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Pandemia do coronavírus pega setor de construção no contrapé

Segmento era um dos que estava em plena retomada após anos difíceis, mas vem sendo atingido em cheio pelo coronavírus

IPO da construtora Mitre em 2020: após ano que começou otimista, empresas de construção sofrem com paralisações (Mitre/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2020 às 05h49.

Última atualização em 23 de março de 2020 às 14h07.

Dentre os segmentos da economia afetados pelo coronavírus, o de construção tornou-se um invariável personagem. Com os juros na mínima histórica, o segmento era uma das esperanças de retomada em 2020 após cinco anos difíceis entre 2013 e 2018. Agora, empresas estão tendo de paralisar lançamentos e podem precisar suspender as obras em andamento.

Um exemplo é a Tecnisa. Após anos de empreendimentos que não engrenaram, a companhia possuía uma série de lançamentos previstos para esse ano, o que significaria a retomada da lucratividade da empresa em 2020 e 2021.

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A maioria foi adiada. A incorporadora também já suspendeu a construção de estandes de venda, medida que também foi tomada por outras incorporadoras, como a Helbor e a Eztec, que assim como a Tecnisa são listadas na bolsa.

Adiar lançamentos é um custo não desprezível para as empresas. Apesar de a obra não ter sido realizada, houve investimento em terreno e na aprovação do projeto. É um custo que ficará paralisado. Também está ocorrendo uma desaceleração da aprovação de projetos pela prefeitura de São Paulo, por efeito do isolamento provocado pela Covid-19 .

No acumulado do ano, as ações da Eztec registram queda de 42,19%. As ações da Tecnisa caíram 63,97% no mesmo período e os da Helbor, 68%.

A conclusão de analistas da corretora Guide é de que o momento é ruim para as construtoras e suas ações. A corretora não recomenda que investidores se posicionem no setor, assim como no de shoppings. Segundo o analista Henrique Esteter, a visão para o setor antes do avanço da pandemia era muito positiva. “O cenário virou de ponta cabeça, e os juros baixos deixaram de ser um diferencial para o mercado”. Para Esteter, não há perspectiva de melhora para o setor ao menos até o final do ano.

O impacto será naturalmente menor para as construtoras mais capitalizadas e com menor pipeline de lançamentos. Empresas que atuam em segmentos de menor renda, como a MRV, devem ser menos atingidas, na visão de Esteter. “Caso o cenário piore, ela é candidata a ser beneficiada em uma intervenção do governo para socorrer a economia”, diz.

Até o momento o setor de construção não recebeu ordem dos governos para paralisar por completos as obras. A Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC) apenas divulgou uma cartilha com recomendações de higiene e segurança, e o atendimento presencial nos estandes foi paralisado.

Basílio Jafet, presidente do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), diz ainda que uma eventual paralisação completa levaria a dispensa em massa dos trabalhadores, muitos sem qualquer direito trabalhista. “A maioria das empresas do setor atua com empreiteiros. Os trabalhadores ganham por conclusão de etapas da obra”. Além do problema social, Jafet prevê que o fechamento das obras trará também conflitos na negociação entre empreiteiras e empresas.

Na preparação para fazer mais lançamentos, algumas empresas menores também foram à bolsa para aumentar o capital. Duas construtoras até abriram capital no início do ano: a Moura Dubeux e a Mitre.

Ao menos outras seis planejavam IPO para este ano, mas podem adiar as ofertas. Essas construtoras menores podem estar entre as mais impactadas, como a Moura Dubeux, que é mais alavancada. No mês, os papéis da novata na bolsa caíram 68%. As da Mitre, 46%.

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