Por que os bancos caíram na bolsa, apesar dos balanços fortes?
Em 2019, os 3 maiores bancos privados do país sobem menos que o Ibovespa na bolsa. O que está em jogo?
Tais Laporta
Publicado em 31 de julho de 2019 às 07h35.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 11h59.
Depois de Bradesco e Santander , foi a vez de as ações do Itaú Unibanco perderam mais de 3% após a divulgação de resultados sólidos e sem surpresas no segundo trimestre. O mau humor contagiou os papéis dos três maiores bancos privados na sessão de terça-feira. Os lucros cresceram, as carteiras de crédito também e as margens continuam saudáveis. O que explica, então, a reação negativa?
Para analistas, não há um motivo claro para isso. Mas o fato é que, mesmo mantendo números favoráveis, o mercado está mais atento a cada passo dos bancões, diante do avanço crescente da concorrência nos serviços financeiros e das injeções de capital nas fintechs e bancos digitais.
No ano, as ações dos três maiores bancos privados acumulam alta bem abaixo do Ibovespa . Itaú Unibanco PN avança em torno de 6%, enquanto Bradesco PN sobe ao redor de 10% e Santander tem valorização também de 10%. O maior índice da B3 avança mais de 17% no período.
Enquanto isso, as ações do novato Banco Inter vêm surpreendendo com um crescimento acelerado. A small cap já subiu mais de 400% desde sua estreia na bolsa. O último movimento de alta veio com o aporte bilionário do grupo Japonês Softbank, levando as units da empresa a subiram mais de 20%.
Mercado realiza lucros
Maior banco privado do país, o Itaú divulgou um lucro líquido recorrente de 7,034 bilhões de reais no segundo trimestre, um aumento de 10,2% ante o mesmo período de 2018. O banco também anunciou que vai pagar dividendos extraordinários de 0,7869 por ação, com retorno de 2,1% aos acionistas.Ainda assim, a ação recuou mais de 3%.
Carlos Daltozo, diretor de renda variável da Eleven Financial, acredita que a queda das ações após os balanços reflete mais uma realização de lucros seguida do desempenho já precificado, do que uma reação negativa do mercado.
O ponto fraco do Itaú
Os números do Itaú não surpreenderam, na visão do time de analistas da Guide Investimentos. Mesmo com o crescimento da margem financeira e das maiores receitas com prestação de serviços, o balanço trouxe também um sentimento misto.
“Enquanto a carteira de crédito segue tendência de crescimento, essa expansão não faz frente aos concorrentes, e tem apresentado uma piora de qualidade no último trimestre”, escreveram em relatório.
Além disso, os resultados da Rede, braço de cartões do Itaú, vem pressionando as margens do banco no segmento de meios de pagamentos, diante da agressiva concorrência entre as “maquininhas”. Contudo, o desempenho das operações do banco no atacado compensou esse ponto fraco, afirma Daltozo, da Eleven Financial.
PDV e fechamento de agências
Assim como o Banco do Brasil, o Itaú também anunciou um programa de demissão voluntária (PDV), fruto da prevista redução das agências físicas e um foco maior nas operações digitais.
A redução das agências bancárias gera gastos no curto prazo para o Itaú, mas deve melhorar a eficiência no futuro, destacou a equipe da Coinvalores em relatório.
Para o economista especializado em bancos Roberto Troster, o fechamento de agências deve ser visto como positivo e natural. “O núcleo da atividade bancária é cada vez menor, você terceiriza cada vez mais, reduz o custo e melhora eficiência”.
Parte do crescimento da receita de serviços financeiros já vem sendo consumida pelo avanço das fintechs, mas nada que abale as estruturas dos grandes bancos, afirma Daltozo. “Vemos as fintechs avançando, mas ainda não é uma situação que preocupa”. Tanto que a Eleven continua recomendando as ações dos três maiores bancos privados para o curto e médio prazo, tendo o Bradesco como principal indicação.