Mercados

Os fundos com sotaque

Com a mudança das regras, em breve os investidores brasileiros terão a chance de aplicar em empresas estrangeiras, como Google e Microsoft

Funcionário do Google em frente à sede da empresa, nos Estados Unidos: oportunidade de investimento

Funcionário do Google em frente à sede da empresa, nos Estados Unidos: oportunidade de investimento

DR

Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h10.

Banqueiros e analistas em São Paulo e no Rio de Janeiro dizem há alguns anos que o mercado financeiro brasileiro se modernizou e está entre os mais sofisticados do mundo. Não se trata de bravata nacionalista ou jogada de marketing. Por seu tamanho e sua variedade de produtos, é inegável que o setor financeiro no Brasil não faz feio na comparação internacional. Um dos únicos pontos que ainda davam certo ar provinciano ao mercado local era a falta de liberdade para que os fundos de investimento pudessem aplicar no exterior. Isso começou a mudar em abril com uma decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia encarregada de fiscalizar o setor. Fundos brasileiros já podem comprar ações, papéis de dívida pública e privada e contratos futuros e opções de moedas, juros e commodities de qualquer país do mundo.

Por enquanto, a maior parte dos gestores ainda está na fase de ajustar à nova realidade o regulamento dos fundos existentes -- é preciso fazer assembléia de cotistas, estudar os mercados internacionais, contratar corretoras lá fora e prospectar oportunidades. Até agora, são poucos os exemplos de gestores que já passaram por todo esse processo e ajustaram ou lançaram seus produtos -- um dos primeiros foi o fundo multimercado Quest 90, da gestora de recursos Quest, com sede em São Paulo. Apesar dessa demora, ninguém duvida que o cenário deva se transformar nos próximos meses. "É bem possível que em breve os investidores brasileiros tenham a chance de aplicar em fundos que comprem ações de empresas americanas, como Google e Microsoft", diz Rodrigo Xavier, um dos dois chefes da gestora de recursos do UBS Pactual. As vantagens da mudança vão desde poder apostar em oportunidades de negócios em qualquer lugar do mundo até conseguir adotar novas estratégias de diluição de risco. Gestores que acreditam nas perspectivas do setor de petróleo e têm posições na Petrobras, por exemplo, poderão comprar papéis de petrolíferas estrangeiras para evitar que uma queda provocada por questões locais afete seus resultados.

A expectativa hoje é que os fundos multimercados, mais agressivos e generalistas, sejam os desbravadores. "Esses gestores estão acostumados a trabalhar com maior variedade de instrumentos financeiros", diz Régis Lemos de Abreu Filho, diretor da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) e sócio da Mercatto Gestão de Recursos. Como normalmente ocorre com as novidades do mercado financeiro, as novas práticas devem ser colocadas em uso inicialmente nos produtos dirigidos a investidores de alta renda, em geral mais informados. Por enquanto, os gestores mais entusiasmados com a mudança anunciada recentemente pela CVM são os de grandes bancos estrangeiros instalados no Brasil. Eles acreditam que o fato de terem à mão uma estrutura global será uma arma importante para atrair clientes. "Já fizemos uma rodada em Nova York e uma no Chile para detectar as oportunidades", afirma Eduardo Castro, superintendente de gestão de fundos do ABN Amro Asset Management. O lançamento de novos produtos deve vir a seguir. De certa forma, o mercado financeiro brasileiro está vivendo sua fase de abertura dos portos.

As vantagens da mudança
Fundos brasileiros agora podem aplicar no exterior
O QUE MELHORA
- Com a diversificação externa, é possível diminuir a exposição dos investimentos a riscos do mercado interno
- As aplicações em mercados maduros tendem a reduzir a volatilidade das carteiras
- Qualquer oportunidade de ganho fora do Brasil está ao alcance dos gestores
Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Mercados

Ouro fecha semana em recorde histórico, acima de R$ 13,8 mil por onça

Ibovespa inverte sinal e se afasta na máxima histórica

Ações da Bayer disparam após vitória na Justiça dos EUA

B3 divulga 2ª prévia do Ibovespa para janela de setembro a dezembro de 2024; veja como ficou

Mais na Exame