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Descolado de NY, Ibovespa sobe pelo 4º dia com reforma ministerial e Caged

Com melhora do humor do mercado, só 12 das 82 ações do índice recuam; dólar tem leve baixa após atingir o patamar de 5,80 na máxima do dia

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3  (Germano Lüders/Exame)

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 (Germano Lüders/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 30 de março de 2021 às 09h12.

Última atualização em 30 de março de 2021 às 22h05.

Quadro geral do dia:

  • Ibovespa sobe 1,24%, em 116.849 pontos
  • Dólar comercial cai 0,08% e é negociado em 5,76 reais
  • EUA: Dow Jones recua 0,31%, S&P 500 cai 0,32% e Nasdaq tem queda de 0,11%

Descolado de Wall Street, o Ibovespa subiu mais de 1% nesta terça-feira, 30, no seu quarto pregão seguido de ganhos. O mercado subiu no dia seguinte às trocas ministeriais feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e com dados de criação de emprego acima do esperado. Nesta tarde, o Ministério da Defesa divulgou nota informando que os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica pediram demissão. A notícia, no entanto, não fez preço no mercado. 

"Na verdade, o mercado não reagiu [à saída dos comandantes] porque é um assunto que não implica em grandes mudanças de curto prazo. Não dá para dizer que Bolsonaro perdeu sua influência sobre as Forças Armadas e, mesmo que tenha perdido, militar não tem voto no Congresso", disse André Perfeito, economista-chefe da Necton.

"O mercado está mais interessado em saber se as reformas vão ser aprovadas ou não e aparentemente o Bolsonaro se aproximou do centrão", complementou.

Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro trocou os titulares de seis pastas do governo, conduzindo uma espécie de reforma ministerial. 

Com a demissão do chanceler Ernesto Araújo, do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, e do advogado-geral da União, João Levi, houve uma troca de cadeiras no primeiro escalão.

As mudanças atendem à pressão do meio político em geral, em especial do Senado, e contribuem para melhorar o clima político com o Congresso Nacional, segundo a consultoria política Arko Advice, ouvida pela equipe de research do Banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).

A troca pode influenciar o clima em Brasília em um momento em que o presidente é pressionado para revisar o Orçamento de 2021. A expectativa é de que o Tribunal de Contas da União (TCU) trate do tema e force uma revisão para excluir manobras contábeis e evitar que o presidente cometa crime de responsabilidade fiscal, passível de impeachment – como foi o caso da ex-presidente Dilma Rousseff. 

"O mercado está mais focado na questão fiscal e risco de estouro de teto, então nem deu bola para a notícia de troca de comando nas Forças Armadas”, afirma Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

De acordo com o blog da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a saída do Alto Comando do Exército foi um recado para Bolsonaro de que não cederão ao "impulso golpista" do presidente. No entanto, o analista-chefe da EXAME Invest PRO, Bruno Lima, aponta que o mercado avalia como um "risco de cauda".

"O mercado não considera isso até porque tem suas fontes. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, conversam com o mercado. Se fosse um risco real, já teria reagido mal há mais tempo", disse Lima.

Investidores locais também repercutiram dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados nesta manhã. 

Foram criados 401,6 mil empregos formais em fevereiro, contra uma expectativa de apenas 257,5 mil, o que representa o melhor fevereiro da série histórica iniciada em 1992. Vale lembrar, no entanto, que os resultados podem ser piores no próximo mês, quando a retomada de medidas mais rígidas de isolamento social for contabilizada.

Destaques do Ibovespa

Em variação, as ações do setor aéreo e ligadas ao turismo apareceram entre as maiores altas, em meio a expectativas por vacinação no Brasil e exterior. Os papéis de Embraer (EMBR3), Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) lideraram os ganhos, com valorizações de 9,3%, 8,6% e 6,9%, respectivamente.

Na ponta oposta, só 12 das 82 ações do índice fecharam em terreno negativo, concentradas principalmente em empresas de commodities. Como a primeira e terceira maior queda, figuraram as empresas de papel e celulose Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), com quedas de 3,3% e 1,1%, respectivamente. A PetroRio (PRIO3) apareceu em segundo lugar, com baixa de 2,3%, influenciada pelos preços do petróleo no exterior.  

Os contratos futuros do petróleo Brent, usados como referência pela companhia e negociados em Londres, recuaram 1,6%, indo para 63,95 dólares a tonelada, após o navio Ever Given ser retirado do Canal de Suez na véspera. Analistas apontam, no entanto, que o petróleo deve continuar a trajetória de alta a médio prazo.

Destaque também para a Vale (VALE3), que fechou em queda de 0,9%, pressionada pelo minério. A commodity negociada no porto chinês de Qingdao recuou 0,77% hoje, para 166,58 dólares a tonelada. 

Inflação nos EUA

No exterior, os temores de inflação dão o tom do mercado americano, que opera em queda. Os principais índices futuros americanos operam em terreno negativo após nova alta no rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano – usado como termômetro para medir a inflação. 

A taxa dos treasuries atingiu um novo recorde nesta manhã, ultrapassando a marca de 1,76% à medida que os investidores aguardam atualizações sobre o plano de infraestrutura de Biden, que pode custar cerca de 3 trilhões de dólares. Detalhes do estímulo devem ser divulgados nesta quarta-feira, 31. 

O temor dos investidores é de que a aceleração da inflação – impulsionada por estímulos, vacinas e recuperação da economia – obrigue o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a alterar sua política monetária antes do esperado, subindo a taxa de juros.

Taxas de juros mais altas significam empréstimos mais caros, o que pode afetar o caixa de empresas de tecnologia, que se utilizam deles para crescer. Por isso as ações de empresas do setor são as mais afetadas na bolsa americana, contribuindo para a queda de 0,64% do índice de tecnologia Nasdaq futuro.

A alta no rendimento dos títulos americanos também diminui o apetite ao risco entre os mercados globais, o que fortalece o dólar. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de divisas internacionais, teve alta de 0,38%.

Contra o real, o dólarchegou a superar a marca dos 5,80 reais pela manhã, mas perdeu força ao longo do dia e fechou em leve baixa, com a avaliação relativamente positiva sobre reforma ministerial.

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