Cosplayer em evento em Tóquio: os VAs são ações inventadas no site e não se enquadram nos regulamentos de produto financeiro do Japão (Noriko Hayashi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2017 às 18h03.
Tóquio - Nuko Numano é uma cosplayer japonesa que faz transmissões ao vivo regularmente para seus fãs, mas apenas para o seleto grupo que possui cinco de suas ações, que custam US$ 38 cada. Isso parece pouco, considerando que elas chegaram a ser negociadas a US$ 585 em julho.
A jovem de 23 anos, que se fantasia de personagens de anime e de coelhinha, é uma entre os mais de 60.000 usuários de uma startup japonesa chamada Valu, um cruzamento entre uma plataforma de negociação e um site de financiamento coletivo.
“Pretendo usar os fundos para comprar roupas caras, que eu não poderia comprar anteriormente, e para entrar em eventos internacionais de cosplay”, disse Numano, que não é seu nome verdadeiro.
Qualquer um — de pescadores e celebridades do YouTube a chefs pasteleiros e especialistas em redes sociais — pode vender ações para arrecadar fundos de forma semelhante à abertura de capital de uma empresa. Eles atraem compradores oferecendo presentes e serviços; por exemplo, um blogueiro pode oferecer publicações exclusivas que só poderão ser vistas pelos acionistas; um cosplayer pode compartilhar fotos autografadas.
Com umas poucas regras, tokens — conhecidos como VAs e permutáveis (como era esperado) por bitcoins — são comprados e vendidos como se fossem títulos de verdade. Há altas, quedas e elevações que poderiam ser consideradas como manipulação de mercado.
Tudo é legalizado, porque os VAs são ações inventadas no site e não se enquadram nos regulamentos de produto financeiro do Japão. “Nós trabalhamos com os órgãos reguladores do Japão, e eles nos ajudaram a descobrir o que podíamos e o que não podíamos fazer dentro das leis atuais”, disse Suno Nishiyama, porta-voz da Valu, com sede em Tóquio.
A Valu foi criticada pela imprensa local e por blogueiros famosos, que acusaram um grupo de YouTubers de comprar as ações uns dos outros e de combinar para vendê-las. Depois de se juntar à Valu no mês passado, Hikaru, um dos membros do grupo, publicou no Twitter e no quadro de mensagens da Valu em 14 de agosto que queria fazer algo interessante e “transferir suas ações da Valu em algum momento”. Suas ações dispararam. No dia seguinte, Hikaru e outros dois venderam suas ações, embolsando o equivalente a 54.650.000 ienes (US$ 490.000) e fazendo com que seus tokens VAs diminuíssem de valor.
Embora outros usuários e blogueiros tenham acusado Hikaru e seus amigos de manipular o mercado, Hikaru disse a seus 1,2 milhão de seguidores no Twitter que nunca teve a intenção de lucrar com a Valu e que seu objetivo era encontrar material para seus vídeos.
A Vaz, uma agência de talentos que representa os YouTubers, informou que consultou seus advogados e concluiu que nenhuma lei foi violada e que medidas foram tomadas para compensar os usuários. Hikaru não respondeu a diversos e-mails com pedido de comentário.
Autoridades da Agência de Serviços Financeiros do Japão disseram que a negociação dos tokens da Valu não se enquadraria nas regulamentações de valores mobiliários. O incidente não seria considerado um caso de fraude financeira, de acordo com Koichiro Ohashi, sócio dos escritórios da Greenberg Traurig em Tóquio.
“É um ambiente relativamente fácil para uma nova startup de tecnologia financeira”, disse ele, acrescentando que um esquema similar nos EUA provavelmente resultaria em processos judiciais e em uma análise mais detalhada por parte da Comissão de Valores Mobiliários.