Gilson Finkelsztain: "investidor consegue comprar bitcoin, investir em empresa por crowdfunding, mas não pode comprar ações da Microsoft" (Cetip/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 18 de setembro de 2019 às 10h36.
Última atualização em 20 de setembro de 2019 às 12h00.
O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, disse que articula com a CVM para alterar a regulamentação que proíbe pessoas físicas de comprar ações de companhias estrangeiras por meio de BDRs não patrocinados. Hoje, o produto é vedado a quem não possui certificado de investidor qualificado ou tem menos de 1 milhão de reais investidos. Com a mudança, o investidor que não se enquadra nestes requisitos passaria a poder aplicar em até 228 novas ações, que é o número de BDRs não patrocinados, de acordo com o serviço de informações financeiras Economatica. Ao todo, são mais 227 empresas estrangeiras para investir, já que Alphabet, da marca Google, tem dois papeis negociados por BDR.
“Um investidor me disse que pode comprar Bitcoins, investir em empresas por crowdfunding, mas não consegue comprar ações da Microsoft”, comentou Finkelsztain em evento para investidores, na terça-feira (17).
As ações da Microsoft, assim como as da Apple, da Nike e de outras centenas de companhias globais são negociadas na bolsa brasileira, mas apenas para os investidores qualificados, em forma de BDRs não patrocinados.
Os BDRs são títulos de ações de empresas listadas no exterior e emitidos por uma instituição depositária brasileira. Ele é patrocinado quando a operação tem envolvimento da companhia negociada e não patrocinado quando não tem.
“A ação listada nos Estados Unidos é negociada em dólar, então não tem como comprar em reais”, afirmou o professor de finanças da FGV/São Paulo Fabio Gallo. Segundo ele, instituições financeiras compram as ações de uma determinada companhia no exterior e as usam como lastro para emitir títulos em outro mercado, para que elas possam ser negociadas.
“No Brasil, isso é feito por meio de BDRs e nos Estados Unidos por ADRs, que é como os papéis da Petrobras, por exemplo, são negociados no mercado americano”, explicou.
Embora essa seja uma das formas mais comuns de o investidor brasileiro aplicar em ações estrangeiras, atualmente, só existem 5 companhias com BDRs patrocinados no mercado brasileiro, as únicas em que pessoas físicas com menos de 1 milhão de reais podem investir.
Três destas empresas possuem sede em Bermudas, ilha de 65 mil habitantes conhecida por ser um paraíso no meio do Oceano Atlântico. Uma é de Luxemburgo e a outra é um banco da Argentina. Hoje, as BDRs destas empresas são as únicas disponíveis para pessoas físicas que não se enquadram como investidores qualificados.
Na conversa com investidores, o CEO da B3 também disse que negocia com o órgão regulador para que empresas brasileiras listadas em bolsas estrangeiras possam ser negociadas no mercado local por meio de BDRs. Pelas regras atuais, não podem ter BDRs empresas com sede no Brasil ou que possuam 50% de seus ativos ou mais localizados no país.
A regulamentação, portanto, impede que empresas que somente abriram capital nos Estados Unidos, como Stone, Pagseguro ou Netshoes, tenham suas ações negociadas por meio de BDRs no mercado brasileiro. No entanto, nada impede que elas façam dupla listagem para terem suas ações negociadas no mercado local.
Nos últimos anos, a B3 perdeu para bolsas americanas diversos IPOs de companhias brasileiras de tecnologia, como os da PagSeguro e Linx. Há rumores de que a XP seja a próxima a abrir capital somente em Wall Street.