Mercados

Rey, da Guide: “mercado não pensa mais na reforma da Previdência”

Para economista, vai ser mais determinante para os investidores o cenário internacional e a corrida presidencial de 2018

IGNACIO REYS, DA GUIDE: se aparecer um candidato contrário às reformas, o mercado vai reagir (foto/Divulgação)

IGNACIO REYS, DA GUIDE: se aparecer um candidato contrário às reformas, o mercado vai reagir (foto/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 19h07.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2018 às 19h07.

Nesta sexta-feira, presidente Michel Temer aprovou o decreto que determina a intervenção na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Segundo Temer, o decreto entra em vigor “imediatamente”, e é uma decisão para conter a “metástase” do crime organizado que se expande pelo país. A decisão, porém, terá impactos políticos não somente no Rio de Janeiro, mas no país todo. Com o decreto, a Constituição não pode ser alterada, e a Reforma da Previdência, que seria uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) não poderia ser votada. Na teoria, é uma notícia que teria grande influência no mercado financeiro, há meses contando com a reforma da Previdência. Não necessariamente. Segundo Ignacio Rey, economista e responsável pelas análises de economia nacional e internacional da Corretora de investimentos Guide, o mercado já estava cético quanto à aprovação da reforma da Previdência, e está mais preocupado com as eleições. Para corroborar sua visão, até as 17h desta sexta-feira a bolsa caía apenas 0,04%.

Com a decisão do governo de intervir com as Forças Armadas no Rio de Janeiro, a Reforma da Previdência deve ser deixada de lado. Qual será a reação do mercado?

Nos bastidores, a despeito do que os líderes falavam na mídia, a perspectiva para uma reforma da Previdência era cada vez mais difícil. Nós da Guide sempre tivemos uma visão bastante cética em relação a isso. Ainda mais depois que o governo a postergou, no ano passado, para fevereiro deste ano. Na maior parte do mercado o ceticismo vinha crescendo, embora no noticiário o governo ainda afirmava que colocaria a Reforma em votação.

A questão é que o governo precisava de uma narrativa para postergar a Reforma até as eleições, e a decisão de intervenção vem a calhar com esta narrativa de que não vai poder aprovar a reforma. Vai ficar claro nos bastidores e na mídia que a reforma não deve ser aprovada.

No ano passado, quando a votação foi postergada, o mercado não reagiu de forma negativa. Na verdade, a reação foi muito tênue. O índice Ibovespa terminou aquela semana no zero a zero. O mercado não reagiu de forma expressiva à postergação da reforma. Ou seja, não se tinha perspectiva de que ia ser aprovada. A questão da segurança é mais um empecilho para a aprovação da Reforma da Previdência. Mas para alguém que olha pela análise do mercado, não é isso que vai fazer o Ibovespa deixar de andar e o dólar mudar de patamar.

A questão de segurança no Rio deixou de ser somente um problema social e se tornou um problema econômico?

Não sei te dizer qual é o custo em termos econômicos. Mas a segurança é uma questão que afeta o ambiente de negócios do Rio de Janeiro. A questão de insegurança piora o ambiente de negócios, dificulta o cumprimento de contratos, e em último caso diminui o crescimento econômico.

Mas a situação no Rio é uma questão que pode se agravar. Mesmo que tenha a intervenção, que é uma medida extrema, não é de longo prazo. Pode perdurar. Quanto mais tempo perdura, sem uma solução construtiva, maior vai ser o custo em termos econômicos. Ai que reside o problema de saber o impacto. Não sabemos quanto tempo vai durar.

A bolsa e mercados se pautarão mais por questões internas ou externas nos próximos meses?

As eleições deste ano, essas sim, serão importantes para o mercado. A pesquisa DataFolha divulgada neste ano e a condenação do ex-presidente Lula, por exemplo, afetaram o mercado, que vai continuar volátil com as questões internas do país. Por outro lado, o cenário internacional também vai ser importante para a economia brasileira.

Os Estados Unidos estão começando a pensar em subir a taxa de juros. Isso mostra que lá fora passamos por mudanças de política monetária. Tanto é que o Banco Centra do Brasil, mesmo sabendo que é difícil que se aprove a Reforma, segue mantendo a porta aberta para a queda de juros. Levando o cenário em consideração ainda vê espaço para que os juros caiam um pouco mais. Ou seja, nem o BC reagiu de forma expressiva à possibilidade de que a Reforma não seja aprovada.

Parece que o governo vai se focar mais na questão da segurança, em vez de reformas. Como isso pode afetar as previsões econômicas para o ano? E como isso pode impactar eleições? 

A corrida eleitoral vai se tornar cada vez mais importante, e a Reforma da Previdência vai ser cada vez menos levada em conta.  O próximo governo vai ter que endereçar isso. E quem ganhar as eleições deverá prosseguir na agenda de reformas. É isso que diminui a problemática de não ser resolvida agora.

Se não for um candidato de centro com intenção de continuar as reformas, vai ser negativo para mercados. Mas parece que é cada vez menor o risco disso acontecer. A expectativa é que será difícil entrar um candidato com um projeto político e econômico diferentes. Por isso que o índice Ibovespa segue reagindo positivamente, e o dólar segue em níveis comportados. Mas se aparecer um candidato contrário às reformas, o mercado vai reagir, sim. Por enquanto, a previsão é de que o país cresça 3% em 2018 e 2,5% em 2019. O déficit primário para este ano é de 140 bilhões em 2018, e 130 bilhões de reais para 2019.

Acompanhe tudo sobre:Exame HojeGoverno TemerMercado financeiroReforma da PrevidênciaRio de Janeiro

Mais de Mercados

Realização de lucros? Buffett vende R$ 8 bilhões em ações do Bank of America

Goldman Sachs vê cenário favorável para emergentes, mas deixa Brasil de fora de recomendações

Empresa responsável por pane global de tecnologia perde R$ 65 bi e CEO pede "profundas desculpas"

Bolsa brasileira comunica que não foi afetada por apagão global de tecnologia

Mais na Exame