Holofote: investimentos em LCIs e LCAs cresceram acima da média em 2015 (Olegkalina/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2016 às 16h36.
São Paulo – As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) foram os grandes destaques de 2015 dentre os investimentos voltados a pessoas físicas.
Essa é uma das principais conclusões de um relatório inédito divulgado nesta quinta-feira (07) pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que mapeou as aplicações realizadas em 2015 por 71,7 milhões de clientes, que possuem 2,043 trilhões de reais em investimentos.
Em um ano em que o volume de investimentos feitos por pessoas físicas cresceu apenas 8,7%, na comparação com 2014, as LCAs tiveram um crescimento de 48,3% e as LCIs de 31,8%, perdendo apenas para o Tesouro Direto, que teve alta de 56,8%.
Ainda que o crescimento dos investimentos em títulos públicos tenha sido mais acentuado, o relatório ressalta que o volume de recursos aplicados em LCIs e LCAs somou 226,38 bilhões de reais em dezembro de 2015, saldo muito superior ao do Tesouro Direto, que recebeu 12,25 bilhões de reais em investimentos no último mês do ano.
“Há cinco anos, as LCIs e LCAs eram produtos essencialmente voltados a clientes private [que possuem ao menos 1 milhão de reais em aplicações financeiras], mas esses títulos se popularizaram muito e os bancos tiveram de gerar uma quantidade enorme de lastro para abastecer a demanda no ano de 2015, quando esses títulos foram a ‘vedete’ do mercado”, afirma João Albino, presidente do comitê de private banking da Anbima.
A LCA é um título emitido pelos bancos para financiar participantes da cadeia do agronegócio e a LCI é o título emitido para obtenção de recursos destinados ao setor imobiliário. Em ambas as aplicações, o investidor empresta dinheiro ao banco e é remunerado por isso, enquanto o banco utiliza os recursos captados para emprestá-los a outros clientes.
Para serem emitidos, os dois títulos precisam, obrigatoriamente, ter lastro em operações de crédito voltadas ao setor imobiliário e ao agronegócio e a principal vantagem por trás deles é a isenção de Imposto de Renda (IR), benefício concedido pelo governo como forma de incentivar o crédito aos dois setores.
O presidente do comitê de private banking da Anbima ressalta que as LCIs e LCAs têm oferecido remunerações superiores a de outros investimentos conservadores. Enquanto esses títulos chegam a pagar até 108% da taxa DI (taxa que fica muito próxima à Selic) ao ano, sem a cobrança de IR, investimentos de baixo risco, como o Tesouro Selic e fundos de renda fixa pagam 100% da taxa DI e sofrem tributação.
Além das remunerações atrativas, notícias veiculadas no segundo semestre do ano passado, que diziam que o governo poderia passar a tributar as LCIs e LCAs podem ter contribuído para a maior procura desses títulos, segundo Albino. “Investidores temiam que a isenção de IR fosse retirada a qualquer momento e isso impulsionou a demanda.”
O executivo da Anbima acrescenta que a procura pelos títulos continua altíssima, mas com a crise econômica participantes dos setores imobiliário e de agronegócio têm requisitado menos crédito. Assim, os bancos não têm conseguido gerar um volume de lastro suficiente para poder emitir novas LCAs e LCIs. “A oferta de LCIs e LCAs está limitadíssima, a demanda existe, mas não sei dizer se o lastro atingiu um limite."
Para Albino, a atratividade das LCIs e LCAs é explicada por três características: a alta rentabilidade, possibilitada pela isenção do IR; alta liquidez, já que o valor investido pode ser resgatado em prazos inferiores a um ano (o prazo mínimo de resgate é de 90 dias); e baixo risco, uma vez que os títulos contam com a garantia do FGC, que em caso de quebra do banco emissor reembolsa ao investidor o seu prejuízo, até o limite de 250 mil reais (veja mais detalhes sobre a garantia do FGC)
“Na indústria private não existe um cliente que não pergunte se o banco possui LCAs e LCIs. É impressionante como o fato de serem produtos não tributados mexe com o investidor de alguma forma, chega a ser algo psicológico. E no fim das contas, esses títulos nem são tão mais rentáveis que outros”, afirma Albino, que também é diretor do Bradesco Private Bank.
