Alexander Elder: "Longo prazo era para nossos avós" (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
São Paulo - No mercado financeiro, nada desperta mais amor e ódio do que a análise técnica. Quem gasta meses avaliando informações sobre uma empresa considera esoterismo a negociação de ações baseada em comportamentos-padrão visualizados em gráficos. Já aqueles que se aproveitam das tendências do mercado para lucrar com operações de curto prazo acham que é perda de tempo analisar os fundamentos de uma empresa.
Esta semana, um dos maiores gurus da análise técnica chega ao Brasil para colocar mais lenha na fogueira. Autor de livros como "Aprenda a Operar no Mercado de Ações: Come Into My Trading Room" e "Como se Transformar em um Operador e Investidor de Sucesso", o russo radicado nos Estados Unidos Alexander Elder faz duas palestras gratuitas na Expo Money São Paulo, a maior feira de finanças pessoais da América Latina.
Em entrevista a EXAME, Elder despreza todas as estratégias de investimento com exceção da análise técnica. Em relação à negociação de ações a partir de fórmulas matemáticas inseridas em um computador, uma das principais tendências no mundo desenvolvido, Elder afirma que essa é uma "fantasia" que está fadada a um fim breve. Já o investimento de longo prazo em bolsa seria um método antigo que "só funcionou para nossos avós".
Em relação à análise técnica, Elder não economiza elogios, apesar de muitas vezes soar evasivo como um político em campanha eleitoral. Ele não se arrisca a fazer previsões sobre a bolsa, não revela qual é a taxa de retorno de seus próprios investimentos e se irrita facilmente diante da insistência por respostas menos genéricas sobre estratégias que funcionam. Entre outras obviedades, diz que o trader precisa "limitar seu risco e manter um diário de suas operações". Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
SITE EXAME: Quais são os erros mais comuns de especuladores e investidores?
Elder: Operar às cegas e não planejar as negociações. O trader precisa definir três números: o valor do ativo para que valha a pena operá-lo, quanto quer ganhar e a perda máxima que pode tolerar. É preciso definir essas metas antes de operar, não depois. Porque as pessoas têm a tendência a considerar que o seu trade é o melhor do mundo. Se o trader não define esses três números, melhor comprar um bilhete de loteria.
SITE EXAME: O senhor recomenda que os traders mantenham um diário com todas as suas operações - o que foi negociado, quando, o porquê e um acompanhamento de performance. Este conselho deve ser seguido também por pequenos investidores de longo prazo? Que outras condutas devem ser comuns aos dois tipos de público?
Elder: Os conselhos são os mesmos. O investidor precisa, como os traders, limitar seu risco. Deve manter um diário de suas operações também, o que é, aliás, bem mais fácil para quem é um investidor de longo prazo. Mas para aprender as técnicas, é necessário gastar tempo e dinheiro, não é diferente de ir para a universidade. Quanto mais você opera, mais você aprende. E você só aprende quando aplica seu próprio dinheiro, porque só assim é possível ter envolvimento psicológico.
SITE EXAME: Como é possível limitar o risco?
Elder: Eu sigo a regra dos 2%: você nunca deve arriscar mais do que 2% da sua carteira. Se você tem 100.000 dólares na conta, pode arriscar no máximo 2.000 dólares. Por exemplo, se você compra uma ação por 50 dólares, precisa definir seu alvo e seu stop, que é o valor mínimo que essa ação pode atingir. Se o seu stop for de 48 dólares, quer dizer que você só aceita perder dois dólares por ação. Como o máximo que você pode arriscar é 2.000 dólares, isso significa que você só poderá comprar 1000 ações. Mas o ideal é não chegar ao máximo. Essa é a regra mais importante para sobreviver no mercado. E se, ainda por cima, o trader mantiver um diário, ele vai aprender.
SITE EXAME: Qual a melhor estratégia para ter rentabilidade no curto prazo?
Elder: Eu acho que o mercado tem que ser analisado segundo "janelas de tempo". O trader precisa primeiro olhar para os gráficos de longo prazo e depois para os de curto prazo. Por exemplo, primeiro ele analisa o gráfico semanal ao longo de alguns anos e toma suas decisões estratégicas, o que vai comprar e o que vai vender. Depois ele analisa os gráficos diários para achar os pontos de entrada e saída. Quem só usa gráficos diários ou gráficos "intraday" está tentando dirigir com um olho só. O trader precisa inserir aquele gráfico num contexto mais amplo para tomar a decisão acertada.
SITE EXAME: É comum que os traders usem esse tipo de estratégia?
Elder: Muito pouca gente opera dessa maneira. A maioria das pessoas investe às cegas, como se estivessem jogando dardos. É ótimo, pois é graças a essas pessoas que é possível ganhar dinheiro. A maioria precisa perder dinheiro no mercado, só uma minoria pode ganhar. E quanto mais a maioria perde, mais a minoria ganha.
