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'Ventos contrários': nos balanços internacionais a recessão é logo ali

Nos relatórios de resultados do terceiro trimestre, executivos demonstram temor com a escalada da inflação e até onde o bolso do consumidor aguenta os repasses de preços

Balanços: Risco de recessão entra na conta (Scott Olson/Getty Images/Getty Images)
RB

Raquel Brandão

Publicado em 26 de outubro de 2022 às 17h37.

Última atualização em 26 de outubro de 2022 às 17h43.

Recessão com todas as letras ou "ventos contrários", suavizando a forma de descrever o cenário. A verdade é que a perspectiva de um ambiente macroeconômico mais desafiador no mundo é realidade já dada para analistas de mercados e, principalmente, para executivos das companhias.

Na temporada de balanços internacional, que já está avançada, o temor com o ritmo de alta dos preços e a elasticidade da demanda ficou impresso nos relatórios das companhias. "Há ventos contrários significativos imediatamente à nossa frente — inflação insistentemente alta levando a taxas de juros globais mais altas, os impactos incertos do aperto quantitativo, a guerra na Ucrânia, que está elevando todos os riscos geopolíticos, e o estado frágil da oferta e dos preços do petróleo”, escreveu Jamie Dimon, CEO do banco JP Morgan. A instituição financeira norte-americana registrou avanço de receita de 10%, mas o lucro recuou 17%.

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Nesta quarta-feira, 26, por exemplo, o presidente da cervejaria holandesa Heineken , Dolf Van Den Brink, escreveu: "Vemos cada vez mais motivos para sermos cautelosos com as perspectivas macroeconômicas, incluindo alguns sinais de fraqueza na demanda do consumidor". Por isso, mesmo com aumento de 27,5% nas vendas do terceiro trimestre, a ação caiu 5,40% em Amsterdam.

Com ano fiscal de 2023 já iniciado, a empresa de higiene pessoal e limpeza Procter & Gamble (P&G),dona das marcas Ariel, Downy e Oral B, já viu os volumes caírem 3% no primeiro trimestre em todo mundo, depois de precisar repor preços. As vendas do período, que vai de julho a setembro, somaram US$ 20,6 bilhões. Houve um avanço de 9% em preços e 1% por mix de produtos.

"Entregamos resultados sólidos em nosso primeiro trimestre fiscal de 2023 em um ambiente operacional e de custos muito difícil”, diz Jon Moeller, presidente do conselho e CEO da P&G. Ele ainda escreve que os resultados ainda ajudam a manter as projeções de receita e lucro, mas não deixa de citar que são "contínuos ventos contrários significativos".

A fabricante de alimentos Kraft Heinz , que integra o portfólio da 3G Capital, dos brasileirosJorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira e cia, também está prevendo inflação mais elevada. "Espera-se que as realizações de preços e as eficiências brutas mitiguem a inflação aproximada de 20% que prevemos para o ano inteiro", diz a empresa em seu relatório de resultado. As vendas tiveram crescimento orgânico de 11,6%, com avanço de 15,4 pontos percentuais em preço e queda de 3,8 pontos percentuais em volume.

Já a suíça Nestlé , também de alimentos, diz que a cadeia de suprimentos segue reprimida e a elasticidade da demanda é limitada. "Entregamos um forte crescimento orgânico à medida que continuamos a ajustar os preços de forma responsável para refletir a inflação. O ambiente econômico desafiador é uma preocupação para muitas pessoas e está afetando seu poder de compra", disse Mark Schneider, presidente da Nestlé, em seu comunicado. O crescimento orgânico de venda foi de 8,5%, sendo que precificação respondeu por 7,5 pontos percentuais.

Como os gestores brasileiros estão vendo?

A perspectiva entre os gestores brasileiros é de que não há muito como fugir da tempestade que se aproxima. "A recessão nos Estados Unidos e países europeus está meio que dada. Difícil não esperar uma recessão lá fora. A dúvida é a magnitude", diz o gestor de renda variável Leonardo Rufino, gestor de renda variável da Mantaro Capital.

CEO e um dos fundadores da Vinland Capital, André Laport, disse, há cerca de um mês, no Bloomberg Capital Markets Forum, que os Estados Unidos não devem conseguir um "soft landing", ou seja: um controle da escaladas de preços que não machuque demais a economia. A projeção dele é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) suba a taxa de juros para algo em torno de 4,5% a 5% ao ano. Hoje, a taxa de juros nos Estados Unidos está na faixa de 3% a 3,25%.

A economia americana é fator importante para o mercado brasileiro, lembra Sérgio Goldman, da Esh Capital. "O principal fator [para a bolsa] é juros nos Estados Unidos. A gente sabe que vai subir, só não sabe até quanto."

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