Rei do ferro promete proteger mercado em tempos de volatilidade
Se a maior produtora de minério de ferro do mundo conseguir o que deseja, os dias de fortes oscilações de preços vão acabar
Karla Mamona
Publicado em 21 de maio de 2018 às 14h32.
Última atualização em 21 de maio de 2018 às 14h32.
(Bloomberg) -- Se a maior produtora de minério de ferro do mundo conseguir o que deseja, os dias de fortes oscilações de preços vão acabar.
Após um ano no cargo, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, busca uma abordagem disciplinada, mantendo dezenas de milhões de toneladas inexploradas todos os anos para evitar outro excedente doloroso, como o que derrubou os preços a menos de US$ 40 por tonelada em 2015. Mas se parecer que os preços estão caminhando novamente para mais de US$ 100, como na época do superciclo, ele também está preparado para defender o status quo e liberar essa capacidade ociosa no mercado.
O fato de o executivo de 64 anos sentir que é sua responsabilidade manter um mercado moderado para o ingrediente usado na siderurgia é notável: na semana passada, a Wood Mackenzie identificou a Vale como única produtora capaz de adicionar uma oferta significativa de minério de alta qualidade oriunda das novas operações na Amazônia brasileira.
“Se e quando houver uma mudança no mercado que faça os preços dispararem, a Vale colocará mais produção no mercado”, disse Schvartsman, em entrevista na sexta-feira na sede da Bloomberg em Nova York. Isso aconteceria se os preços “se aproximassem perigosamente dos US$ 100”, disse.
Por enquanto, esse cenário parece distante. Em março, os preços caíram em um bear market porque os investidores estavam preocupados com a demanda mais fraca que a esperada na primavera chinesa, com um estoque recorde acumulado nos portos da parte continental do país e com as crescentes tensões comerciais.
Apesar de o preço ter se estabilizado nas últimas semanas, o patamar de US$ 66,55 ainda está 16 por cento abaixo do pico registrado no fim de fevereiro em meio a temores persistentes em relação aos estoques chineses. Os futuros em Cingapura voltaram a cair nesta segunda-feira, registrando um recuo de 2,7 por cento, maior declínio intradiário em um mês.
O governo australiano prevê uma queda da matéria-prima em 2019 com a estabilização das importações chinesas e as novas minas, como a oferta da S11D, da Vale. Na semana passada, a Wood Mackenzie fez coro à perspectiva comparativamente otimista da Vale, afirmando que o preço de referência permanecerá “confortavelmente acima de” US$ 60 a longo prazo.
Para a empresa com sede no Rio de Janeiro, o ideal é que os preços continuem na faixa atual de US$ 60 a US$ 80. À parte a decisão da Vale de não operar a plena capacidade, esse piso de US$ 60 é respaldado pelos custos elevados de produção das operadoras menos eficientes.
A busca da China por um setor siderúrgico mais eficiente e menos poluente está criando um mercado global de minério de ferro mais segmentado, com pagamentos de prêmios maiores por minérios de qualidade superior. Graças a esse impulso inesperado, a Vale caminha para o terceiro aumento consecutivo nos lucros anuais e ajuda Schvartsman a domar uma carga de dívida que já foi a maior do setor.
Com o bom desempenho das ações e dos títulos da Vale e os dividendos em alta, é fácil entender por que o CEO está satisfeito em produzir 390 milhões a 400 milhões de toneladas por ano em um futuro próximo, embora a empresa tenha uma capacidade nominal de 450 milhões de toneladas.
Mas, se necessário, o excedente está à disposição. “Temos capacidade de levar em três meses até 50 milhões de toneladas de minério por ano ao mercado”, disse ele.
Com pouca experiência direta na mineração antes de assumir o comando da Vale, Schvartsman pegou gosto pelo setor e afirma que quer continuar no cargo após o fim do contrato atual, no ano que vem.