Se o Google tivesse informado que as mulheres representavam 31% de sua força de trabalho, em vez de 30%, poderia ter aumentado valor de mercado em US$ 375 milhões (Arnd Wiegmann/Reuters)
Tais Laporta
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 07h20.
Última atualização em 19 de setembro de 2019 às 07h20.
Em 2014, grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos fizeram algo surpreendente: disseram ao mundo que empregavam poucas mulheres. Os homens representavam 70% da força de trabalho do Google; no Facebook, Apple e Twitter, a proporção era semelhante. O mix era ainda mais desigual no alto escalão e em funções técnicas.
A maior parte do mundo corporativo passou a acreditar que a diversidade da força de trabalho favorece o lucro, e as empresas de tecnologia esperavam que sua nova transparência levasse a uma maior igualdade. Não foi o que aconteceu. Mas novas pesquisas sugerem que os investidores estavam prestando atenção.
Em estudo publicado nesta terça-feira pela Stanford Graduate School of Business, pesquisadores descobriram que os preços das
subiram quando as empresas divulgaram diversidade de gênero acima do esperado; mas as cotações caíram quando as empresas anunciaram dados demográficos que desapontaram.
O mesmo padrão ocorreu quando os acadêmicos avaliaram empresas financeiras. Um experimento de laboratório demonstrou as mesmas tendências, e os participantes relataram várias crenças que explicavam por que eram mais propensos a investir em empresas com mais diversidade de gênero.
O Google foi o primeiro a publicar os números e, após considerar outros fatores, os pesquisadores calcularam que a ação da empresa caiu 0,39 ponto percentual depois da notícia. Os especialistas projetaram que, se o Google tivesse informado que as mulheres representavam 31% de sua força de trabalho, em vez de 30%, poderia ter aumentado seu valor de mercado em US$ 375 milhões. “Esta é uma resposta significativa”, disse Margaret A. Neale, uma das pesquisadores e professora em Stanford.
Os pesquisadores também usaram o Google como referência para ver como o mercado reagia quando as empresas divulgavam mais ou menos diversidade em comparação com um líder do setor. O preço das ações foi “afetado fortemente” quando as empresas eram comparadas ao Google, segundo a pesquisa. Uma empresa de tecnologia cuja força de trabalho era 1 ponto percentual mais diversa do que a do Google registrou, em média, uma valorização de 1,91% das ações no curto prazo.
Depois do primeiro ano de divulgação dos relatórios de diversidade, as ações não reagiram muito, o que Neale atribui ao fato de que a demografia não havia mudado significativamente. “A má notícia já havia sido precificada na ação“, disse Neale.
Depois, os pesquisadores voltaram a atenção para bancos e empresas financeiras. Eles usaram dados de 50 instituições financeiras compartilhados com o Financial Times em 2017. Grandes bancos pareciam ser mais igualitários do que as empresas de tecnologia: as mulheres representavam 54,4% dos funcionários do JPMorgan Chase, segundo o relatório; no Bank of America, a força de trabalho se dividia igualmente. Empresas sem presença no varejo, como Morgan Stanley, são menos diversas.
Os pesquisadores descobriram que ações de companhias com maior diversidade de gênero subiram em relação às empresas que informaram ter menos mulheres, a mesma tendência vista no setor de tecnologia.
As descobertas iniciais não explicaram por que os investidores reagiram positivamente às empresas com mais equilíbrio de gênero; portanto, os pesquisadores criaram um terceiro estudo de laboratório para tentar analisar os motivos. No estudo, simularam o experimento do relatório de diversidade, dando um dólar aos participantes para investir em empresas com base em seus anúncios de diversidade. Como observaram em finanças e tecnologia, os participantes estavam mais dispostos a investir em empresas com mais igualdade de gênero.