dos clientes do que as instituições tradicionais, conseguem conhecê-los melhor e oferecer produtos específicos", diz Maluf Filho.

Esse expertise gera resultado. A margem de lucro desses bancos é, em geral, maior do que a dos negócios centrais das empresas. No grupo Vicunha, por exemplo, enquanto a unidade têxtil tem rentabilidade de 4%, o percentual do Banco Fibra chega a 17%. No segmento de varejo, as companhias conseguem margem de 6% em média, mas os bancos entregam cerca de 20%, segundo especialistas.

Isso não quer dizer que basta abrir um banco e esperar os lucros baterem à porta. "Existem riscos", diz Bruno Laskowsky, vice-presidente da consultoria A.T. Kearney. O principal deles está relacionado à área de crédito. "Ao contrário dos bancos, as empresas não são especialistas em gestão de risco. Se isso não for bem dosado, pode ameaçar o negócio principal". Segundo o consultor, foi isso que aconteceu com a americana Sears na década de 80. A rede de lojas de departamentos lançou um cartão de crédito que em alguns anos se tornou um dos principais cartões dos Estados Unidos. "Virou um negócio tão gigante, quase do tamanho da Visa, que acabou prejudicando a operação central", diz Laskowsky. Na época, a Sears chegou a demitir 50 000 funcionários e a fechar mais de 100 lojas.

A exceção à regra é o caso do grupo Votorantim. A companhia decidiu abrir um banco em 1991, mas o foco da instituição nunca foi a parte de empréstimos e sim a área de administração de recursos. O banco surgiu para gerir o fluxo de caixa do conglomerado, que girava em torno de 500 milhões de reais. O objetivo era diminuir os gastos que a companhia tinha com o sistema financeiro. Estima-se que apenas as despesas com tarifas bancárias chegavam a 5 milhões de reais. "A evolução natural foi criar uma asset management", diz Wilson Masao Kazuhara, vice-presidente do Banco Votorantim. Hoje, o banco representa 20% do faturamento de todo o conglomerado controlado pela família de Antônio Ermírio de Moraes, que reúne empresas de cimento, alumínio e papel e celulose. No ano passado, o lucro do banco cresceu quase 70%, para cerca de 600 milhões de reais.

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