Trabalhador da Sabesp mostra os indicadores de nível de água na represa seca de Jaguary, em Bragança Paulista, interior de São Paulo (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2014 às 14h22.
São Paulo - A revisão tarifária da Sabesp, aguardada e acompanhada de perto pelo mercado financeiro, tem se tornado ainda mais essencial para os resultados da empresa diante da forte seca em São Paulo, que levou a empresa a adotar descontos na conta de água como forma de incentivar clientes a reduzirem o consumo.
Na terça-feira, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) deve divulgar propostas para o preço máximo inicial (P0) e fator de eficiência (Fator X) definitivos usados para determinar o reajuste, e abrirá consulta com convocação de audiência pública.
O processo de revisão tarifária vem se arrastando há algum tempo, e pressionando as ações da empresa. Apesar de analistas do mercado não descartarem novos atrasos, eles ressaltam que o processo se tornou ainda mais essencial para compensar as perdas financeiras da Sabesp com a redução do consumo e desconto para usuários.
"Acreditamos que o novo marco tarifário deva ser o principal catalisador para a ação, mas não descartamos novos atrasos. Os riscos de racionamento não aumentam a pressão sobre o processo de definição de tarifa", afirmou Marcelo Britto, analista do Citi, em relatório.
A Sabesp anunciou no início de fevereiro que dará descontos de 30 por cento na conta de água para os clientes que reduzirem o consumo mensal em 20 por cento, após o Sistema Cantareira ter atingido um nível crítico com calor recorde e falta de chuvas.
"O incentivo está sendo oferecido como uma maneira de evitar o cenário de racionamento. Mas, o incentivo deve reduzir a receita e as margens da empresa", disse o Citi.
Às 12h08, as ações da Sabesp operavam praticamente estáveis, com oscilação positiva de 0,05 por cento, a 22,20 reais. O Ibovespa, enquanto isso, tinha perda de 0,34 por cento.
O Citi acrescentou ainda que "em termos políticos, não acreditamos que os argumentos para um aumento de preço acima da inflação não sejam sólidos", mas que preços maiores, combinados com racionamento poderiam gerar novas manifestações e reduzir as chances do governador Geraldo Alckmin ser reeleito em outubro.
O sistema Cantareira atende cerca de 10 milhões de pessoas nas zonas norte, central e partes das regiões oeste e sudeste de São Paulo, além de cidades da área metropolitana, e seu baixo nível já tem causado decretação de racionamento em cidades do interior do Estado. Nesta segunda-feira, o nível de volume de água contido pelas barragens do Sistema Cantareira era de 19,6 por cento.
"Mesmo após a companhia anunciar um programa, os níveis vêm caindo mais de 0,2 por cento por dia ... Utilizando esse cálculo básico, Cantareira deve fechar fevereiro com apenas 14,9 por cento, perdendo 7,3 por cento de capacidade", estimou o analista Sergio Tamashiro, do J.Safra, em relatório.
O J.Safra considera que o processo de revisão tarifária compensaria parte das perdas financeiras da Sabesp com a redução do consumo, e estima um recuo de 11,7 por cento no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 2014, decorrente da seca e do processo de descontos na conta.
"Não incorporamos, entretanto, a perda financeira em nosso modelo, pois a reguladora pode autorizar seu repasse em tarifas futuras." Já a agência de classificação de riscos Fitch estima que a receita anual da Sabesp irá cair entre 4 e 7 por cento em 2014 devido ao programa de incentivo para redução do consumo, embora tenha destacado que isso não afetará significativamente as métricas de crédito da empresa.
Segundo a agência, os efeitos do programa de estímulo à redução no consumo para consumidores atendidos pelo Sistema Cantareira poderá ser parcialmente minimizado com aumento de faturamento no consumo de água em outras regiões fora do incentivo.