Sede da Petrobras: a Moody’s rebaixou o rating da estatal em um nível, para Baa3, o mais baixo grau de investimento (Sérgio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 20h52.
Nova York - Os dias da Petrobras como empresa de grau de investimento podem estar acabando.
Ao rebaixar o rating da empresa petroleira para a beira do grau especulativo no dia 29 de janeiro, a Moody’s Investors Service deu um mês para a companhia apresentar informações que deem mais clareza sobre o balanço para não correr o risco de enfrentar outro corte na nota de crédito.
Seus US$ 3,5 bilhões em títulos com vencimento em 2023 tiveram a maior queda na história.
O rebaixamento mostra a crescente pressão sobre a Petrobras, que sofre em meio à maior investigação de corrupção do país.
A Petrobras não apenas atrasou a divulgação dos resultados não auditados do terceiro trimestre por dois meses, como ainda precisa determinar quanto pagou a mais aos fornecedores que teriam subornado funcionários da empresa em troca de contratos.
De acordo com algumas estimativas, as baixas contábeis poderiam superar dezenas de bilhões de dólares.
“Perder o grau de investimento seria traumático”, disse Michael Roche, estrategista da Seaport Group LLC, por telefone, de Nova York.
A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, disse em um fato relevante no dia 30 de janeiro que mantinha a classificação de grau de investimento. A assessoria de imprensa da empresa preferiu não fazer mais comentários a respeito da mudança no rating.
As metodologias discutidas em uma reunião na semana passada para determinar baixas contábeis “se mostraram inadequadas” e outras opções estão sendo estudadas, disse a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, no balanço da empresa, com data de 27 de janeiro.
Estimativa do Citigroup
Os prejuízos calculados até o momento para o período entre janeiro de 2004 e abril de 2012 são de R$ 4,06 bilhões (US$ 1,51 bilhão), disse a empresa em uma apresentação no dia 29 de janeiro.
Informações adicionais decorrentes da investigação poderão resultar em novos ajustes, disse Foster a analistas em uma teleconferência realizada no mesmo dia. O Citigroup Inc. estimou uma baixa líquida de cerca de R$ 61 bilhões em um relatório do dia 28 de janeiro.
A Moody’s rebaixou o rating da Petrobras em um nível, para Baa3, o mais baixo grau de investimento, citando o temor de a investigação dificultar o acesso da empresa ao mercado para se financiar.
“Nós precisamos de algo que dê clareza em relação à entrega do compromisso que ela tem de entregar os resultados financeiros auditados de 2014”, disse Nymia Cortes de Almeida, analista da Moody, por telefone da Cidade do México. “A cada dia que passa, aumenta o risco de que não entreguem a tempo”.
Embora o status da Petrobras como empresa controlada pelo governo historicamente a tenha ajudado a manter seu rating em linha com o do Brasil, a garantia implícita do governo já não é suficiente para compensar a deterioração, disse ela.
Consequências da Lava Jato
Os ratings devem permanecer em revisão para possível downgrade até que a Petrobras divulgue os resultados auditados ou receba demonstração explícita de apoio do governo, segundo Almeida.
Os bonds e ações da Petrobras despencaram em meio à chamada investigação Lava Jato sobre um suposto cartel de empresas construtoras que por anos fixou ofertas pelos contratos da produtora de petróleo estatal e pagou propinas a executivos.
Desde as prisões, em novembro, de dezenas de pessoas suspeitas de lavagem de dinheiro e outros crimes, os bonds da empresa com vencimento em 2023 perderam 11 por cento, com os yields subindo cerca de 2 pontos porcentuais, para 7,4 por cento. As ações da Petrobras despencaram 40 por cento.
Em março, a Standard Poor’s rebaixou a empresa para BBB-, o mais baixo grau de investimento, após um corte no rating do Brasil. A Fitch Ratings coloca a Petrobras um nível acima, em BBB.
A falta de números de baixas com a investigação não afeta imediatamente a nota da Petrobras, segundo a Fitch.
A agência de classificação “ainda acredita que a empresa tomará as medidas necessárias para cumprir suas exigências contratuais, nomeadamente a exigência de divulgar comunicados financeiros auditados de final de ano”, disse em um comunicado do dia 29 de janeiro.