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Receio de Ciro x Bolsonaro no 2º turno paira sobre mercado

O grande receio que vai se desenhando nas mesas de operações do mercado é a possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT

Ciro Gomes: o candidato tem um perfil intervencionista (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Ciro Gomes: o candidato tem um perfil intervencionista (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 6 de junho de 2018 às 15h49.

(Bloomberg) -- A pouco mais de 100 dias das eleições, o grande receio que vai se desenhando nas mesas de operações do mercado é a possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), dois pré-candidatos que aparecem entre os líderes nas pesquisas eleitorais quando o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é retirado dos cenários. Bolsonaro não vem confirmando a ideia de que teria atingido um “teto” por volta dos 20% ou de que não seria competitivo no segundo turno. Ciro, por outro lado, tem vantagem sobre o melhor colocado entre os “reformistas”, o tucano Geraldo Alckmin.

O mercado aguarda pesquisa Datafolha neste final de semana para checar se serão confirmadas as tendências apontadas recentemente por outras sondagens. Na pesquisa do site Poder360 divulgada nesta semana, Bolsonaro tem de 21% a 25% e Ciro de 11% a 12%, quase o dobro dos 6% a 7% de Alckmin. Bolsonaro ainda lidera em todas as simulações de segundo turno. Marina Silva tem aparecido à frente de Ciro em algumas sondagens, mas suas chances são vistas como menores devido à sua fraca estrutura partidária. “O segundo turno entre Ciro e Bolsonaro é uma possibilidade real, se as eleições fossem hoje ambos estariam no segundo turno”, diz Richard Back, analista político da XP Investimentos.

A incerteza do mercado com as eleições, agravada pelo efeito da greve dos caminhoneiros e por um mercado externo menos amigável para os países emergentes, é aguçada pelo fato de nenhum dos dois líderes das pesquisas aparecer como garantidor de continuidade das reformas estruturais, como a da Previdência. Além disso, o histórico de ambos conta com mais ideias intervencionistas do que liberais, aos olhos do mercado.

As dúvidas sobre Bolsonaro persistem mesmo que ele tenha o economista liberal Paulo Guedes como conselheiro e "ministeriável". Guedes tem credenciais acadêmicas, por ser formado em Chicago, e profissionais, mas o mercado teme que, caso assuma a Fazenda, não possua autonomia. Quanto a Ciro, embora o pedetista tenha no currículo uma passagem expressiva pelo PSDB nos anos 90, seu discurso atual, que inclui a promessa de revogar a reforma trabalhista, preocupa.

“O tempo vai passando e nada evolui para reduzir a incerteza eleitoral”, diz Solange Srour, economista chefe da ARX Investimentos. “O cenário não tem mudando muito, o que traz uma certa angústia, as alianças parecem que vão ser feitas muito tardiamente e há muito receio de um segundo turno entre Ciro e Bolsonaro.”

Embora o discurso de Ciro tenha melhorado no que diz respeito ao fiscal, ele tem uma posição pró-estatais, não se sabe o que faria no câmbio e tem um perfil intervencionista, diz Srour. Já Bolsonaro votou contra o cadastro positivo e a favor de pautas fiscalmente irresponsáveis.

Outro aspecto de receio do mercado diz respeito ao temperamento dos dois líderes, vistos como imprevisíveis. “Um ponto que preocupa tanto em Bolsonaro quanto em Ciro é que são pessoas de enfrentamento, que apagam fogo com gasolina”, diz Back, da XP.

Precificação

A questão, para muitos investidores, é o quanto deste cenário Ciro X Bolsonaro já está precificado. Para alguns analistas, a piora do mercado brasileiro, que atinge câmbio, juros futuros e a bolsa, já estaria perto de refletir o pessimismo com a eleição. Outros, contudo, ainda veem muito mais espaço para estresse, que poderia incluir um dólar a R$ 4,00, como ocorreu antes da primeira eleição de Lula, ou acima.

“Dólar a R$ 3,80 mostra um mercado preocupado e começa a entrar no preço a possibilidade de um cenário Ciro X Bolsonaro”, diz Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora. Mercado está “longe, muito longe” de precificar os riscos fiscais e eleitorais, diz Win Thin, estrategista da Brown Brothers Harriman.

Candidatos de perfil mais centrista e pró-reformas tendem a perder ainda mais competitividade após a greve dos caminhoneiros, diz Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria. O movimento revelou o apelo do discurso mais populista no país. “Bolsonaro contra alguém de esquerda, esse é o cenário”, diz o consultor.

A preocupação do mercado só não é maior porque o número de indecisos nas pesquisas ainda é muito elevado, o que sugere amplo espaço para mudança no quadro eleitoral. Também há dúvidas sobre qual será o potencial de transferência de votos de Lula. “Está todo mundo perdendo para os indecisos ainda, brancos e nulos. O principal jogador, que é o eleitor, ainda não está em campo, está no vestiário, colocando o uniforme”, diz Back, da XP.

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