Pergunta do leitor:“Fiz empréstimos incentivada pelo gerente. Agora que esses empréstimos estão sendo descontados do salário quando acabar o que tenho na minha conta, não vai sobrar nem para eu pagar meu aluguel. Então vou ter de deixar de pagar. Sou funcionária pública aposentada. Não tenho imóvel nem carro. Só tenho o salário. O que pode me acontecer?”
Resposta de Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil*
Assumir uma dívida, como um empréstimo ou financiamento, não é necessariamente algo prejudicial às suas finanças, desde que a decisão seja
bem planejada. No seu caso, foi realizado um empréstimo consignado, em que o valor das parcelas é descontado diretamente da sua aposentadoria. Para o banco, isso significa garantia de recebimento, o que torna as taxas de juros da operação menores do que as demais modalidades de empréstimo. Apesar disso, o valor da parcela acordado acabou sendo elevado para sua realidade financeira, o que está deixando você com pouca renda disponível para o pagamento de suas obrigações mensais.
Em relação ao pagamento do seu aluguel, é importante se certificar das condições definidas em seu contrato do serviço. Normalmente, costumam ser
cobradas no pagamento taxas relativas ao tempo de atraso e, caso conte com garantias como fiador, caução ou seguro-fiança, esses dispositivos devem ser acionados. É importante saber que o não pagamento da dívida pode resultar em uma ação de despejo contra você, mesmo que isso não dê ao proprietário o direito de invadir o imóvel ou mesmo te ameaçar.
Diante deste cenário, sugiro que você procure o banco para renegociar este empréstimo, de forma que seja possível esticar o prazo, reduzindo o valor das parcelas descontadas de seu salário. Se não conseguir a renegociação, avalie a possibilidade de fazer uma troca de dívidas, ou seja, tomar um novo empréstimo com condições mais acessíveis à sua realidade, quitando a operação atual, que está consumindo uma parcela muito elevada da renda mensal. Mas fique atenta. É essencial organizar suas contas e definir exatamente quanto poderá pagar por mês antes de procurar qualquer instituição financeira. Além disso, faça um diagnóstico para entender porque chegou a esse ponto: se você comprou mais do que deveria, se houve uma emergência e não possuía uma reserva financeira, se seus gastos fixos estão muito elevados para a renda da sua família, etc. Se mesmo com disciplina e planejamento suas contas não fecham, é hora de prestar atenção ao seu padrão de vida e se perguntar se ele está condizente com o seu rendimento.
Se chegar à conclusão que o seu padrão de vida está de fato inadequado, apenas a renegociação de dívida e um corte em despesas mais simples não será suficiente. Você terá de se perguntar se há possibilidade de mudar o tamanho ou a localização da sua moradia, por exemplo. Sabemos que esses direcionamentos implicam em sacrifícios nada agradáveis e que o exercício de cortar gastos não é fácil. Mas lembre-se: somente dessa forma você pode garantir que não acabe se enrolando novamente.
* Marcela Kawauti é economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e colabora com o portal Meu Bolso Feliz. O SPC Brasil conta com um aplicativo para smartphones, o “SPC Consumidor”. A ferramenta oferece consulta gratuita de CPF, dicas de bem-estar financeiro e outros serviços
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