O ministro da Fazenda, Guido Mantega: corte de gastos começa a convencer os mercados (Elza Fiuza/ABr)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2011 às 08h46.
Brasília/Nova York - O plano da presidente Dilma Rousseff de diminuir os gastos públicos em R$ 50,1 bilhões está alimentando especulações de que a inflação vai se desacelerar o suficiente para permitir que o Banco Central mude de direção e comece a baixar o juro básico em até 12 meses.
Os negócios com contratos de Depósito Interfinanceiro mostram que operadores de renda fixa enxergam possibilidade de o BC reduzir o juro básico em março de 2012, um ano após elevar a Selic em 50 pontos-base para 11,75 por cento na reunião de hoje, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa do DI com vencimento em janeiro de 2021 ficou 37 pontos-base, ou 0,37 ponto percentual, abaixo da taxa dos papéis para janeiro de 2012, a maior diferença até hoje.
O corte no orçamento promovido por Dilma, que inclui a suspensão do plano para compra de 36 caças militares, vai ajudar o BC a baixar a inflação de 6,08 por cento, o maior nível em 26 meses, disse Marcelo Salomon, economista-chefe para Brasil do Barclays Plc. O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com prazo de 10 anos caiu 43 pontos-base no último mês, comparado a aumentos de 44 pontos-base no rendimento das notas soberanas da Colômbia e de 27 para os papéis mexicano.
A redução de gastos “foi um sinal muito importante de que não só o Banco Central está fazendo algo para controlar a inflação, como também de que o lado fiscal da história irá ajudar”, disse Salomon numa entrevista por telefone de Nova York. “Os mercados estão começando a retirar o prêmio da ponta longa da curva.”
Crescimento menor
A taxa dos contratos de DI com vencimento em 2021 desabou 47 pontos-base em fevereiro, a maior queda em seis meses, após o ministro da Fazenda Guido Mantega anunciar o plano para diminuir os gastos e a maior economia da América Latina mostrar sinais de desaquecimento. A produção industrial retraiu em dezembro em relação ao mês anterior e as vendas no varejo ficaram estagnadas. De acordo com uma pesquisa da Bloomberg, 28 entre 29 economistas esperavam aumento da produção em dezembro.
A estimativa mediana para o crescimento econômico deste ano caiu para 4,3 por cento numa sondagem do BC com instituições financeiras publicada em 28 de fevereiro, contra 4,5 por cento uma semana antes. O Produto Interno Bruto cresceu pelo menos 7,5 por cento em 2010, o ritmo mais rápido em quase duas décadas, disse Dilma ontem em entrevista a um programa de televisão.
“Houve uma mudança de humor no mercado em relação a crescimento”, disse Roberto Padovani, economista chefe do Banco WestLB do Brasil, numa entrevista por telefone de São Paulo. “O bottom line é que há uma reação forte da política econômica e sinais de desaceleração da atividade econômica -- isso mudou o humor do mercado.”
Aviões militares
Mantega disse ontem que uma queda do crescimento para uma faixa entre 4,5 por cento e 5 por cento seria “saudável” e que os cortes no orçamento do governo ajudariam a atingir essa desaceleração.
“Se tirarmos o pé do acelerador, o Banco Central pode tirar o pé do freio”, disse Mantega em entrevista à GloboNews.
A maioria dos 47 economistas sondados pela Bloomberg prevê que hoje o presidente do BC, Alexandre Tombini, subirá a Selic em 50 pontos-base, a mesma proporção de aumento anunciada em janeiro. Cinco dos profissionais ouvidos preveem um aumento de 75 pontos e um dos participantes espera alta de 100 pontos-base. Os operadores do mercado de juros futuros também apostam num aumento para 11,75 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O Comitê de Política Monetária do BC anuncia o novo juro básico hoje depois do fechamento do mercado. O Copom elevou a Selic em 200 pontos-base no ano passado.
O governo reduzirá gastos com defesa, educação, habitação, subsídios e folha de pagamento como parte do plano para diminuir as pressões inflacionárias, disseram Mantega e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, a jornalistas na última segunda- feira. O Brasil adiará a aquisição dos jatos como parte desses cortes, disse Mantega na entrevista coletiva. O País estudava comprar jatos da Boeing Co., Saab AB ou Dassault Aviation SA.