SITE EXAME: A maior parte das suas decisões é baseada em análise técnica. O senhor não gosta de análise fundamentalista?
Elder: Eu gosto, mas não entendo. É muito complicado para mim. Como grafista eu posso comprar uma ação do setor aéreo hoje e uma do setor automotivo amanhã, desde que eu consiga identificar padrões em suas oscilações. Mas com análise fundamentalista, o trader fica limitado, não tem liberdade.
SITE EXAME: Mas o senhor não usa fundamento algum?
Elder: Um pouco. Se eu estou comprado em determinada ação eu gosto de saber quando serão divulgados os lucros da empresa, pois isso vai influenciar minha decisão de segurar um pouco mais aquele papel ou não. Mas os fundamentos são curiosos. Por exemplo, na semana passada eu vendi a descoberto ações da (empresa americana) Netflix. De manhã, uma grande corretora elevou a recomendação da Netflix. O papel abriu em alta, eu fiz uma venda a descoberto, e ele vem caindo desde então. Mesmo com uma elevação de recomendação, que é a melhor coisa para os fundamentalistas, a ação vem caindo. Eu adoro esse tipo de coisa.
SITE EXAME: Qual o impacto da tecnologia no trading? O senhor acha que o uso de algoritmos pode sobrepujar a análise técnica?
Elder: Nunca. A cada cinco anos, é criada uma nova "religião". Já foram as redes neurais, já foram as ondas de Elliot, agora é o algotrading. É "nonsense". As pessoas querem fazer mágica no mercado, e não existe mágica. Existe trabalho, atenção, experiência, coragem e uma boa dose de personalidade.
SITE EXAME: Mas os computadores são mais rápidos que o ser humano...
Elder: Isso é uma fantasia. Os computadores são mais rápidos, mas não são mais espertos que o ser humano. Se os computadores pudessem realmente negociar, o sujeito com o melhor computador já seria dono de todo o mercado de ações. Mercados sempre mudam. E assim como redes neurais e as ondas de Elliot falharam, algotrading também vai falhar. É uma questão de tempo.
SITE EXAME: O senhor dá palestras e consultoria a quem deseja se dedicar ao trading profissionalmente. A sua principal fonte de renda é o trading ou essa consultoria?
Elder: As aulas são divertidas, mas não constituem uma fonte de renda significativa. Eu faço trades basicamente com ações e commodities, principalmente nos Estados Unidos. Ocasionalmente no exterior. Já fiz um trade no Brasil.
SITE EXAME: Qual o prazo médio dos seus trades?
Elder: Entre meia hora e duas semanas. Difícil durar mais que isso. Uma média de dois dias, eu diria.
SITE EXAME: Dizem que esse tipo de trade é melhor para a corretora do que para o investidor...
Elder: Eu discordo. Costumava ser verdade, mas hoje em dia as taxas são bem baixas. Eu pago oito dólares de corretagem. Consigo negociar 20.000 ações por esse valor. Os mercados são muito caóticos. De vez em quando é possível enxergar um padrão. Quando eu vejo um padrão, eu faço um trade, mas quando o padrão acaba, eu encerro a operação. Eu gosto do trading de curto prazo, especialmente em mercados nervosos como o atual.
SITE EXAME: Por que o senhor não investe a longo prazo?
Elder: Eu acho que o longo prazo acabou. Nós vivemos num mundo diferente. Longo prazo era para nossos avós. Esse não é mais o mundo do longo prazo. Por exemplo, algumas pessoas compraram ações da Petrobras 20 anos atrás e ganharam dinheiro. Mas essas ações, naquela época, tinham fundamentos péssimos. Agora que essa Cinderela está lindamente vestida, todo mundo gosta dela. Mas quando era a gata borralheira limpando o chão da cozinha, muitos investidores não gostavam. Se você quiser encontrar uma Cinderela, boa sorte. Isso pode acontecer ou não. O mundo está cheio dessas ações. Elas sobem um pouquinho e todo mundo começa a vendê-las. É uma fantasia. Funcionou para algumas pessoas, mas talvez não funcione para mim. Mas eu sou um. Não estou dizendo que o meu método é o melhor ou o único. Só estou dizendo que esse método não funciona para mim.
SITE EXAME: Antes de se tornar trader independente, o senhor era psiquiatra. Como o senhor começou como trader? Qual foi a hora da virada para abraçar de vez a profissão?
Elder: Eu comecei cometendo muitos erros. Eu achava que era esperto e que o dinheiro viria facilmente. Naquela época eu não tinha muito dinheiro para perder, mas perdi o suficiente. Eu operava com contas ridiculamente pequenas, com 3.000, 5.000 dólares. Mas tive perdas de 60%. Sobrevivi e aprendi. Fui migrando aos poucos da psiquiatria para o trading. Fui atraído pelo desafio e pela liberdade, mas não houve uma "hora da virada" para eu largar a psiquiatria e abraçar o trading. Eu ainda pratico a psiquiatria, mas muito pouco.