Bovespa está barata, diz Geração Futuro
O problema é que, no curto prazo, os riscos de uma nova crise na Europa ou de uma elevação da Selic além da esperada podem atrapalhar quem investe em ações
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2011 às 09h24.
São Paulo -Nos últimos 12 meses, o Ibovespa se manteve dentro da faixa que vai dos 57.600 até os 73.100 pontos. O resultado acumulado em todo o período, entretanto, fica muito próximo do zero a zero, o que deixa frustrado quem comprou ações com horizonte de longo prazo e permaneceu com as mesmas posições durante esses 12 meses. Para o sócio-diretor da corretora e banco Geração Futuro, Wagner Salaverry, o cenário de curto prazo continua complicado para investir em bolsa, mas as perspectivas já são otimistas para quem busca retorno em um horizonte mais longo. "A bolsa está barata", afirma ele. "Não esperamos grandes ganhos no curto prazo, mas tem oportunidades no mercado." Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
EXAME.com - É o momento de investir na bolsa?
Salaverry – Estamos otimistas. Não dá para recomendar a ninguém para sair comprando pesado porque o cenário de curto prazo é ruim, principalmente lá fora. Os Estados Unidos estão indo bem, mas a recuperação da Europa ainda não parece firme. A crise nuclear no Japão e a instabilidade política no Oriente Médio são duas coisas que não ajudam. Outro problema é que no Brasil ainda temos um governo novo e um Banco Central novo que precisam mostrar melhor como pensam a economia. O PIB também já não cresce tanto quanto no ano passado. É esse conjunto de fatores que está mantendo a bolsa de lado há 18 meses.
EXAME.com - Então por que vocês dizem estar otimistas?
Salaverry – Porque a bolsa está barata. Não é hora de sair dela. É um cenário que descrevemos para os clientes como de acumulação. Não esperamos grandes ganhos no curto prazo, mas tem boas oportunidades no mercado. Os grandes bancos, por exemplo, estão sendo negociados a nove vezes o lucro líquido. No caso do Banco do Brasil, esse múltiplo é inferior a 8. Como os grandes banco chegaram a valer 13 vezes o lucro antes da crise de 2008, estamos otimistas com esse setor.
EXAME.com – Desde a crise de 2008, o setor bancário mundial está sendo negociado com múltiplos mais baixos. Será que não aumentou a percepção de risco dos investidores em relação ao setor financeiro como um todo?
Salaverry – Concordo que os múltiplos dos bancos são mais baixos atualmente. Mas a crise também serviu para mostrar que o sistema financeiro brasileiro é sólido. Os lucros dos bancos continuaram crescendo nos últimos anos.
EXAME.com – Quando a bolsa deve voltar a subir?
Salaverry – Quando o mercado entender que a inflação já está sob controle será um ótimo sinal. Neste momento, é provável que a gente observe a volta do investidor estrangeiro. Um pouco mais de otimismo lá fora ajudaria esse movimento a ser duradouro.
EXAME.com – Enquanto isso não acontece, qual é a recomendação?
Salaverry – Entre na bolsa se o perfil do investimento não for de curto prazo. Outra possibilidade de ganho é com volatilidade. O desastre no Japão e a guerra na Líbia aumentaram o sobe e desce do mercado. É possível obter ganhos especulativos nesse cenário. Mas trata-se apenas de uma opinião, não fazemos esse tipo de investimento na Geração Futuro.
EXAME.com – Que outros setores vocês enxergam como promissores além do bancário?
Salaverry – Nos gostamos de energia elétrica. Nossa principal recomendação é a Cemig, que é uma empresa integrada de distribuição, transmissão e geração. Achamos que as empresas de distribuição são as mais arriscadas neste momento porque o governo vai fazer a revisão das tarifas. Periodicamente o governo faz isso para incorporar os ganhos de produtividade das empresas aos valores que serão cobrados de seus consumidores. Ninguém sabe ainda como isso será feito neste ano. O governo adiou a decisão para setembro. O problema é que, em bolsa, incertezas são sempre vistas como risco.
EXAME.com – Mas no setor de geração de energia, também não existe o risco da renovação das concessões em condições pouco favoráveis às empresas?
Salaverry – Achamos que esse risco está concentrado na Cesp e na CTEEP. Essas são as empresas com concessões que devem vencer antes. É importante lembrar que não são empresas que pertencem ao governo federal, que é quem vai decidir como isso será feito. De qualquer forma, achamos que o tema das concessões é um risco para o acionista, mas não é um risco absurdo. É provável que o governo reduza as tarifas para renovar as concessões. O difícil é avaliar qual será essa redução. Não acho que o impacto para o acionista vai ser desesperador.
EXAME.com – E qual é a opinião da Geração Futuro sobre a Vale? É hora de comprar a ação mesmo com todo o risco associado à mudança no comando da empresa?