De fato, reportagem recentemente publicada por EXAME.com mostra que, apesar de LCIs e LCAs contarem com a isenção de IR, no frigir dos ovos, nem sempre elas oferecerem remunerações melhores que outros títulos bancários, como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e Letras de Câmbio (LCs). Confira mais detalhes sobre os títulos emitidos por bancos.
O levantamento feito pela reportagem revelou que a remuneração máxima oferecida por LCIs e LCAs vendidas no mercado em janeiro chegava a 101% do CDI, enquanto a remuneração máxima de CDBs e LCs chegava a 120% do CDI, o que equivale a uma rentabilidade líquida (descontado o IR) de 100,21% do CDI em um ano. Em outras palavras, como os CDBs e as LCs oferecem taxas maiores que as LCIs e LCAs eles podem ter resultados melhores, mesmo com a cobrança de IR.
Poupança ainda é preferida por boa parte dos investidores
A despeito do sucesso feito pelas LCIs e LCAs em 2015, os títulos ainda não são páreos para bater as aplicações feitas na caderneta de poupança, que em dezembro somaram nada menos que 603,58 bilhões de reais, ou um volume 166,6% maior que o saldo das LCIs e LCAs, segundo os dados do relatório da Anbima (que consideraram apenas as cadernetas que possuíam saldo superior a 100 reais).
Entre os clientes de varejo, que são aqueles que têm até 10 mil reais aplicados, 64,7% dos recursos estavam investidos na poupança em dezembro de 2015, ante 3,8% em LCAs e 8,9% em LCIs. Os fundos de renda fixa também se destacaram entre os investidores de varejo, abocanhando 11,6% dos recursos.
Já entre os clientes do varejo de alta renda, que seriam aqueles com mais de 10 mil reais em investimentos, os recursos se dividiram da seguinte forma: 34,7% foram destinados a fundos de renda fixa, seguidos pelos CDBs e RDBs (títulos bancários), que ficaram com uma fatia de 13,3% dos investimentos, e pela poupança, que ficou em terceiro lugar, com 12,65% do volume aplicado.
Ainda no segmento de alta renda, a LCI apareceu em quarto lugar, quase empatada com a poupança, com 12,5% dos recursos investidos em dezembro e as LCAs ocuparam a quinta posição, com 8,9% do volume investido.
Albino, presidente do comitê de private bank da Anbima, avalia que a poupança continua sendo um produto de predileção do investidor de menor renda porque, além de aceitar baixos valores de investimento, é uma aplicação muito fácil, que possui alta liquidez e baixo risco.
Já os clientes de alta renda, por conhecerem alternativas de investimento mais rentáveis e possuírem mais dinheiro para aplicar, já não dão tanta importância para a caderneta.
Apesar de ainda ter uma participação de destaque nas carteiras de investimentos dos brasileiros, aos poucos a caderneta está perdendo seu espaço.
No caso dos clientes de varejo, a participação da caderneta caiu de 68% para 64,7% de 2014 para 2015 e entre os clientes de alta renda passou de 16,8% para 12,6%. A título de comparação, no mesmo período, a participação das LCIs e LCAs passou de 9,9% para 12,7% entre os clientes de varejo e de 17,4% para 20,4% entre os clientes de alta renda.
Albino explica que, com a taxa Selic aos 14,25% ao ano, investidores tendem a migrar para aplicações que acompanham os juros básicos, como é o caso das LCIs e LCAs.
Além de pagar uma remuneração muito superior à da poupança - que rendeu apenas 7,29% no ano em 2015 -, investimentos atrelados aos juros ainda contam com a vantagem de apresentar baixo risco, aparecendo como uma opção mais atraente também na comparação com a renda variável.
"Com as crises econômica e política, o principal objetivo dos investidores em 2015 foi manter seu patrimônio, evitando perdas. Assim, muitos focaram em investimentos de renda fixa e evitaram o mercado de renda variável, já que com a taxa de juro elevada os riscos não compensam”, diz o diretor de private bank do Bradesco.
O relatório da Anbima mostra que entre os clientes de varejo o volume de recursos alocados em ações passou de 1% para 0,7% de 2014 para 2015 e entre os clientes de alta renda, a participação caiu de 3,3% para 2,4%.