Os riscos de crise bancária nos EUA e Europa para a América Latina, segundo a Fitch
Bancos da região têm pouca exposição aos bancos que enfrentaram falências no exterior
Repórter de Invest
Publicado em 24 de março de 2023 às 18h50.
Última atualização em 24 de março de 2023 às 18h58.
Duas semanas após a falência do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos, os mercados seguem preocupados com a instabilidade entre os bancos. Após o SVB, o Credit Suisse enfrentou uma crise de confiança que terminou com a compra do banco pelo concorrente UBS. E, nesta sexta-feira, 24, o foco voltou para a Europa com as incertezas caindo sobre o banco alemão Deutsche Bank.
Os efeitos, no entanto, devem ser limitados para os bancos da América Latina, segundo a Fitch Ratings, devido à pouca ou nenhuma exposição direta a esses bancos. “Além disso, os fatores estruturais dos sistemas bancários da América Latina, incluindo níveis significativos de depósitos de varejo estáveis e a duração mais curta das carteiras de títulos, devem compensar ainda mais os riscos dos efeitos de segunda ordem”, afirma, em nota, a agência de classificação de risco.
A Fitch reforça ainda que o histórico de inflação da América Latina levou os bancos centrais da região a apertar a política monetária mais cedo, já em março de 2021 com a liderança do Brasil, o que deve ajudar a limitar as consequências para os bancos latino-americanos.
Ainda assim, as altas taxas de juro devem pressionar a qualidade dos ativos bancários e os custos de crédito. Porém, a Fitch destaca que os bancos sob sua cobertura têm margem suficiente para absorver alguma deterioração.
“Do ponto de vista de financiamento e liquidez, uma política monetária mais rígida resultou em uma desaceleração do crescimento de depósitos para a maioria dos sistemas bancários da América Latina, com desgaste limitado de depósitos. Esperamos que as pressões de liquidez permaneçam dentro das expectativas dos ratings, refletindo um aperto monetário menos agressivo e rápido devido ao aumento proporcionalmente menor nas taxas de juro e aperto quantitativo limitado na América Latina”, afirma a agência.
O que aconteceu com o Silicon Valley Bank?
Na noite do dia 16, o SVB, banco médio americano, conhecido por ser financiador de startups no Vale do Silício, surpreendeu o mercado ao anunciar que pretendia levantar US$ 2,25 bilhões para equilibrar suas contas. O capital extra ajudaria a instituição a lidar com a queima de caixa acelerada de seus clientes em meio a um ambiente de juros altos.
O anúncio gerou pânico nos mercados e os clientes da instituição correram para sacar mais de U$ 40 bilhões de depósitos, gerando a maior crise no setor desde 2008.
A derrocada do SVB é outra consequência da campanha agressiva do Fed em subir juros para controlar a inflação. De um lado, os rápidos aumentos de juros forçam os bancos a pagar rendimentos maiores para reter depósitos.
De outro, o aumento do rendimento dos títulos reduz o valor dos bonds mantidos nos balanços dos bancos, pressionando a sustentabilidade financeira das instituições. O SVB possuía muitos desses títulos, incluindo títulos do Tesouro, e agora estão sentados em gigantescas perdas não realizadas.
Além disso, quando as taxas de juro sobem, as startups têm mais dificuldade em acessar financiamento com os empréstimos ficando mais caros. A combinação de fatores foi responsável pela corrida de resgates no SVB.
O que aconteceu com o Credit Suisse?
Depois do pânico gerado pela falência do SVB, foi a vez do Credit Suisse adicionar doses de preocupação ao mercado. Na terça-feira, 14 de março, o banco afirmou ter encontrado “fraqueza material” em seus balanços e descartou o pagamento de bônus a executivos após o pior desempenho anual da instituição desde a crise financeira global.
Mas a verdade é que, desde 2022, o banco vem fazendo cortes de custos, o que incluiu o fechamento de postos de trabalho. Em 2021, o banco sofreu uma perda de R$ 5,5 bilhões, relacionada ao fundo Archegos Capital Management. O banco também sofreu perdas bilionárias com o Greensill.
A crise de liquidez – e de confiança – foi solucionada com a incorporação doCredit SuissepeloUBS, costura encontrada pelas autoridades suíças para evitar "enormes danos colaterais no mercado financeiro suíço e risco de contágio internacional", como definiu a ministra de Finanças, Karin Keller-Sutter.
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