Salaverry – Achamos que o preço está atrativo. A Vale deve ter um lucro de 35 bilhões de reais em 2011, um recorde em sua história. No entanto, o valor atual de mercado da empresa, de 270 bilhões de reais, é menor do que já foi no passado. Então é outra empresa com múltiplos interessantes.
EXAME.com – Mas a ação não está mais barata justamente porque o mercado teme que a mudança de comando leve a uma queda na rentabilidade?
Salaverry – Não acho que o governo vai querer ser sócio de uma empresa mal-gerida. Eles até podem tocar projetos menos rentáveis após a mudança de presidente. Isso é algo que ainda não sabemos se vai acontecer. Mas nós achamos que o novo presidente vai ser alguém que vai fazer também o que o governo quer, e não apenas o que o governo quer.
EXAME.com – Faz sentido o governo assumir tamanho desgaste para trocar o presidente da Vale e manter a linha de negócio da empresa praticamente intacta?
Salaverry – Alguma coisa deve mudar, é fato. Mas achamos que a saída do Roger Agnelli pode ser explicada também pelo desgaste natural que qualquer executivo sofre após dez anos no cargo. Não acho que o governo vai querer fazer tudo diferente. O Agnelli fez muita coisa boa que deve continuar a ser feita.
EXAME.com – Que outras ações são interessantes neste momento?
Salaverry – Temos um pouco de siderurgia na carteira. Preferimos a CSN nesse setor devido à exposição da empresa ao negócio do minério de ferro. Achamos a empresa mais protegida em caso de aumento do preço da commodity. Outras ações que gostamos muito são Pão de Açúcar, Randon, Ecorodovias, Ultrapar.
EXAME.com – Qual é o resultado dos fundos da Geração Futuro neste ano?
Salaverry - Temos dois fundos de ações, um de dividendos e outro que compra papéis do Ibovespa de forma ativa. O primeiro acumula excelentes resultados. O retorno é de cerca de 25% desde junho, quando foi lançado. No mesmo período, o Ibovespa subiu 9%. Já o outro fundo está no zero a zero neste ano ao mesmo tempo em que a bolsa registra perda de 1%.
EXAME.com – Neste momento, é mais indicado investir em qual dos dois fundos?
Salaverry – Depende do perfil do investidor. O fundo de dividendos é para quem gosta de correr menos risco. Já quem tem um perfil mais agressivo também pode escolher o outro, que investe em papéis como Petrobras, bancos, siderurgia e Pão de Açúcar. Se a bolsa subir, provavelmente esse garantirá um retorno melhor.
São Paulo -Nos últimos 12 meses, o Ibovespa se manteve dentro da faixa que vai dos 57.600 até os 73.100 pontos. O resultado acumulado em todo o período, entretanto, fica muito próximo do zero a zero, o que deixa frustrado quem comprou ações com horizonte de longo prazo e permaneceu com as mesmas posições durante esses 12 meses. Para o sócio-diretor da corretora e banco Geração Futuro, Wagner Salaverry, o cenário de curto prazo continua complicado para investir em bolsa, mas as perspectivas já são otimistas para quem busca retorno em um horizonte mais longo. "A bolsa está barata", afirma ele. "Não esperamos grandes ganhos no curto prazo, mas tem oportunidades no mercado." Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
EXAME.com - É o momento de investir na bolsa?
Salaverry – Estamos otimistas. Não dá para recomendar a ninguém para sair comprando pesado porque o cenário de curto prazo é ruim, principalmente lá fora. Os Estados Unidos estão indo bem, mas a recuperação da Europa ainda não parece firme. A crise nuclear no Japão e a instabilidade política no Oriente Médio são duas coisas que não ajudam. Outro problema é que no Brasil ainda temos um governo novo e um Banco Central novo que precisam mostrar melhor como pensam a economia. O PIB também já não cresce tanto quanto no ano passado. É esse conjunto de fatores que está mantendo a bolsa de lado há 18 meses.
EXAME.com - Então por que vocês dizem estar otimistas?
Salaverry – Porque a bolsa está barata. Não é hora de sair dela. É um cenário que descrevemos para os clientes como de acumulação. Não esperamos grandes ganhos no curto prazo, mas tem boas oportunidades no mercado. Os grandes bancos, por exemplo, estão sendo negociados a nove vezes o lucro líquido. No caso do Banco do Brasil, esse múltiplo é inferior a 8. Como os grandes banco chegaram a valer 13 vezes o lucro antes da crise de 2008, estamos otimistas com esse setor.
EXAME.com – Desde a crise de 2008, o setor bancário mundial está sendo negociado com múltiplos mais baixos. Será que não aumentou a percepção de risco dos investidores em relação ao setor financeiro como um todo?
Salaverry – Concordo que os múltiplos dos bancos são mais baixos atualmente. Mas a crise também serviu para mostrar que o sistema financeiro brasileiro é sólido. Os lucros dos bancos continuaram crescendo nos últimos anos.
