Vale decepciona no 4o tri, mas mercado olha 2010
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de vendas de minério da Vale e o aumento nos custos no quarto trimestre de 2009 decepcionaram participantes do mercado, que aproveitaram a teleconferência da empresa no início desta tarde para entender melhor os números da companhia no final de 2009. Para a analista Cristiane Viana, da Ágora […]
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2010 às 21h53.
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de vendas de minério da Vale e o aumento nos custos no quarto trimestre de 2009 decepcionaram participantes do mercado, que aproveitaram a teleconferência da empresa no início desta tarde para entender melhor os números da companhia no final de 2009.
Para a analista Cristiane Viana, da Ágora Corretora, a explicação da empresa na teleconferência foi suficiente para entender que alguns fatores não recorrentes abateram o lucro, mas que a demanda continua firme e que os preços do minério serão elevados em 2010.
"A teleconferência reforçou a percepção que a gente já trabalhava de uma demanda muito boa, e isso favorece a nossa visão de um ajuste para cima do minério. Mantemos nossa indicação de compra das ações da Vale", explicou.
Em teleconferência com analistas nesta quinta-feira --dia seguinte ao anúncio do resultado da empresa no quarto trimestre, que ficou abaixo do esperado --, executivos da Vale explicaram que os números da empresa foram abatidos por queda de vendas de minério mas também por algumas questões pontuais, como investimentos no Canadá e em ativos portuários no Brasil.
Os executivos da Vale citaram problemas com equipamentos no porto de Tubarão, no Espírito Santo, e obras em dois terminais do porto de Ponta da Madeira, no Maranhão.
"Parte dos fatores são pontuais, e embora tenha ficado abaixo do esperado (o resultado), a demanda e o preço do minério favorecem daqui para frente", avaliou Critiane.
Os executivos da empresa, entre eles o diretor financeiro, Fábio Barbosa, e o diretor de Ferrosos, José Carlos Martins, apontaram na reunião com os analistas um cenário otimista, no qual a demanda está novamente superando a oferta.
"O mercado começou a se recuperar rapidamente, e nós tivemos dificuldade para voltar à plena capacidade. A Europa está voltando mais rápido do que esperávamos. A China está bem acima do nível pré-crise", afirmou Martins.
REVISÕES
O banco UBS informou que deve reavaliar o preço das ações da Vale, depois de considerar os resultados abaixo do esperado em relatório distribuído esta manhã.
"Os resultados questionam nossas expectativas e do mercado, especialmente nos custos", afirmou o UBS.
O analista Antonio Emílio Ruiz, do Banco do Brasil, também informou pela manhã que haveria revisão de projeções. "Mesmo com o aumento do preço do minério previsto para este ano, vou ter que diminuir o preço (alvo da ação). Esperava pelo menos estabilidade no volume de vendas em relação ao terceiro trimestre", avaliou Ruiz.
A receita operacional da Vale totalizou 12,048 bilhões de reais no quarto trimestre, caindo 11,3 por cento em relação aos 13,582 bilhões de reais do terceiro trimestre.
"Me assustou um pouco a queda de venda de minério, mas caiu também cobre e níquel", disse o analista.
A decepção do mercado no início do pregão foi amenizada após a teleconferência, com a as ações passando de quedas em torno de 2 por cento na parte da manhã para alta pouco acima de 1 por cento perto do fechamento.
A corretora Brascan, por sua vez, manteve sua projeção para os preços dos papéis da empresa, alegando que já tinha uma base conservadora por estimar aumento do minério de ferro em 2010 em 25 por cento. A corretora reitera a recomendação de compra das ações da mineradora, diante da expectativa de melhora em 2010.
A Brascan destacou a queda de vendas, mas também ressaltou o aumento de custos e a apreciação cambial como fatores que pioraram o resultado da Vale.
"Considerando os prováveis impactos negativos nas ações da Vale no curto prazo devido aos resultados mais fracos, uma boa oportunidade de compra pode ser criada, visto que mantemos nossa posição favorável ao mercado de minério de ferro", afirmou em um relatório.
A Vale informou na noite de quarta-feira que lucrou 2,63 bilhões de reais, contra 2,44 bilhões de reais há um ano. No exercício completo, no entanto, o lucro da maior produtora de minério de ferro do mundo caiu pela metade, de 21,3 bilhões de reais em 2008 para 10,2 bilhões de reais em 2009, ano em que a crise financeira abalou a indústria do aço e por consequência seus fornecedores de matéria-prima.
A produção da empresa nos últimos três meses do ano somou 63,4 milhões de toneladas de minério de ferro, contra 66,7 milhões de toneladas do trimestre anterior e praticamente a mesma de há um atrás. O mercado trabalhava com volume um pouco acima do terceiro trimestre.
FERTILIZANTES E NÍQUEL
A Vale foi castigada por custos mais altos também por conta dos gastos com a retomada da produção depois de ter desativado minas durante a crise. Greves nas suas operações de níquel fora do país também reduziram possíveis ganhos no ano passado.
"O resultado veio bem abaixo do que eu esperava, apesar de estar em linha com o mercado, provavelmente errei no cálculo do volume de vendas", disse em uma primeira análise Pedro Galdi, da corretora SLW, que previa lucro de 4 bilhões de reais.
Para ele, no entanto, apesar de um balanço decepcionante no quarto trimestre, o futuro é promissor para a Vale.
"O resultado não é positivo, mas o que fica de positivo é o cenário, porque vai vender mais este ano".
Galdi ressaltou que a Vale foi a única grande mineradora a investir durante a crise, ao contrário de suas principais rivais BHP e Rio Tinto, e por isso estará mais prepararda para atender o esperado aumento de demanda pelo produto em 2010.
"A Vale fez a lição de casa e vai ocupar espaços na venda de minério este ano", avaliou.
Ele lembrou ainda que em 2010 a empresa vai contabilizar a sua entrada no promissor segmento de fertilizantes e provavelmente ter mais sucesso com sua área de níquel, cujos preços melhoraram e a produção deve retornar a níveis anteriores.
O ano trará a continuidade da demanda da China e recuperação de alguns mercados castigados pela crise, como Europa e Estados Unidos, o que será somado ao aumento do preço do minério, depois de queda de cerca de 30 por cento no ano passado. Para 2010, a expectativa de aumento se situa entre 30 e 35 por cento.
"A Vale tem tudo para ter um ano excelente", disse Galdi.