EXAME.com – Quando a bolsa deve voltar a subir?
Salaverry – Quando o mercado entender que a inflação já está sob controle será um ótimo sinal. Neste momento, é provável que a gente observe a volta do investidor estrangeiro. Um pouco mais de otimismo lá fora ajudaria esse movimento a ser duradouro.
EXAME.com – Enquanto isso não acontece, qual é a recomendação?
Salaverry – Entre na bolsa se o perfil do investimento não for de curto prazo. Outra possibilidade de ganho é com volatilidade. O desastre no Japão e a guerra na Líbia aumentaram o sobe e desce do mercado. É possível obter ganhos especulativos nesse cenário. Mas trata-se apenas de uma opinião, não fazemos esse tipo de investimento na Geração Futuro.
EXAME.com – Que outros setores vocês enxergam como promissores além do bancário?
Salaverry – Nos gostamos de energia elétrica. Nossa principal recomendação é a Cemig, que é uma empresa integrada de distribuição, transmissão e geração. Achamos que as empresas de distribuição são as mais arriscadas neste momento porque o governo vai fazer a revisão das tarifas. Periodicamente o governo faz isso para incorporar os ganhos de produtividade das empresas aos valores que serão cobrados de seus consumidores. Ninguém sabe ainda como isso será feito neste ano. O governo adiou a decisão para setembro. O problema é que, em bolsa, incertezas são sempre vistas como risco.
EXAME.com – Mas no setor de geração de energia, também não existe o risco da renovação das concessões em condições pouco favoráveis às empresas?
Salaverry – Achamos que esse risco está concentrado na Cesp e na CTEEP. Essas são as empresas com concessões que devem vencer antes. É importante lembrar que não são empresas que pertencem ao governo federal, que é quem vai decidir como isso será feito. De qualquer forma, achamos que o tema das concessões é um risco para o acionista, mas não é um risco absurdo. É provável que o governo reduza as tarifas para renovar as concessões. O difícil é avaliar qual será essa redução. Não acho que o impacto para o acionista vai ser desesperador.
EXAME.com – E qual é a opinião da Geração Futuro sobre a Vale? É hora de comprar a ação mesmo com todo o risco associado à mudança no comando da empresa?
Salaverry – Achamos que o preço está atrativo. A Vale deve ter um lucro de 35 bilhões de reais em 2011, um recorde em sua história. No entanto, o valor atual de mercado da empresa, de 270 bilhões de reais, é menor do que já foi no passado. Então é outra empresa com múltiplos interessantes.
EXAME.com – Mas a ação não está mais barata justamente porque o mercado teme que a mudança de comando leve a uma queda na rentabilidade?
Salaverry – Não acho que o governo vai querer ser sócio de uma empresa mal-gerida. Eles até podem tocar projetos menos rentáveis após a mudança de presidente. Isso é algo que ainda não sabemos se vai acontecer. Mas nós achamos que o novo presidente vai ser alguém que vai fazer também o que o governo quer, e não apenas o que o governo quer.
EXAME.com – Faz sentido o governo assumir tamanho desgaste para trocar o presidente da Vale e manter a linha de negócio da empresa praticamente intacta?
Salaverry – Alguma coisa deve mudar, é fato. Mas achamos que a saída do Roger Agnelli pode ser explicada também pelo desgaste natural que qualquer executivo sofre após dez anos no cargo. Não acho que o governo vai querer fazer tudo diferente. O Agnelli fez muita coisa boa que deve continuar a ser feita.
EXAME.com – Que outras ações são interessantes neste momento?
Salaverry – Temos um pouco de siderurgia na carteira. Preferimos a CSN nesse setor devido à exposição da empresa ao negócio do minério de ferro. Achamos a empresa mais protegida em caso de aumento do preço da commodity. Outras ações que gostamos muito são Pão de Açúcar, Randon, Ecorodovias, Ultrapar.
EXAME.com – Qual é o resultado dos fundos da Geração Futuro neste ano?
Salaverry - Temos dois fundos de ações, um de dividendos e outro que compra papéis do Ibovespa de forma ativa. O primeiro acumula excelentes resultados. O retorno é de cerca de 25% desde junho, quando foi lançado. No mesmo período, o Ibovespa subiu 9%. Já o outro fundo está no zero a zero neste ano ao mesmo tempo em que a bolsa registra perda de 1%.
EXAME.com – Neste momento, é mais indicado investir em qual dos dois fundos?
Salaverry – Depende do perfil do investidor. O fundo de dividendos é para quem gosta de correr menos risco. Já quem tem um perfil mais agressivo também pode escolher o outro, que investe em papéis como Petrobras, bancos, siderurgia e Pão de Açúcar. Se a bolsa subir, provavelmente esse garantirá um retorno melhor.